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Tudo que você precisa saber sobre ginecologia na gestação

Camila Gray/UOL
Imagem: Camila Gray/UOL

Beatriz Zogaib

06/06/2024 17h35

Juntamos todas as dicas de ginecologia que aparecem nas newsletters de Materna neste texto, assim você consegue tirar suas dúvidas de forma simples, completa e organizada.

Passei dos 35, posso engravidar?

Pode! É o que afirma categoricamente Denise Theodosio, ginecologista obstetra, expert em medicina fetal. "Tem muita mulher de 40 anos com gestação saudável e às vezes uma com 35 pode desenvolver pré-eclâmpsia. A idade aumenta o risco estatístico de diabetes e pressão alta, mas se isso acontecer vamos cuidar, monitorar e seguir o pré-natal", conta. A fertilidade cai a partir dos 35 anos, mas hoje existem muitos recursos de reprodução humana, como a ovodoação e, se as chances de uma alteração cromossômica na formação do embrião ou abortamento espontâneo são maiores (porque seu óvulo tem a sua idade), os números, ainda assim, continuam em favor da vida. "Falo para minhas pacientes: com 40 anos, 1 em cada 70 gestações pode gerar um bebê com síndrome de down, mas se colocarmos isso em porcentagem vai dar 1,4%, ou seja, a chance de ter uma gestação e bebê saudáveis é de 98%!".

Pois é, a esmagadora maioria tem sim uma gravidez tranquila e feliz! "É uma probabilidade e não uma certeza", reforça outra especialista, Andrea Menezes, obstetra mestre em saúde materno-infantil, que atua com ginecologia integral e gestou aos 40, sem nenhuma complicação por conta da idade - ainda que tivesse um mioma. "Tudo que tinha maior probabilidade de ter acontecido não aconteceu, a gravidez foi muito mais tranquila do que eu esperava", conta.

Então, não existe hora certa para engravidar? Fisiologicamente, existe um intervalo mais favorável, só isso - e emocionalmente nem isso. "É quando o coração deseja, não vai ter certo ou errado", palavras de Dra.Denise. A psicóloga Arielle Rocha Nascimento, que atua no acompanhamento de gravidez, infertilidade, reprodução assistida, parto e puerpério, concorda. "Essa ideia de hora certa é muito comum nessa geração de mulheres e homens que idealizam o momento como se, para engravidar, fosse preciso que todo o resto tivesse que estar perfeito. Isso às vezes pode trazer mais sofrimento, dependendo de como se entende o que é o momento certo, porque pode não deixar margem para as ambivalências presentes para se tomar essa decisão, que são tão características".

É claro que você pode (e deve) parar para pensar em quando é a sua hora de engravidar, mas o aconselhável é não trazer uma ilusão e uma dureza para os desafios naturais que chegam com qualquer gestação. "É interessante tentar buscar uma flexibilidade, onde se sentir pronta para a maternidade possa incluir também o não saber, o tornar-se mãe, uma abertura para o inédito que essa experiência traz. Você não estará pronta no sentido de saber conduzir tudo sem ter dúvidas", reforça a psicóloga.

Tô grávida, e agora?

Sabemos que é super comum se deparar com a gravidez sem ter dado tempo nem de pensar! Mesmo quando você decidiu tentar, a confirmação pode demorar a chegar e vir quando você menos espera, ou antes do esperado. E, se no seu caso, não havia a real intenção de engravidar, já viu o tamanho da surpresa né? Mas você não está sozinha. Ter uma gravidez com tanto planejamento, na hora e do jeito que desejamos, nem sempre é possível. "A gente tem uma ilusão de que a gravidez está no nosso controle, mas costumo afirmar que não engravidar está um pouco mais em nossas mãos do que engravidar. As mulheres precisam estar um pouco mais conscientes disso, porque o controle do quando engravidar pode não estar nas nossas mãos", orienta a psicóloga existencial Maria Silvia Logatti. Abrir mão do momento perfeito ou até mesmo de ser perfeita por ter confirmado a gestação é o melhor caminho para lidar com uma possível frustração, ansiedade ou medo - isso, sim, podemos controlar.

