#Elasim

Saiba o que Haddad e Bolsonaro falam sobre assuntos femininos em seus planos de governo

Marcos Candido Da Universa

Para saber quais propostas o próximo presidente da República prepara para as mulheres, a Universa analisou o programa de governo dos dois candidatos que disputam o segundo turno: Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL). O levantamento também contou com a participação do Grupo de Estudos de Gênero e Política da USP (Universidade de São Paulo).

A reportagem selecionou oito temas para fazer a análise: mercado de trabalho, educação, saúde, aborto, maternidade, segurança/violência contra a mulher, feminicídio e política. As diretrizes analisadas constam nos programas de governo registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelas duas chapas concorrentes. Propostas que foram apresentadas em debates, entrevistas ou em vídeos de campanha foram desconsideradas.

Até o dia 28 de outubro, os dois candidatos têm a missão de se conectar com as eleitoras. Não à toa, as mulheres foram decisivas no primeiro turno. Pela primeira vez desde a redemocratização, o voto feminino manteve-se diferente ao dos homens em todas as pesquisas de intenção de voto. Mesmo com propostas genéricas, os presidenciáveis precisaram traçar estratégias de campanha para evitar a rejeição feminina. (Leia mais abaixo)

“Além de serem 52% do eleitorado, as mulheres também foram a maioria entre os eleitores indecisos. Isso fez com que os candidatos tivessem que adaptar o seu discurso visando atingir o eleitorado feminino. O fato de termos tido várias vices nas chapas também foi, em parte, uma tentativa de dialogar com o eleitorado feminino”, analisa a cientista política Beatriz Rodrigues Sanchez da USP.

Nos planos de governo ficaram de fora propostas para a área do aborto e educação, que foram analisados anteriormente por Universa.

Conheça abaixo os destaques e acesse na íntegra o programa de governo de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL).

Fernando Haddad (PT)

O programa de Haddad foi originalmente pensado para a campanha de Lula. Com o indeferimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à candidatura do ex-presidente, Haddad assumiu a chapa e, portanto, o plano de governo.

O texto tem um capítulo dedicado a "políticas para mulheres visando igualdade de gênero". Ao todo, são 18 propostas, a maioria delas, relativas a trabalho (8). Neste tema, Haddaad apresenta diretrizes que marcaram a campanha de outros candidatos no primeiro turno, entre elas garantia de isonomia salarial, aumento de vagas em creches e estímulo à concessão de crédito e ao empreendedorismo feminino. 

Na área de segurança, o programa de governo prevê integração e ampliação de serviços de proteção e atenção à mulher vítima de violência, como a Casa da Mulher Brasileira, projeto dos governos Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) que previa a existência de uma unidade da Casa em cada Estado. Atualmente, apenas cinco estão em funcionamento. Há menção em consolidar políticas para enfrentar o feminicídio, citando a Lei Maria da Penha, como também fizeram Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) no primeiro turno. Não à toa, os dois nomes formalizaram ou estão prestes a formalizar apoio ao petista.

Por fim, o programa de Haddad diz que vai promover “o pleno exercício dos direitos sexuais e reprodutivos”, sem, no entanto, detalhar o que são esses direitos e como seriam concedidos às mulheres. 

 Leia na íntegra o programa de governo de Fernando Haddad.

Jair Bolsonaro (PSL)

O programa de Bolsonaro fala duas vezes em diretrizes para mulheres, uma vez na área de saúde (1) e e outra em segurança (1). Na primeira citação às mulheres, afirma que vai “combater o estupro de mulheres e crianças”. O trecho consta no capítulo referente à área de segurança e combate à corrupção.

A segunda proposta aparece na área de saúde. Fala em “estabelecer nos programas neonatais em todo o país a visita ao dentista pelas gestantes”. O texto afirma ter ocorrido redução de partos prematuros onde a política de saúde bucal foi implementada, mas não detalha em quais países o programa foi adotado e quais são os índices de redução de mortes desta iniciativa.

“Há, de fato, relação entre os dois fatores; mas há outras medidas, mais diretas, para diminuir os partos prematuros, como o investimento público em exames de pré-natal e combate ao tabagismo”, afirma Beatriz.

Leia na íntegra o programa de governo Jair Bolsonaro (PSL)

Encabeçado por mulheres, o movimento #EleNão pode ter retraído os votos em Jair Bolsonaro no primeiro turno. O Datafolha mostrou que o capitão da reserva manteve uma rejeição de cerca de 50% das mulheres durante toda esta etapa da campanha.

“O fato de o candidato não ter sido eleito já no primeiro turno tem relação direta com a mobilização de mulheres expressa na campanha #EleNão, que demonstrou para a opinião pública os riscos que um eventual mandato de Bolsonaro representaria para as mulheres, principalmente negras e periféricas”, explica a cientista Beatriz da USP.

Bolsonaro encontrou resistência das mulheres por falas consideradas machistas desde que se tornou deputado federal, em 1991. Adversários como Geraldo Alckmin (PSBD) relembraram a agressão do candidato contra a então deputada federal Maria do Rosário (PT), em 2003, no qual Bolsonaro afirmou que não estupraria a parlamentar porque ela não mereceria. O militar foi condenado pela Justiça a pagar R$ 10 mil para Rosário.

Uma fala do vice de Bolsonaro, Hamilton Mourão (PRTB), também pode ter aumentado a rejeição das mulheres. Em um evento fechado, Mourão afirmou que famílias formadas por mães solos e avós são “fábricas de desajustados”. Naquela mesma semana a rejeição se manteve estável com 49%, mas oscilou na pesquisa Datafolha da semana seguinte para 52%, a porcentagem de rejeição mais alta na campanha.

Já a rejeição e a intenção de voto em Haddad cresceram entre as mulheres na medida em que as intenções gerais de voto no candidato também aumentaram. O ex-prefeito de São Paulo entrou na campanha no dia 11 de setembro para substituir Lula, impedido pelo TSE de participar do pleito.

Divulgado nesta quinta (11), o Datafolha sobre o segundo turno mostra que 42% das mulheres consultadas declararam apoio a Bolsonaro e 39% em Haddad. Os dois estão tecnicamente empatados na margem de erro de dois pontos percentuais da pesquisa. 

Enquanto o petista mantém votos equilibrados entre homens e mulheres (33% eles; 39% elas) na intenção de voto, 57% dos homens pretendem ir de capitão da reserva no segundo turno, contra 42%. Os números consideram brancos e nulos. 

Na mesma pesquisa de intenção, 18% das mulheres afirmaram voto nulo, branco ou que ainda não sabem em quem irão votar no segundo turno. Apenas 11% dos homens se declararam indecisos ou de que irão anular o voto. 

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