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Este conteúdo é uma produção do UOL Content_Lab para Natura e não faz parte do conteúdo jornalístico do UOL. Publicado em Janeiro de 2023

oferecido por Selo Publieditorial

Em um mundo que bombardeia as mulheres de pressões sobre o corpo e o comportamento, a vida acaba cheia de 'eu nunca', com tabus como o impulso de esconder o corpo em momentos que deveriam ser de puro prazer (como passar um dia na praia. Tem como quebrar esse ciclo?

Trocar o 'eu nunca' pelo 'eu já' nem sempre é uma tarefa fácil. No verão, quando muitas pessoas estão mais preocupadas em parecer alguma coisa do que em aproveitar a beleza do que se é, estas mulheres se permitiram experimentar o que nunca fizeram. Elas compartilharam conosco seus atos de coragem - e toda a felicidade que essas experiências trouxeram para suas vidas. Conheça as histórias de Raquel, Flávia, Gui e Emily com seus saltos inspiradores rumo ao desconhecido.

Arquivo pessoal

Raquel Stein, 33, publicitária

Raquel Stein, 33, é uma publicitária carioca que, há quatro anos, migrou para São Paulo em busca de oportunidades de emprego. Depois de fazer muitas conquistas, percebeu que estava extremamente sobrecarregada, e estressada: era preciso fazer uma pausa e recalcular as rotas da vida.

Dona de um espírito muito livre e aventureiro desde criança, Raquel uniu sua paixão por motos, seus conhecimentos sobre publicidade e desenhou para si o projeto Riding for Impact (rodando por impacto). Fez também o mais difícil: tirar o projeto do papel. A carioca decidiu passar 100 dias viajando sozinha de moto pelo país, sempre se conectando a pessoas que fazem projetos sociais.

Ao longo de quase 18 mil quilômetros rodados pelos quatro cantos do Brasil, Raquel fez amizades preciosas com mulheres de todos os perfis, colecionando grandes histórias e aprendizados. A sede por fazer algo pela primeira vez só aumentava, e neste verão ela decidiu fazer mais uma coisa diferente: transformar o amor pela vida off road em esporte. Começou a treinar rally, não sem tropeçar em algumas dificuldades. A primeira tem a ver com seu porte físico: a publicitária de 1,58 metro sempre é vista com desconfiança pelos praticantes da modalidade. "No momento em que batem o olho em mim, falam: 'Ah, ela não consegue. Quem é que está com você mesmo? Tem um cara aqui te bancando, segurando a moto por você? Deixa que eu faço, você não vai conseguir'. Os desafios vão desde me subestimarem por ser pequena e mulher até realmente quererem diminuir o meu autocuidado, por eu fazer algo que me suja, me bagunça. Não tem como ficar impecável no rally. É muito ruim, mas ao mesmo tempo, me sinto muito bonita e feminina até mesmo quando estou toda suja de lama. É muito mais sobre como eu me enxergo do que como os outros me enxergam", conta.

A curiosidade e os novos começos continuam sendo a grande meta de Raquel, que recentemente ficou em pé em uma prancha pela primeira vez, planeja saltar de pára-quedas porque sempre sonhou em voar e continua fortalecendo corpo e mente para praticar o esporte bruto que lhe traz tanta alegria. "Eu realmente não tenho vergonha de não saber, e acho que é por isso que consigo trocar muito com as pessoas. A gente vive num mundo em que todo mundo tem respostas na ponta da língua, todo mundo fala 'eu sei, eu sei, eu sei'. A real é que eu não tenho medo de não saber. E eu acho que vou ser assim pelo resto da minha vida - inclusive no meu trabalho. Se colocar vulnerável, humilde, disposta a aprender e ouvir é um diferencial em um mundo tão cheio de respostas."

Flávia Durante, 45, empresária e DJ

O verão dos sonhos da empresária e DJ paulistana Flávia Durante, 45, começou antes que o nosso: aconteceu em julho deste ano, na Espanha. Apaixonada por dança desde sempre - mas tímida demais para tentar se aventurar na modalidade -, Flavia sentiu o coração palpitar mais forte quando, em 2019, um estúdio de dança foi inaugurado na rua de sua casa. Por ali, ela experimentou de tudo, da salsa à dança do ventre. Mas a segunda palpitação acelerada veio durante uma viagem a Barcelona naquele mesmo ano, quando assistiu a um show da cantora Rosalía e mergulhou de cabeça no mundo do flamenco, dança espanhola tradicionalíssima e pouco comum no Brasil. Mas a empresária tanto fez na volta de sua viagem que conseguiu convencer o pessoal da escola de dança a incluir o flamenco na lista de aulas. Tudo ia muito bem, mas o mundo sabe o que aconteceu em 2020: a pandemia de coronavírus impôs um grande período de isolamento social e aprender flamenco presencialmente já não era uma possibilidade.

Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Flávia esmoreceu na prática da dança, mas continuou imersa no universo de flamenco - fazendo até uma amizade virtual com o coreógrafo catalão Jose Manuel Alvarez, que trabalhou com Rosalía em uma de suas mais importantes turnês. No verão europeu deste ano, Flávia resolveu se jogar de cabeça no mundo do flamenco. Foi à Andaluzia conhecer o berço da tradição e passou por Barcelona, onde fez uma aula de flamenco com Alvarez. "A turma era de dançarinas de nível intermediário e avançado. Aí, fiquei lá acompanhando e babando, fiz até onde aguentei, porque cada um tem seu limite. Mas ele foi super parceiro meu e falou: 'vou a Madrid para o Festival Internacional de Flamenco. Toda vez que apresento esse espetáculo, ofereço um workshop para as mulheres da comunidade e convido as participantes para dançar também na apresentação, junto com as bailarinas profissionais. Você quer participar?'. E aí, como meu lema é 'tá com medo, vai com medo mesmo', falei que lógico, eu ia."

Flávia foi a Madrid e fez dois dias de workshop chorando de emoção. "Que coisa linda, não sabia que meu corpo era capaz de produzir algo tão bonito, mesmo tendo mais de 40 anos, com um corpo que não é padrão. Entendi que não importa. A arte e a expressão estão acima de tudo". Depois, juntou toda a coragem que tinha para participar da apresentação. "Eu simplesmente estreei nos palcos no maior festival de flamenco do mundo, durante San Isidro, uma das festas populares mais simbólicas da Espanha. Com muita cara de pau, participei. Foi incrível - é lógico que não foi uma grande performance, mas entendi que não podia perder a oportunidade. Mesmo não sabendo dançar tanto ainda, estava naquele lugar, com aquele professor, eu vou falar 'não' porque eu sou tímida? Vamos com medo e com vergonha mesmo. E foi uma experiência que nunca vou esquecer na vida."

Agora, ela quer continuar estudando para dançar em festas, sem grandes formalidades. "Quero continuar a me comunicar por meio do meu corpo, da dança e da música, que é o que amo". Sua relação com o corpo ganhou a potência de mil sapateadas flamencas em poucos dias, e ela garante que acabou essa fase de 'eu nunca'.

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Gui Takahashi, 35, jornalista e criadora de conteúdo

A jornalista e criadora de conteúdo Gui Takahashi é a mais pura tradução da frase mais célebre da filósofa Simone de Beauvoir: "Não se nasce mulher, torna-se mulher". Neste verão, Gui deu um passo importante na direção da autoestima e de se sentir ainda melhor na própria pele, mas tudo começou bem antes, em 2017, quando ela deu início a uma transição muito gradual. Naquele ano, Gui passou a se identificar como uma pessoa não-binária. Foi um momento crucial para a construção da própria identidade. "Me defini como não-binária até o momento em que percebi que minha passabilidade era muito mais feminina, e as opressões que comecei a sentir na rua também tinham se tornado mais relacionadas à feminilidade. Então, me assumi como uma travesti, mulher trans."

Todo esse processo lhe deu tempo para também ir entendendo seu corpo. "Entre 2018 e 2020, fiquei sem entrar na água em público. Só usava saídas de praia com shorts. O primeiro maiô foi um desafio, em 2021. Me senti insegura pela falta de seios e por usar uma calcinha trans de 'aquendar', pra não marcar a genitália. Mas, por sorte, eu estava na casa de uma amiga, só entre mulheres. Ou seja, em um ambiente mais receptivo e acolhedor". Agora, em 2022, foi a vez de Gui abraçar seu primeiro biquíni. Ela faria uma viagem pela Europa durante o verão, passando por destinos dos sonhos como Grécia, Itália e Espanha.

"Eu queria registrar aquele momento como uma nova fase da minha vida. Comprei alguns modelos e, na hora de botá-los pra jogo, veio outra neura. Agora, além da questão dos seios e da parte de baixo do biquíni, fiquei reticente de deixar a barriga mais à mostra - e senti uma leve insatisfação com a minha barriga. Sei que estou longe de ser uma mulher gorda e sofrer socialmente com a gordofobia. Mas ali, pude quase tocar a minha insegurança, gerada pelos possíveis olhares alheios, com aquela sensação de ser menos atraente por conta do formato do meu corpo."