No mundo ideal, a indicação seria olhar para seu estilo de vida antes de engravidar - implementando ou ajustando exercícios físicos e hábitos alimentares saudáveis que ajudarão durante a gestação - mas e se não deu pra fazer isso? Por onde começar? Respire e saiba que, se você engravidou, seu corpo está mais do que apto a gerar uma vida. "A consulta pré-concepcional é quase uma utopia, e está tudo bem, a gente vai dar todas essas orientações a partir de agora, incluindo iniciar a ingestão de ácido fólico. No entanto, começar o ácido fólico pelo menos um mês antes da concepção é melhor", explica a ginecologista obstetra Julia Freitas, especialista em pré-natal de alto risco e parto humanizado.

É essencial saber que os primeiros mil dias do bebê valem por uma vida toda (e que eles incluem as primeiras semanas da gestação até o segundo ano de vida), mas a informação não deve ser aprisionante. "Calma, vamos fazer a nutrição adequada a partir de agora. Não necessariamente você vai ter um grande impacto por descobrir a gravidez depois, o importante é que você tome uma atitude assim que souber", tranquiliza a nutricionista e pesquisadora Daniela Bicalho. Soube que está grávida? É simples: aposte em uma alimentação baseada em alimentos in natura (frutas, verduras e legumes), de preferência sem agrotóxicos, junto a alimentos minimamente processados, como o arroz e o feijão. E a tal da atividade física? Se é sedentária, espere a consulta para, junto com o obstetra, planejar como e quando começará a se exercitar. Se já pratica exercício, mantenha, mas pegue leve até a consulta.

Na carreira, a dica é começar a se preparar para possíveis transformações. "Primeiro de tudo, saiba que há grandes chances de você ser demitida alguns meses após seu retorno da licença-maternidade", revela Rita Monte, terapeuta somática fundadora da Escola de Mulheres Criadoras. Triste, mas é a realidade da maioria e, sim, você pode se preparar para lidar com isso, caso aconteça. "Parar de ter um olhar romântico para a empresa que você trabalha é um primeiro passo, caso esteja empregada", aconselha. Depois disso, ou caso você trabalhe como autônoma, por exemplo, comece a criar uma reserva como se fosse uma licença - você pode precisar dela.

Palavra de médico: fiz teste de farmácia e deu positivo, preciso fazer exame de sangue?

Segundo a obstetra Julia Freitas, em geral não é necessário. Testes comprados em farmácia só mostram resultado positivo na presença do hormônio Beta-HCG e ele diz tudo: você está oficialmente gestando. O exame de sangue seria bem-vindo apenas em caso de negativo (existe o falso negativo em testes "de farmácia", devido à baixa quantidade do Beta-HCG no comecinho da gestação) ou caso seu médico solicite. Duas listas aparecem no visor depois do famoso xixi no palito? Parabéns mamãe! Pode agendar sua primeira consulta de pré-natal. Mas não precisa desesperar; ela pode acontecer entre a quinta e sétima semana (conte as semanas a partir do primeiro dia da sua última menstruação).

Tira dúvidas do planejamento reprodutivo

Fez o teste e já tem dezenas de dúvidas? Normal! Nos últimos 12 meses, "teste", "semanas" e "sintomas" foram as três primeiras pesquisas no Google quando o assunto é gravidez - e só por aqui já vemos que é sim comum ter questionamentos dos mais simples... Selecionamos duas dúvidas comuns e duas nem tão comuns, que podem surgir na sua cabeça e respondemos de forma super objetiva. Vamos lá!

  • Existe falso negativo em teste de farmácia? Sim. Caso haja ovulação tardia e a dosagem do hormônio beta HCG seja pequena ainda. O ideal é repetir o teste em uma semana. Mas se deu positivo, mesmo no primeiro teste, acredite, você está grávida!
  • Preciso parar a atividade física se der positivo? Não, pelo contrário. Se já fizer parte da sua rotina, continue. Há vários estudos que mostram que o exercício não aumenta o risco de abortamento. Só é recomendado conversar com seu educador físico para adequar o ritmo.
  • Meu parceiro precisa participar do pré-natal? Não e sim. Não é obrigatório, mas essa jornada ajuda o casal a se conectar, o parceiro a entender a gestação, e contribui na hora do parto.
  • Posso continuar usando óleo essencial? Sim e não. Uso tópico sem problemas, mas não é recomendado a ingestão, pois não há estudos científicos que garantam a segurança ao ingerir.

Palavra de médico: não estava tomando ácido fólico, e agora?

