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Bateu saudades: estes rituais dão novos sentidos e ajudam a lidar com morte

Anoitecer do Día de los Muertos, em San Agustin Etla, Oaxaca (México) - Getty Images
Anoitecer do Día de los Muertos, em San Agustin Etla, Oaxaca (México) Imagem: Getty Images

Colaboração para Universa

03/11/2022 10h41

No Brasil, o Dia de Finados é uma data típica de honra aos familiares que já partiram. É, também, um dia marcado pela saudade que, para muitas pessoas, pode se traduzir em tristeza. Porém, em uma cultura bem próxima à nossa, a morte é vista com alegria e o dia 2 de novembro possui ritualística festiva, colorida e repleta de festejos. Estamos falando do México, que tornou o Día de Los Muertos uma data típica de sua cultura e famosa mundialmente pelos símbolos cultuados no dia, como as caveiras coloridas e as flores.

É, também, no México, que se fortaleceu o culto à Santa Morte, uma figura que tem origem pré-hispânica dentro das culturas ancestrais mesoamericanas. Seu advento ocorreu através de Enriqueta Vargas, que se tornou propagadora do culto à divindade após seu filho ser assassinado por um grupo armado no ano de 2008, em Tultitlán, região com bastantes casos de violência. Embora seja um culto bastante forte no México, não é reconhecido oficialmente pela igreja católica.

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"Dentro dessa cultura percebemos que a visão dos mortos é, ancestralmente, diferente da que temos hoje no Brasil. Ainda que não exista nenhuma comprovação antropológica, há uma especulação espiritual e simbólica que aponta para a possibilidade de Santa Morte ser uma sobrevivente do culto ao casal Mictecacihuatl e Mictlantecuhtli, respectivamente o senhor e a senhora do Inframundo", explica o feiticeiro e devoto de Santa Morte, Júlio Archanjo.

Júlio Archanjo é devoto de Santa Morte - Claudia Vasconcelos  e Júlio Archanjo - Claudia Vasconcelos  e Júlio Archanjo
Júlio Archanjo é devoto de Santa Morte
Imagem: Claudia Vasconcelos e Júlio Archanjo

Ele conta que Santa Morte é uma grande mestra das culturas pré-hispânicas e ameríndias, que já existiam juntamente com o culto católico. Hoje ela faz parte de diferentes formas e práticas espirituais ao redor do mundo, representando um ponto de conexão com a visão da ancestralidade em relação à morte.

A eternidade da morte

"Em primeiro lugar, Santa Morte ensina que, assim como a vida tem muito poder, a morte também tem. Portanto, é uma divindade que vai ensinar a lidar com partidas, com a transformação de todas as coisas. Com a Santíssima, as pessoas podem se abrir para entender a morte para além da ceifadora que leva as pessoas. Ela é, também, aquela que acolhe. Aqueles que se conectam com ela podem sofrer um pouquinho menos ao entender a transitoriedade das coisas e a eternidade que existe para além da matéria", conta Júlio.

Segundo o feiticeiro, todos podem e inevitavelmente vão se conectar com Santa Morte em algum momento. Porém, ele acredita que trabalhar com a divindade não seja algo que todos estejam preparados para fazer. Afinal, é preciso estar disposto a transformar certas crenças e se aprofundar nos mistérios dessa força.

"É inevitável porque a morte virá para todos. E, quando nós olhamos para ela como uma potência divina, percebemos que uma simples oração ou um diálogo com essa força pode mover muitas coisas. De toda forma, ela virá nos buscar em algum momento e, quando isso ocorrer, não terá preconceitos ou julgamentos. O simples ato de fechar de olhos transformará uma vida inteira. Porém, isso causa medo em algumas pessoas", reflete.

Santa Morte - Claudia Vasconcelos  e Júlio Archanjo - Claudia Vasconcelos  e Júlio Archanjo
"Santa Morte ensina que, a vida tem muito poder, mas a morte também"
Imagem: Claudia Vasconcelos e Júlio Archanjo

A Santa Morte possui diversas facetas que trabalham todos os atributos da morte. Júlio explica que as formas principais de culto se apresentam através de cores. Temos a Santa Morte Negra, que trabalha a proteção e a quebra de magias; a vermelha, que trabalha os aspectos de paixão, amor e energia vital; a branca, também chamada de La Niña Blanca, que trabalha a devoção e a espiritualidade, muito chamada para causas complicadas; a amarela, conhecida como La Santíssima Dorada, que trabalha a prosperidade, os negócios e a abertura de caminhos; e a verde, que trabalha aspectos de justiça e saúde.

"Trabalhar esses diferentes aspectos é algo muito importante, porque nos lembra que o lugar para desfrutar das coisas terrenas é a Terra. Com isso, percebemos que Santa Morte resgata a visão curadora da morte, diferente do que temos como base religiosa, que diz que a morte é onde tudo se acaba e onde se espera um julgamento. A morte, na verdade, é o início de uma jornada muito mais profunda. Ela é a grande coroação de uma vida bem vivida", acredita o devoto.

Dia de Finados

Santa Morte permite enxergar o Dia de Finados como o dia do retorno, quando a conexão com nossos ancestrais se torna mais íntima e integrada. Os festejos típicos são preparados semanas antes do Día de Los Muertos e é quando um altar com foto dos ancestrais é montado, flores das cores da divindade são colocadas pela casa e quando as comidas preferidas dos antepassados são preparadas com muito amor.

Para Júlio, isso permite entender que o ato de recordar lembranças e festejar as pessoas amadas é o principal dessa cultura. Portanto, é um convite para celebrarmos aqueles que já foram e entender a morte como um verdadeiro portal, que não tira nada de nós, mas torna o que temos eterno.

Santa Morte - Claudia Vasconcelos  e Júlio Archanjo - Claudia Vasconcelos  e Júlio Archanjo
Santa Morte permite enxergar o Dia de Finados como o dia do retorno
Imagem: Claudia Vasconcelos e Júlio Archanjo

"Uma das coisas principais que o Día de Los Muertos e a Santa Morte nos ensinam é que devemos festejar com aqueles que estão presentes em carne e ossos, bem como com aqueles que estão presentes em memórias. É importante aproveitar essa data para lembrar dos que partiram, sim, mas com felicidade. Independentemente de religião, ofereça sua oração para eles e aproveite para se conectar com sua ancestralidade", indica.

Ritual para Santa Morte no Dia de Finados, por Júlio Archanjo

Você precisará apenas de uma vela branca e, se quiser, fotos dos seus antepassados.

Na vela, escreva seus sobrenomes.

Depois, acenda-a e peça para La Niña Blanca abençoar seus antepassados, trazendo as curas necessárias e as bênçãos para você e sua família.

Deixe-a em seu altar, independentemente de sua crença religiosa. Isso trará o fortalecimento da fé, da conexão e do poder ancestral que percorre o seu ser.

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