Naquela hora, em frente ao espelho do banheiro, Gui respirou fundo e decidiu viver tudo aquilo em que acredita plenamente. "Não poderia deixar uma obsessão por magreza e passabilidade cisgênera internalizada ditar os limites do meu corpo. Botei a cara e o corpo no sol. Ao final do primeiro dia, percebi que as praias que fui eram bem tranquilas, pouco movimentadas, o que me deixou mais em paz. Hoje, no verão brasileiro, consigo botar meu biquíni e estar em lugares até mais movimentados."

Mariana Pekin

Emily Mendes, 32, paulistana, supervisora de trade marketing

No verão do ano passado, a supervisora de trade marketing paulistana Emily Mendes, 32, se viu em um desafio que demandava coragem e envolvia sonhos e companheirismo. Ela mora com o namorado e, na ocasião, ele sofria com dores na lombar que tiveram como desfecho duas indicações médicas para praticar natação. Na tentativa de estimular o companheiro a se exercitar e se curar, Emily disse que a natação poderia ser muito legal para ele - mas não contava com a resposta do mozão: "então você vai comigo". De imediato, a supervisora cravou que não faria natação porque morria de medo, de verdade, da ideia de nadar. Criada em São Paulo, Emily não teve lá muito contato com piscinas, praias, rios ou cachoeiras. "E não fazia parte da minha realidade viajar para um sítio ou uma praia no final de ano, por exemplo", conta.

A conversa sobre a saúde do parceiro rendeu um acordo: Emily experimentaria a prática de natação por uns dias. E assim foi. Ao contrário do namorado, que sabe nadar, ela começou a prática na piscina infantil, por causa da insegurança. "Parece que quanto mais velho a gente fica, mais travado para tentar novas coisas. E isso já começou pela roupa de banho. Pensei 'como vou usar maiô na frente das pessoas?'. Em grande parte da minha vida, fui muito magrinha, mas desde os meus 27 anos, ganhei bastante peso. Meu corpo é bem maior, e fiquei super insegura. Mas fui."

Mariana Pekin Mariana Pekin

Na primeira aula de natação, Emily levou 45 minutos para afundar a cabeça na água - que é o primeiro exercício de respiração. "Eu não conseguia. Fiquei lá no cantinho da piscina me preparando psicologicamente. Fiz uma e foi o suficiente. Fui embora e, nas duas aulas seguintes, tive pequenas crises de ansiedade - de ficar com a coluna travada de tão nervosa. Eu saía com o corpo tão rígido que achava que estava fazendo tudo errado, mas na verdade era puro estresse." De braçada em braçada, e com uma pausa no meio do caminho pelo luto vivido com a perda da mãe, Emily começa seu segundo verão aprendendo a se soltar na água. "Hoje em dia, depois de um ano, faço tudo sozinha e sem supervisão, mas continuo na piscina infantil. E o professor foi muito querido, teve muita paciência comigo - como dá aula para crianças, acho que deve estar acostumado aos processos serem mais lentos."

Apaixonada por praias, a supervisora já sonha em se aventurar nadando no mar. Neste ano, já traçou um bom começo: vai passar o Réveillon em um sítio com piscina. "Antes, estar num lugar assim me causava um pouco de ansiedade, tem aquele medo de alguém te jogar na piscina - que sempre acontece, as pessoas bebem e tal. E era um medo real. Durante um ano novo, me jogaram na piscina e eu fiquei em completo desespero, a água era rasa, mas quase me afoguei por causa do medo." Neste ano, Emily já colhe os frutos de mergulhar em uma atividade desafiadora pela primeira vez: "me sinto mais confiante para estar em ambientes com água e, fora isso, usar uma roupa de banho toda semana me deu coragem para ficar de biquíni na praia - algo que eu não fazia há anos, desde que ganhei 30 quilos. Sinto que a gente tem uma percepção distorcida do próprio corpo quando ele muda, mas agora posso curtir o verão e todos esses momentos." Na última visita à praia, se sentiu agradecida pelo toque do sol em seu corpo livre, leve e solto em um biquini - sem neuras, e liberta de mais um 'eu nunca', já pensando nos próximos.

Em tempo: o namorado de Emily continua nadando - na turma avançada. O convite para a natação era amor, não era cilada.

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