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Obediência cega pode atrapalhar criança a conquistar autonomia

Um certo grau de desobediência da criança é normal e saudável Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

01/11/2015 08h05

Obedecer cegamente os pais pode atrapalhar o desenvolvimento da criança. Pelo menos, é o que defende o cientista social americano Robert Putnam em seu último livro, "Our Kids: The American Dream in Crisis" ("Nossos Filhos: o Sonho Americano em Crise", em livre tradução do inglês), publicado em março.

Segundo Putnam, no curto prazo, determinar tudo o que o filho deve fazer é cômodo e permite que se ganhe tempo na agenda diária, mas essa atitude também pode deixá-lo inseguro e dependente. Estimular que ele pense por si próprio e aprenda a organizar a própria vida dá muito mais trabalho, mas aumenta a habilidade do filho para viver em um mundo cada vez mais complexo.

O cientista social não está sozinho na sua crença. Um estudo científico realizado na Universidade do Estado do Kansas, nos Estados Unidos, avaliou nas crianças o impacto de obedecer e de desobedecer. Segundo os cientistas, as que não acatam tudo o que os pais dizem têm grandes chances de se tornarem líderes de empresas no futuro, já que a desobediência faz com que explorem mais os limites e aprendam coisas novas.

Autonomia não é falta de controle

Isso não quer dizer que as crianças devam fazer o que querem. O que está em jogo aqui é algo que os educadores e psicólogos chamam de “construção da autonomia”, ou seja, a capacidade de tomar as próprias decisões.

A partir dos três anos, é possível proporcionar à criança algumas situações de escolha, desde que adequadas às expectativas sociais de convivência, aos recursos financeiros e aos valores familiares. Aos poucos, os pais devem estimular o filho a fazer escolhas e a lidarem com as consequências delas. Algumas regras, porém, são inegociáveis, como hora para comer, dormir, tomar banho, estudar, agir com gentileza, não bater nos irmãos.

Fontes: Gisela Wajskop, educadora e pesquisadora vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo; Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo, de São Paulo; Paulo Afonso Ronca, doutor em psicologia educacional pela Unicamp (Universidade de Campinas); Lígia Pacheco, mestre em filosofia da educação pela USP (Universidade de São Paulo).

6 maneiras de estimular a autonomia desde cedo

  • Permita escolhas possíveis

    Seja firme quando a criança quiser quebrar regras, colocando-se em situação de risco. Quer atravessar a rua sozinha aos três anos? Sem discussão, não pode. Mas a deixe fazer as escolhas possíveis. Ela pode escolher a roupa para ir a uma festa ou o brinquedo que vai levar ao parque, por exemplo.

  • Dê responsabilidades

    Depois de brincar, desde cedo, ensine a criança a guardar sozinha seus próprios brinquedos.

  • Envolva a criança nas decisões

    A partir dos dois anos, a criança pode participar da arrumação da própria mochila, buscando os objetos que devem ser guardados. Conforme ela cresce, oriente-a a fazer essa tarefa mais sozinha. Oriente e supervisione, mas dê liberdade para que ela execute a tarefa.

  • Ensine e supervisione

    Na hora do banho, ensine como a criança deve se lavar. Depois, deixe-a tomar banho sozinha, ficando ao lado e dando dicas do que pode ser melhorado. Por fim, deixe-a a sós no banho, mas faça uma "revisão" no final.

  • Não conserte o que deu errado

    Quando a escolha da criança não for boa, não tente "consertar" todas as vezes. É importante deixar que ela sofra as consequências para que entenda a responsabilidade que envolve escolher e pense melhor na próxima vez. Claro que desde que não haja prejuízo à saúde e à segurança dela.

  • Dê feedback

    Ao checar as tarefas realizadas pela criança, sempre valorize primeiro o que foi bem feito, para então dizer o que precisa ser melhorado.

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