Por causa de sua atuação na defesa dos animais, Luisa invariavelmente se vê envolvida em questões políticas -- e espúrias -- do país. Como regra geral, briga muito, escuta insultos, descobre novos descalabros parlamentares e, infelizmente, consegue parcos resultados.
Sua mais recente participação nesse universo é a briga para que seja proibido o transporte de animais vivos; prática, segundo Luisa, que maltrata especialmente bois. Os bichos, ela conta, são amontoados em caminhões e navios por horas, levam choques, por vezes, caem no mar e, durante as viagens, o que é ração e fezes, vira a mesma coisa.
"Os deputados que são contrários ao fim dessa política têm benefícios diretos com ela. O vice do João Doria (ao governo de São Paulo, deputado Rodrigo Garcia, do DEM), que fala que o nosso projeto é um absurdo, é um dos maiores exportadores de carga viva. Eu fico pensando como que um cara, que deve ter filhos e que mora nesse país quer envenenar nossa comida, nosso solo, nossa água", ataca Luisa.
Em fevereiro deste ano, cerca de 25 mil bois foram embarcados no Porto de Santos com destino à Turquia, após um embate que envolveu o Tribunal Regional Federal e a Advocacia Geral da União. Os ativistas, Luisa Mell incluída, denunciaram que os animais sofriam violências físicas e estavam em condições precárias de higiene.
Na sequência, o deputado Feliciano Filho (PRP) apresentou na Assembleia Legislativa, o Projeto de Lei 31, que ficou conhecido como o "PL dos Bois", que visa a impedir o embarque de carga viva no Estado. Houve parecer favorável em algumas comissões e o projeto seguiu para votação no começo de julho. Porém, durante três semanas, as votações foram adiadas, até que decidiu-se adiá-las para depois das eleições presidenciais. "O transporte de carga viva continua acontecendo porque, desse modo, os pecuaristas não pagam impostos aqui", denuncia Luisa.
Luisa Mell estava entre os muitos ativistas que marcaram presença ferrenha na assembleia. "Me envolvi num pau porque um deputado falou: 'essas pessoas que ficam falando nas redes sociais vão ter benefícios próprios, para seus próprios institutos'. Eu quase fui expulsa (da assembleia), porque comecei a gritar: 'agora você vai provaaaar o que está falaaaando!!'. Eles medem os outros pela sua própria régua."
Três vezes por semana, durante seis semanas, os ativistas foram à assembleia para pressionar os deputados. Mas, segundo Luisa, foram feitas manobras, como emendas e falta de quórum, para evitar que o projeto fosse votado.
Agora sou a inimiga número 1 dos deputados. Só porque eu mostrei que não tinha ninguém trabalhando numa quarta-feira. Eles podem votar não, têm o direito de ser contra. Agora, não votar? Fazer as manobras mais imundas, por quê? Mesmo os que falam que estão nos apoiando, na verdade não estão; ficam jogando para não se comprometer. Para não perder voto daqui nem o dinheirinho de lá."