Isabella, 24 anos, jornalista
"Até as palavras que falam do corpo feminino são consideradas pejorativas. Eu tento falar bastante buceta, porque ninguém tem que se chocar com uma palavra que me descreve."
Falar em liberdade sexual para as mulheres neste momento só é possível por uma construção social e política que vem desde a Revolução Sexual -- datada de 1960, a partir dos Estados Unidos -- e vai além do que as jovens de hoje estão experimentando na cama. "Há mudanças sociais e políticas que interferem no sexo e mudanças no sexo que interferem no todo", diz Regina Facchini. É como se o que observamos fosse uma herança da transgressão de gerações anteriores. É assim: se você transa melhor agora, consegue dizer não e tem uma relação de paz com o próprio corpo, talvez seja porque sua mãe e avó tenham aberto caminhos pra você.
"A Revolução Sexual é um pontapé para a tal liberdade que as jovens usufruem hoje. O que há, primeiramente, é uma continuidade dos ideais libertários daquela época", explica Regina. Essa Revolução tem muito a ver com pílula anticoncepcional, mas também com a entrada das mulheres no mercado de trabalho no Pós-guerra. Tem a ver com a sexologia, que começa a investigar o prazer sexual, e o movimento feminista, que se coloca apontando a regulação da sexualidade das mulheres como uma questão a ser combatida.
Pensando em Brasil, é importante lembrarmos da geração Leila Diniz, a de mulheres próximas ao feminismo que já falavam de sexualidade, amor livre e direito ao prazer lá no início dos anos 1970. Considerada à frente de seu tempo, Leila quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o país. A atriz escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia de Ipanema e chocou quando em uma entrevista disse: "Você pode amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo". Leila se tornou símbolo de liberdade feminina.
"Até as palavras que falam do corpo feminino são consideradas pejorativas. Eu tento falar bastante buceta, porque ninguém tem que se chocar com uma palavra que me descreve."
"Ou você é uma santa que não transa ou é 'transona' e, por isso, vadia. Não existe um meio termo. A sociedade não é razoável quando falamos de mulheres e sexo."
"É eu saber que minhas vontades importam, sim. E é também eu me sentir totalmente confortável com elas, sem me intimidar em botá-las em prática."
"Liberdade sexual é eu permitir me conhecer. Depois, tentar fazer o que realmente quero, o que de fato me excita, independentemente do que o outro vai pensar."
"É eu poder falar não, mas também não ser cobrada pelo que fiz antes. Se num passado quis transar com todo mundo e hoje não quero, isso não pode ser problema."
"Liberdade sexual pra mim é poder falar não; é eu saber que sexo é parte do ser humano, é parte da minha vida e não é porque eu sou mulher que vou deixar de viver isso."
"Não é necessariamente eu dar para mil caras; não encaro liberdade sexual assim. É eu procurar fazer o que quero -- seja fazer sexo ou não."
"É quando você entende que existe amor próprio. A gente vive num mundo onde o sexo acaba quando o cara goza; comigo não, comigo acaba quando nós gozamos."
"Liberdade sexual para mim é eu me sentir livre para me agradar, antes de me preocupar em agradar outra pessoa."