Negros, aborígenes, romenos: 8 marcas criticadas por apropriação cultural
Na terça-feira (26), com a Semana de Moda de Paris a todo vapor, o diretor criativo da Balenciaga, Demna Gvasalia, abriu o jogo sobre as acusações que vem sofrendo por se apropriar de elementos da cultura popular para criar produtos de luxo, como sacolas de supermercado por R$ 3,3 mil e os famosos "ugly sneackers".
"Para mim, sapatos grandes são mais estáveis quando você cria uma nova silhueta, o produto é bem-sucedido", disse, defendendo sua criação em entrevista ao "WWD".
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Para o designer, que já recebeu críticas similares tanto por criações na grife espanhola, como por ações em sua gravadora, a Vetement, o termo "apropriação cultural" está sendo usado à exaustão e que "não foi Demna quem começou com isso".
Fato é que, só nos últimos dois meses, gigantes como a Gucci e a Prada já tiveram que se desculpar por ganhar dinheiro (muito, diga-se de passagem) usando características da cultura negra.
Relembre outras 7 criações que levantaram esta discussão na moda:
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"Pantera Negra" da Forever 21
Em dezembro de 2018, a Forever 21 encarou acusações de racismo após usar um modelo branco, loiro e de olho azul para promover a coleção inspirada no filme "Pantera Negra". As críticas se desenrolaram porque o longa-metragem é um marco contra a discriminação na indústria cinematográfica -- isso porque o elenco principal é composto apenas por atores negros e a direção é de Ryan Coogler, diretor e roteirista afro-americano. Após a polêmica, a marca emitiu um comunicado se desculpando pela ação: "A Forever 21 recebe as críticas dos seus produtos e marketing extremamente a sério. Nós celebramos todos os super-heróis com diversos modelos de diferentes etnias e nos desculpamos se a foto em questão foi ofensiva de qualquer forma". Leia mais
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Festival indiano na Adidas
A coleção Hu Holi, da Adidas em parceria com o cantor Pharell Williams, foi acusada de se apropriar da cultura indiana porque, na campanha, os modelos (inclusive Williams) aparecem participando do tradicional festival Holi, em que pigmentos coloridos são jogados sobre os participantes. "Usar nosso festival para vender uma marca sem que haja sequer uma celebridade indiana diante disso", criticou uma pessoa, nas redes sociais. Enquanto outra disparou: ?Uma empresa europeia recebendo um músico norte-americano para comercializar uma linha de vestuário inspirada em um festival indiano. Sim, isso é apropriação cultural". Mais tarde, a marca rebateu as críticas, dizendo que a campanha "foi fundada sobre os princípios da união, igualdade, humanidade e cor, com a intenção de explorar a humanidade e celebrar a diversidade em todo o mundo. Juntas, Adidas e Pharrell Williams usam a plataforma para ajudar a contar histórias de outras pessoas do mundo".
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Cabelo crespo (em modelo branca) na Vogue
Quando Kendall Jenner posou para um editorial da "Vogue" norte-americana em outubro, não imaginou que ficaria no centro de (mais uma) polêmica de apropriação cultural no mundo da moda. É que, nas fotos, a modele branca aparece com o cabelo crespo, simulando um black power. Após uma enxurrada de críticas nas redes sociais, a Condé Nast, empresa responsável pela publicação, explicou em nota que que as fotos foram feitas para evocar uma estética nostálgica que lembra o início do século 20. De qualquer forma, se desculpou pela confusão: "Lamentamos se isso ocorreu de forma diferente do pretendido e, certamente, não pretendemos ofender ninguém por isso"
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Bruxaria na Sephora
Em setembro, a gigante de beleza Sephora anunciou a venda de um kit com fragrâncias, cartas de tarô, folhas de sálvia e um quartzo rosa, para "iniciantes na bruxaria", como diz a embalagem. O produto a ser vendido por US$ 42 (cerca de R$ 174), porém, causou revolta entre as chamadas "bruxas modernas", que acusam a empresa de apropriação cultural. "Sinto que a Sephora está usando minha religião para ganhar mais dinheiro", escreveu uma internauta, nas redes sociais. "Bruxaria não é algo que você esplha por aí. Pessoas se dedicam a esse estilo de vida e trabalham duro por ele. Já fui zoada demais por ser uma bruxa para virar uma tendência", criticou outra. A marca acabou tirando o produto das lojas. Leia mais
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Cultura romena na Dior
A coleção pre fall de 2017, da Dior, despertou a ira de defensores da cultura de Bihor, típica da Romênia. O motivo? Uma das peças, um colete cheio de bordados, parece ter sido inspirada em trajes típicos do país do leste europeu. Sob a hashtag #BihorNotDior, muitos se mobilizaram para pedir que a maison reconheça a "inspiração". Segundo o site "Discover Bihor Couture", a peça foi vendida por 30 mil euros (cerca de R$ 137 mil) e nada foi revertido para a comunidade que luta para manter a cultura viva.
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Dreadlocks na Marc Jacobs
Marc Jacobs admitiu que talvez tenha sido insensível nas decisões criativas de seu desfile de verão 2017, quando trouxe às passarelas um casting majoritariamente branco de modelos com dreadlocks na cabeça -- em tese, uma homenagem à diretora Lana Wachowski, sua amiga pessoal. À revista americana "InStyle", Marc admitiu que falhou em não reconhecer o contexto histórico e social dos dreadlocks. "O que aprendi dessa coisa toda, o que me fez pensar depois que tudo se acalmou, foi que talvez eu não tenha a linguagem ou que talvez eu tenha sido insensível porque eu opero dentro da minha pequena bolha da moda". Leia mais
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Moradores de rua da N. Hollywood
Daisuke Obana, estilista da marca N. Hollywood, provocou polêmica na Semana de Moda Masculina de Nova York, em 2017, ao criar uma coleção inteira inspirada na vida dos moradores de rua. Seus modelos cruzaram a passarela com os olhos abatidos, peças furadas e expressões atordoadas. Enquanto alguns ativistas e críticos de moda e chamaram a apresentação de "insensível", "boba" e "estúpida" por usar elementos de uma população vulnerável em um desfile que movimenta milhões, outros afirmaram que a moda serve para mostrar o reflexo da sociedade. Leia mais
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Bumerangue na Chanel
Quando colocou à venda um bumerangue de US$ 1.432 (cerca de R$ 4,4 mil reais na cotação da época) em 2017, a Chanel não escapou da exurrada de críticas de apropriação cultural nas redes sociais. Isso porque, para muitos fãs da grife, especialmente os australianos, o objeto tem um significado especial, já que foi criado pelas tribos aborígenes do país. Mais tarde, em um comunicado ao jornal "The Guardian", a Chanel afirmou que é "extremamente comprometida em respeitar todas as culturas e sente muito que alguns tenham se ofendido". Leia mais