Por que você tem que parar tudo para mergulhar no documentário de Emicida
O nome do blog que iniciou todo o meu processo de produção de conteúdo online é Soul Vaidosa não à toa. Mas buscando essa visão de beleza "holística" —pensando corpo, conhecimento e alma— e como é possível pensar beleza em todos os âmbitos: o que alimenta nossas vaidades físicas, externas, à primeira vista, quando olhamos pra alguém? O que alimenta nossa curiosidade, intelecto? O que é ter uma mente mais bonita? E nosso espírito, como e do que você anda alimentando sua alma?
A música é um dos principais alimentos e acalantos da minha alma e "Emicida: AmarElo - É Tudo pra Ontem", documentário narrado, vivido, dissecado e cantado por Emicida, veio como um banquete de Natal nesse ano que me roubou a pouca esperança na humanidade que restava. Você merece dedicar duas horas da sua vida para mergulhar nesse documentário e eu vou tentar te descrever porquê.
Em 2019, o poeta Emicida lançou seu álbum "AmarElo", com uma musicalidade intensa numa roupagem instrumental rica, como o rap merece. Os clipes lançados a partir dele tinham linguagem cinematográfica. Sozinhos, já eram filmes.
Agora, pra coroar ainda mais esse trabalho, chegou o documentário que perpassa a história do autor, mas também a história de negros e negras artistas e personalidades brasileiras, a história do samba, do hip hop nacional, a história do próprio Emicida, a minha e a sua história enquanto pessoas negras brasileiras.
Com poder de síntese extraordinário, o documentário passa pela nossa história não contada no colégio, excluída dos livros de história há muito tempo, invisibilizando heróis, fatos e histórias protagonizados por pessoas negras. Afinal, naquela época, a branquitude poderia se sentir incomodada com algumas verdades.
Não vou mentir pra você: essas histórias ainda incomodam parte da população que preza pela manutenção de seus privilégios, Barbies fascistas e gente que tem pavor de limpar seu próprio banheiro. E PRECISAM INCOMODAR MESMO!
E a gente é levado a navegar por fatos históricos, figuras e histórias orgânicas, entre uma música e outra, enquanto entendemos um pouco do que levou Leandro a se tornar Emicida sem nunca deixar de ser Leandro.
E, quando a câmera pega detalhes da relação de Emicida com seus amigos, olhos marejados ao perceber que está conseguindo transmitir musicalmente a emoção que queria, pequenas nuances da construção de sua história? Ahhh...
Dizem que chorar em obras audiovisuais é opcional. Pra mim, é uma questão de conexão. E se conectar a uma obra como essa é para os certos, os empáticos, os que buscam ver além.
"Principia", que já era minha canção favorita do álbum todo e uma das favoritas da vida, chega gigante também nessa obra, um abraço, um sonho, uma luz, uma esperança, ou nas palavras do próprio Emicida: "devolvendo a alma de cada irmã ou irmão preto que sentiu que um dia não teve uma".
Orgânico como o doc se propõe a ser desde o começo, termina em 2020 com sonhos adiados, interrompidos e, nem por isso, solitário já que a mensagem é de união através do que nos aproxima, do que temos como semelhança.
Aliás, vibrar com toda essa obra é pra quem tem sorte de internalizar as emoções e informações do que ali foi passado. Eu sou uma dessas pessoas e "presentemente posso me considerar um sujeito de sorte", não vou sofrer no ano passado. Passado esse que dita nossos passos até aqui pra gente não se esquecer de onde veio e não repetir erros cruéis. Mas é pra cima que se olha e é pra frente que se anda.
Muito obrigada, Emicida.
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