O coração da casa: como eram e são as cozinhas de 1950 até hoje
Colaboração para o UOL, de Ribeirão Preto
03/03/2016 13h48
Como eram as cozinhas no Brasil nos anos 50? Quais elementos marcaram a composição desse tipo de cômodo nas décadas seguintes? O UOL conversou com especialistas em design de interiores e conta (ou relembra), a seguir, como eram e são ambientadas as cozinhas nos lares brasileiros desde o século passado. Conheça ou recorde um pouco da história desse popular espaço da casa.
Fontes: Jéthero Miranda, conselheiro da ABD (Associação Brasileira de Designers de Interiores) e professor do curso de Design de Interiores do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo; Marcelo Tramontano, professor associado no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP e coordenador no Nomads.usp (Núcleo de Estudos de Habitares Interativos da Universidade de São Paulo) e Sueli Garcia, coordenadora do curso de Design de Interiores do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo.
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Imagem: Getty Images Imagem: Getty Images O estilo de vida norte-americano (1950)
A partir dos anos 50, o modo de vida nos EUA (o "American Way of Life") se espalha pelo mundo. As donas-de-casa que trabalharam fora durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), voltam-se para o ambiente doméstico no período pós-guerra (muitas vezes conciliando duas jornadas), "atraídas" pelas novas tecnologias. Com cortininhas nas janelas e equipado com geladeira, batedeira, liquidificador, cafeteira e outros eletros, o espaço passa a ser o cartão de visitas perfeito criado pela "rainha do lar" e tal ideia é reforçada pelo cinema norte-americano. Os armários também mudam, ocupam o vazio sobre a bancada e são, de preferência (mas não unicamente), brancos para intensificar a ideia de uma cozinha asséptica e organizada.
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Imagem: Getty Images Imagem: Getty Images A memória afetiva da geladeira (1950-1960)
Nos anos 60, a geladeira com cantos arredondados e em cores pastel como o azul e o amarelo claros se mantém em alta. Nos dias de hoje, esse ícone, presente na memória afetiva de quem viveu aquela época, é item mais do que desejado em projetos de cozinhas com toque retrô (mesmo que o eletro seja uma releitura, totalmente adaptada às novas tecnologias). Ainda na década sessentista, surgem os armários feitos com chapas de metal, que logo caíram em desuso por enferrujarem com facilidade.
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Imagem: Getty Images Imagem: Getty Images Os azulejos estampados (1960-1970-1980)
Em paralelo à fórmica colorida (material laminado com plástico), os azulejos estampados, inspirados no movimento Pop Art, ganham espaço nas cozinhas no final dos anos 60 e permanecem durante a década seguinte, com seus desenhos abstratos ou geométricos. No término da década de 70 e começo de 80, aparecem novas padronagens na azulejaria como os florais, um clássico, muitas vezes em tons de marrom.
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Imagem: Getty Images Imagem: Getty Images As cozinhas americana e de corredor (1970-1980)
A partir dos anos 70, com o intenso crescimento populacional e o encarecimento do metro quadrado, os apartamentos começam a diminuir e a planta da cozinha é alterada. Reproduzindo novamente o modelo norte-americano dos subúrbios, o formato "corredor" é difundido na década de 80: fogão, pia e armários superiores ficam de um lado e a geladeira é posta à frente do conjunto. Nesta disposição enxuta, cabia ainda a clássica mesinha (muitas vezes dobrável) para o café da manhã. Na época (1970-1980), a melhora na capacidade dos exaustores (foto) colaborou para que o espaço fosse integrado aos demais cômodos da casa. Surge então a cozinha americana, aberta à sala de estar por meio de um balcão. O estilo faz sucesso ainda hoje.
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Imagem: Bertolini/ Divulgação Imagem: Bertolini/ Divulgação O aço e o MDF nos armários (1990-2000)
Da passagem dos anos 80-90, os novos armários produzidos em aço ganham força nos lares brasileiros, após a intensa presença nas cozinhas cenográficas em novelas da época. Entre 1990 e 2000, a indústria do MDF (Medium-Density Fiberboard) - as famosas chapas de fibra de madeira - se fortalece e a fabricação de móveis planejados com base nesse material cresce no Brasil. Com relação às cores dos acabamentos, imperam os tons considerados neutros como o branco, bege e o marrom.
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Imagem: Brastemp - Vitreous/ Divulgação Imagem: Brastemp - Vitreous/ Divulgação Cozinhas personalizadas e a cultura do gourmet (2000 até hoje)
No século 21, a variedade de materiais para acabamento e os equipamentos cada vez mais tecnológicos possibilitaram a composição de cozinhas em diferentes estilos (muitas vezes personalizado e exclusivo). Nos últimos anos, a cultura "gourmet" e o gosto por cozinhar - promovidos pelos programas culinários televisivos - transformam o cômodo em um lugar de convívio e socialização. No piso, as tradicionais cerâmicas são substituídas por porcelanatos. Mármores, granitos e as superfícies de quartzo deixam as bancadas sofisticadas. Embutidos e com painéis "touch", os eletros migram do branquinho básico para o inox escovado, passando pelo preto e coloridos, chegando ao atual vidro leitoso ou temperado brancos.