"A recomendação é tomar ácido fólico pelo menos um mês antes de engravidar, mas se chegou grávida no consultório, começamos a partir daquele primeiro momento", explica a ginecologista obstetra Julia Freitas, especialista em pré-natal de alto risco e parto humanizado. Segundo ela, não há motivo para pânico, já que as mulheres costumam ter uma alimentação que inclui a ingestão de ácido fólico, mesmo que em baixa quantidade, e dificilmente haverá uma deficiência significativa.

Como saber se escolhi o melhor obstetra?

"Pelo diálogo, tem que conversar, mostrar suas ideias e ver se são recebidas ou rechaçadas. Tem essa coisa subjetiva também, às vezes você está com o profissional que tem os requisitos que você buscava, mas algo não bateu. Ninguém é unanimidade, é normal essa experimentação, e a única maneira de saber é entendendo como o outro pensa e se faz sentido pra você", responde a ginecologista obstetra Julia Freitas. Então não se culpe se quiser trocar de médico no meio do caminho, combinado? Só esteja confortável com a sua escolha assim que possível, mesmo que seja nas últimas semanas de gestação.

Será que são dois? O que muda na gravidez de gêmeos?

Há algumas mudanças sim, e a gente vai explicar. Tudo começa na surpresa de terem dois seres humaninhos aí dentro né? A alegria parece que vem em dobro mesmo e, assim como ela, alguns cuidados normais e esperados. Então, se você se sentir mais preocupada logo de cara, fique em paz; é comum. E as diferenças para uma gestação única começam cedo mesmo, pelo simples fato de termos maior quantidade de hormônio Beta HCG no sangue da gestante - o que pode trazer mais enjoo do que o esperado e até desembocar em uma hiperêmese gravídica (condição que requer mais cuidados devido à muitas náuseas e vômitos com risco de desidratação). Porém, embora mais frequente, não é uma regra para toda gravidez gemelar - assim como também pode acontecer em uma gestação não gemelar, como foi o caso da apresentadora Tatá Werneck, que falou sobre isso publicamente após dar à luz sua filha Clara. E, sim, você pode estar grávida de gêmeos e ter aquele enjoo "tradicional", que passa feito mágica depois de 12 a 14 semanas.

Uma curiosidade!

Muito se fala sobre os chamados gêmeos univitelinos ou monozigóticos (formados por um único óvulo e um único espermatozoide que, em algum momento, se dividem e geram gêmeos idênticos), e sobre os bivitelinos ou dizigóticos (formados por dois ou mais óvulos, fecundados por dois ou mais espermatozoides, formando indivíduos geneticamente distintos). Mas temos outras classificações pelo número de placentas e bolsas amnióticas! Quando gêmeos dividem a mesma placenta, são monocoriônicos (o que só acontece com gêmeos univitelinos), e isso traz alguns pontos a mais de atenção durante o pré-natal. O que não acontece quando são duas placentas (bebês dicoriônicos) que podem dividir a mesma bolsa (monoamnióticos) ou ficar em bolsas separadas (diamnióticos). "Na gestação em que há uma placenta só para dois bebês, uma das preocupações é o crescimento seletivo, que é quando um dos bebês cresce mais que o outro", exemplifica a ginecologista obstetra Denise Theodosio.

Palavra de médico: de onde vem tanta vontade de fazer xixi?

Das mudanças pelas quais seu corpo está passando. "Tem mulheres que já no primeiro trimestre acordam à noite para fazer xixi, mas em geral, no terceiro trimestre não tem espaço na bexiga e aí não tem jeito, acordam mais de uma vez", comenta a ginecologista obstetra Denise Theodosio. Sim, já de cara, é normal a maior frequência urinária, pois você está com maior quantidade de líquido no corpo e seus rins estão atuando de forma mais eficiente com ajuda dos hormônios da gravidez, e o maior fluxo de sangue para ser filtrado. E, com o passar das semanas, vem o óbvio: o bebê cresce, o tamanho do útero acompanha e isso naturalmente pressiona a bexiga e diminui mecanicamente a capacidade de armazenamento de urina.

