Quando a economista Camila Lima Verde Domingues de Oliveira, 33 anos, acordou naquele dia, uma vermelhidão na parte superior do seio direito lhe chamou atenção. O vermelho saiu, mas ficou um caroço que a levou a marcar uma consulta o mais rápido que conseguiu. Era setembro de 2015, ela tinha feito exames de rotina em maio e estava tudo bem. Ela foi refazer exames e ali já percebeu que algo não ia bem, já que os profissionais a “reviravam” muito.
Do retorno ao consultório com os exames em mãos, o médico pediu para que ela saísse dali diretamente para o atendimento oncológico de um hospital em São Paulo. O tumor maligno que ela tinha era extremamente agressivo, era preciso eliminar todas as possibilidades do câncer já ter se espalhado para os ossos, o cérebro ou o pulmão. No dia seguinte, internada, ela comemorava cada vez que alguém da equipe entrava no quarto para dizer o resultado do exame era negativo para algum tipo de metástase. A suspeita é que seu câncer fosse do tipo genético, mas após os exames o resultado mostrou que não, que a causa era totalmente aleatória.
Camila não quis parar de trabalhar. Saia da quimio e da radio e ia para o escritório, a não ser quanto não tinha jeito. Lidar com os problemas da empresa, acabava tirando da cabeça o foco de sua própria doença. Começou a fazer exercícios físicos (se ela fortalecesse os músculos da região a aceitação da prótese após a mastectomia seria melhor), passou a adorar beber água, se alimentar melhor e mantém hoje esses hábitos. Passou por uma sofrida separação, do casamento que já não vinha bem antes da doença ser descoberta.
Retirou e reconstruiu a mama e segue em tratamento com a hormonioterapia. No início deste ano, descobriu precocemente uma mancha na perna que era metástase para os ossos. Também eliminou essa ameaça. Camila sabe que, se um dia quiser engravidar, talvez não possa amamentar. Mas não pensa nisso. “Eu acordei um dia com câncer. Então aprendi a viver o agora, a ter mais empatia. Fiquei mais leve, mesmo que a cada exame tenha receio do resultado. Minha vida é agora”.
Fontes: Equipe multidisciplinar do Hospital Santa Paula: Anezka Ferrari, oncologista; Eduardo Petribu, cirurgião oncológico; Luiz Gonzaga, psicólogo especializado em oncologia; Milena Reis, médica paliativista e Tiago Kenji, oncologista. Moises Chencinski, pediatra e presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo; Letícia Cecagno, Coordenadora de Comunicação Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de apoio à Saúde da Mama - FEMAMA.