Cada um dos três tipos de câncer de mama tem um tratamento distinto e a grande maioria das pacientes não sabe disso. "Uma paciente informada e que conhece seu corpo, sua doença e seus direitos têm muito mais chances de ampliar o diálogo com seu médico e de participar mais das decisões do seu tratamento", diz Luciana Holtz. "Temos que incentivar esse autoconhecimento e o acesso à informação desde a atenção primária", completa.
É nos primeiros contatos com a equipe do posto e/ou hospital que a paciente encontra ou não a possibilidade de uma jornada mais humanizada e adequada. De acordo com a médica Angélica Nogueira, a SBOC acompanha as residências dos médicos em formação e promove educação continuada com foco em rastreio, diagnóstico e tratamento.
Mapear demanda, infraestrutura, financiamento também é imprescindível, de acordo com o oncologista Nelson Teich. Mais: os governos devem ainda entender melhor como está o acesso ao serviço de saúde, o desenrolar do tratamento e o desfecho clínico das pacientes. Tudo isso pode ser feito com investimento em equipes especializadas e análise de dados públicos.
"A oncologia tem de ser uma prioridade. O governo tem de olhar para as necessidades da população em termos de saúde, levando em conta os determinantes sociais. A partir dessa demanda de cuidado, você tem de ver se sua estrutura é compatível com ela ou não", comenta o ex-ministro da Saúde.
O mapeamento e a análise de informações ocupam papel central porque é através deles que se torna possível determinar quais são as políticas públicas mais necessárias na área da saúde e quais delas estão realmente sendo efetivas. Um exemplo é o próprio Programa de Navegação, uma tecnologia importantíssima, mas que para funcionar exige melhor infraestrutura. "Você não consegue navegar, afinal, em um mar que não é navegável", conclui Teich.
Cabe à gestão pública garantir que o "mar navegável", ou seja, a infraestrutura do país na área da saúde, seja capaz de agregar as novas tecnologias que surgem de forma mais igualitária. "Quando você tem uma infraestrutura baixa, baixo poder econômico, você tem pouca chance de aproveitar a inovação. Porque, para ela, você precisa de recursos humanos cada vez mais qualificados, por exemplo, e isso aumenta o custo, causando maior desigualdade se a gestão não for eficiente. A inovação traz a chance de cuidar melhor. Quem traz acesso, justiça a equidade é o gestor público", defende Teich.
Outra ação que pode melhorar as perspectivas em relação à cura do câncer de mama é a regionalização do atendimento. Regionalizar significa olhar com mais cuidado para cada local, aplicando políticas adequadas às diferentes realidades nacionais. E as macrorregiões de referência devem garantir atendimento completo, incluindo de alta complexidade.
A palestrante e ex-paciente Léia Silva lembra que pequenas ações podem fazer muita diferença. "Por que não há atendimento aos sábados? Por que não um atestado, ao invés da declaração de horas? Porque a mulher não quer ficar com falta no serviço. São pequenas coisas".