Topo

FAQ


Sexo lésbico transmite ISTs? Devo usar camisinha? Entenda como se prevenir

Sexo entre duas pessoas com vagina pode transmitir ISTs e é preciso se prevenir, apesar da falta de produtos disponíveis no mercado, diz gnecologista - iStock
Sexo entre duas pessoas com vagina pode transmitir ISTs e é preciso se prevenir, apesar da falta de produtos disponíveis no mercado, diz gnecologista Imagem: iStock

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

07/07/2021 04h00

"Muitas mulheres lésbicas passam anos sem ir a qualquer profissional de saúde e, quando vão, não conseguem falar sobre sua sexualidade, porque a primeira pergunta é: 'Que método você usa para prevenir uma gravidez?'. Muitos médicos sequer consideram que a paciente não se relaciona sexualmente com homens", narra a ginecologista e obstetra Patrícia Carvalho, especialista em saúde de pessoas LBT (lésbicas, bissexuais e transexuais).

Como resultado, ela diz, a Universa, mulheres heterossexuais vão muito mais ao ginecologista do que mulheres lésbicas, que acabam, muitas vezes, não sendo avaliadas por um profissional de saúde e não recebendo orientações importantes, como sobre prevenção de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) — afinal, também é possível se infectar no sexo entre duas vulvas.

Por isso, com a ajuda de Patrícia de Carvalho, Universa responde a oito perguntas sobre prevenção de ISTs no sexo entre duas vulvas (ao longo da reportagem, vamos nos referir ao sexo lésbico como sexo entre duas vulvas porque homens trans também têm vagina e, neste caso, trata-se de um casal heterossexual).

Transmissão de ISTs no sexo entre vulvas: entenda

Existe transmissão de ISTs no sexo entre vulvas? Quais são as principais?

Sim, o sexo entre duas vulvas pode transmitis ISTs.

A transmissão acontece sempre por meio de uma secreção e de uma fissura na pele. Se uma das pessoas tem uma mucosa com algum corte ou espaço aberto e entra em contato com uma secreção ou sangue, pode haver transmissão de ISTs.

As infecções mais comuns transmitidas no sexo entre duas vulvas são HIV, hepatites B e C, sífilis, HPV, gonorréia, clamídia e tricomoníase.

O risco de transmissão é menor no sexo entre duas vulvas?

Não. Não existem estudos que meçam se o risco de transmissão diminui no sexo entre duas vulvas. A diferença é que, neste caso, não há sêmen, que é um importante fator na transmissão de ISTs, mas a transmissão pode acontecer de outras formas, por contato ou secreção, como foi explicado acima.

Quais são os principais fatores de risco de transmissão de ISTs?

Compartilhar objetos, como dildos e vibradores, sem higienização prévia ou uso de camisinha e não usar métodos de barreira (explicados abaixo). Práticas com maior chance de lesão também aumentam o risco de transmissão, já que podem causar fissuras ou pequenos ferimentos que, eventualmente, estarão em contato com uma secreção de outra pessoa. "Por exemplo uma penetração mais forte e sem lubrificação" explica Patrícia.

Outro fator que aumenta o risco de transmissão de ISTs é o número de parceiros ou parceiras que as pessoas envolvidas têm: quanto maior o número de parceiras ou parceiros sexuais, independentemente do gênero, a mulher está mais exposta a contrair e transmitir uma IST.

A prevenção é necessária em todas as relações sexuais?

Sim, a prevenção de ISTs é importante em todas as relações sexuais.

No sexo entre duas vulvas, a prevenção se faz necessária especialmente para evitar o contágio po HPV, que é uma das principais causas do câncer de colo de útero — este câncer costuma aparecer entre a 4ª e a 6ª década de vida de mulheres previamente saudáveis, quase sempre resultados de uma infecção por HPV anos antes.

Quais são os melhores métodos de prevenção durante o ato sexual?

No sexo lésbico, a prevenção de ISTs é feita através de métodos de barreira — mas, explica Patrícia, por falta de itens no mercado desenvolvidos especificamente para a relação sexual entre duas vulvas, a recomendação é fazer adaptações de métodos utilizados no sexo que envolve pênis. "Na prática, isso acaba limitando muito o uso de qualquer prevenção", lamenta.

"Seria maravilhoso se existissem métodos mais específicos. Como uma mulher lésbica e uma ginecologista que atende essa população, percebo que, por falta de produtos específicos, a prevenção não acontece na prática. Infelizmente, ninguém usa".

Como fazer a prevenção?

Uma das opções é pegar um preservativo comum, cortar o aro e a ponta até resultar em um retângulo de látex, que pode ser usado no sexo oral, entre a língua e a vagina. No caso de penetração com objetos, como dildos e vibradores, o ideal é usar preservativo e trocá-lo ao compartilhar de uma pessoa para a outra.

Além da prevenção durante o sexo, existem outras formas de evitar ISTs?

Sim. Cuidados com a higiene pessoal, como manter mãos limpas, unhas limpas e aparadas, acessórios higienizados antes e depois do uso, além de realizar exames sorológicos frequentemente são algumas das opções para prevenir a transmissão de ISTs antes e depois da prática sexual.

"A melhor forma de prevenir uma IST é ter conhecimento sobre o próprio corpo e liberdade para falar sobre sexo — ou melhor, unir esse autoconhecimento a uma conversa sincera sobre a prevenção e a transmissão de ISTs e o uso de métodos de barreira"

Com que frequência devem ser feitos os exames sorológicos?

O recomendado é que sejam feitos os exames de rastreio uma vez por ano, especialmente os que detectam as principais ISTs transmitidas no sexo entre vulvas, além do Papanicolaou. A médica alerta que os exames de rastreio e o Papanicolaou são tão importantes para lésbicas quanto para mulheres heterossexuais.