Sangramento é normal? Quando se preocupar

Pode ser normal, mas pode não ser, então a regra de ouro é sempre reportar ao médico. "No primeiro trimestre, ele não é incomum, mas vale examinar e ver se está tudo bem. Às vezes é só o processo da nidação e não é um problema. No segundo e terceiro trimestre não é comum, pode ser um pólipo, pode não ter a ver com a gestação em si, mas precisa ser visto. Pode ser um sangramento relacionado à placenta ou a uma ameaça de parto prematuro precisam de atendimento de urgência", explica a ginecologista obstetra Julia Freitas. O médico te tranquilizou? Fique tranquila.

A saga dos exames de rotina e ultrassonografias

Temos uma cultura de realizar muitos ultrassons no Brasil, o que não é necessário do ponto de vista médico, mas - atenção - uma quantidade mínima desse tipo exame é sim necessário, pois é através dele que o obstetra terá informações importantes sobre a evolução da gestação. Sem contar que é ali, naquela telinha preta e branca (que a princípio parece não nos deixar ver nada!) que podemos conhecer nosso bebê antes mesmo que ele nasça, inclusive ouvindo as batidas daquele pequeno coração. "Existem ultrassons relevantes e outros que acontecem pelo lado social e familiar. Costumo incentivar que essa comunicação com o bebê seja de outra ordem, como perceber os movimentos, que é uma percepção que só a mãe tem inclusive, e é o mais importante para saber que está tudo bem", comenta a ginecologista obstetra Julia Freitas, especialista em pré-natal de alto risco e parto humanizado.

Precisa fazer todo mês? Não. Mas é preciso fazer todo o trimestre. "O primeiro ultrassom do primeiro trimestre é muito importante, em torno de sete semanas, especialmente quando precisa definir uma idade gestacional para o parto, ou quando tem uma doença de base que vai precisar induzir com 39 semanas, por exemplo, e a data da menstruação não é tão bem lembrada. Aí tem o ultrassom morfológico do primeiro trimestre, importantíssimo por vários aspectos, porque dá pra ver basicamente todos os principais órgãos, serve para ver aqueles parâmetros de síndromes genéticas, como a translucência nucal, além de avaliar o risco de pré-eclâmpsia, permitindo que o obstetra oriente sobre como reduzir as chances dessa doença potencialmente grave na gestação", explica a médica.

> No primeiro exame (feito, preferencialmente, entre a 7ª e a 10ª semana da gestação), além de verificar a idade gestacional, ainda é possível constatar se é uma gestação gemelar, enquanto a segunda ultrassonografia - feita entre 11 e 13 semanas e 6 dias de gestação, via transvaginal - identifica por exemplo a síndrome de down.

> No morfológico do segundo trimestre, entre 18 e 24 semanas, é hora que a grávida deve poder ver o sexo do bebê (se for sua vontade) - o que o pode ser detectado a partir da 16a semana - mas, principalmente, para analisar a possibilidade de malformação, condições da placenta e líquido amniótico. "É quando a gente avalia todos os órgãos e todas as medidas, porque é uma fase melhor em que o bebê está maior para ver as estruturas. E tem como realizar como complemento nesse exame a ecocardiografia fetal, que é uma avaliação só do coração", exemplifica a doutora Julia. Neste mesmo período, a gestante deverá fazer, via transvaginal, a avaliação do colo do útero, para avaliar o risco de parto prematuro. Uma nova lei, sancionada em 2023, inclusive, estabelece que as grávidas na rede pública de saúde devem ter acesso a pelo menos dois ultrassons transvaginais nos primeiros quatro meses, e ao ecocardiograma fetal.

> No terceiro trimestre, chega a hora que as grávidas mais gostam, quando podemos ver aquele bebê maiorzinho! "É uma avaliação para acompanhar o crescimento mesmo, e a frequência desse acompanhamento vai depender de doenças de base. Para uma gestante de risco habitual, indico esse ultrassom em torno de 36 semanas", diz a obstetra.

>>> E as consultas? São realizadas uma vez por mês. Diferentemente dos exames de sangue e urina, realizados uma vez por trimestre. A partir de 28 semanas, em geral, reduz-se o intervalo entre consultas, para a cada duas ou três semanas. E a partir de trinta e seis ou trinta e sete semanas, as visitas médicas são semanais. "A partir de 28 semanas, é interessante também realizar ultrassom mensal e, nesse finalzinho, depois de 34, 35 semanas e especialmente 36 semanas, você precisa do monitoramento fetal, com ultrassom casado com a cardiotocografia, que é um mapeamento da frequência cardíaca do bebê e da atividade uterina", explica Ana Paula Junqueira, ginecologista obstetra.

Vacinas: preciso tomar?

Algumas sim! Conversamos com a ginecologista Andrea Menezes e listamos aqui as vacinas e o que você precisa saber sobre elas.

  • Vacina dupla adulto (dT): protege a gestante e o bebê contra o tétano e a difteria.
  • Vacina dTpa: a tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (difteria, tétano e coqueluche) é recomendada para proteger a gestante, evitar que ela transmita a Bordetella Pertussis (coqueluche) ao recém-nascido, e promover a transferência de anticorpos ao feto, protegendo-o nos primeiros meses de vida
  • Vacina hepatite B: para gestantes em qualquer idade gestacional, é importante administrar 3 doses, considerando o histórico de vacinação anterior.
  • Vacina influenza (gripe): recomendada em qualquer idade gestacional para durante a campanha anual de vacinação.
  • Vacina covid-19: recomendada em qualquer idade gestacional

Palavra de médico: o que fazer quando a pressão baixa?

O melhor a fazer é deitar e não lutar contra a sensação de mal-estar e desmaio, caso contrário você pode sim vir a cair e se machucar. Caso não possa deitar de imediato, sente-se. Segundo a ginecologista obstetra Julia Freitas, especialista em pré-natal de alto risco e parto humanizado, não é preciso ingerir sal, mas - se o mal estar for causado por uma hipoglicemia (pode ser que sinta ao ficar muito tempo sem comer), comer alguma coisa pode ajudar.

Corrimento, coceira vaginal, herpes...

Normalmente nós, mulheres, temos "corrimento" - e isso é normal: se deve à produção de muco pelo colo do útero. Se você ainda se incomoda, agora é para internalizar: trata-se de uma secreção natural, que pode sofrer alterações em determinadas fases da vida, inclusive na gravidez, quando nosso corpo passa por adaptações, como o aumento do metabolismo e da temperatura corporal, além das mudanças hormonais da gestação, que por si só podem tornar o pH da vagina mais ácido. Essas mudanças, inclusive, são uma forma de proteção a infecções bacterianas, mas também podem facilitar quadros causados por fungos, entre eles a Cândida, o que causa a famosa candidíase (gerada pelo fungo Candida).

O vírus da herpes é outro conhecido comum do corpo feminino, e gestantes não estão imunes. Nesse caso, o cuidado deve ser maior: a estimativa do Ministério da Saúde é que entre 13% e 37% das pessoas que contraem o vírus apresentam sintomas e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 417 milhões de pessoas, entre 15 e 49 anos, têm o vírus HSV-2, causador do herpes genital. O grande problema? Há o risco da gestante transmitir o vírus para o bebê no momento do parto, podendo provocar a morte ou problemas neurológicos nele. Mas não se apavore se tiver o vírus: há formas de controlá-lo e, caso esteja manifestado na hora do parto, a cesariana vem para ajudar, sem riscos. O que é importante saber? E fazer?

Na dúvida sobre a cor ou textura do seu corrimento, fale com o médico. Coçou? Pode ser candidíase, e é preciso tratar para evitar seu desconforto. "A princípio não é preocupante, mas é extremamente desconfortável. Na gravidez, é mais comum, por ter mais corrimento fisiológico. E outra coisa que pode estar associada a ela é a diabetes e é preciso ter certeza de que não há um desequilíbrio nesse sentido", explica a obstetra Julia Freitas. Tem várias maneiras de evitar e de prevenir. Coçou em tem feridas? Pode ser herpes genital, e o especialista saberá identificar com facilidade e traçar um plano de ação. "Não é porque é gestante que você não colhe material, a gente não pode ter a genitália feminina inacessível", lembra outra especialista, a ginecologista e obstetra Ana Paula Junqueira.

Palavra de médico: posso andar em montanha russa ou ir ao parque aquático?

O parque de diversão pode ser aproveitado de diversas formas: passeando, tomando sorvete, assistindo a espetáculos. O parque aquático também; você pode relaxar nas piscinas sem nenhum problema! Mas montanha russa ou atrações que oferecem movimentos bruscos e rápidos são sim proibitivos, tanto que os parques colocam plaquinhas informando que não são para gestantes. "Não vá em nada que tem risco de impacto ou com risco de queda", recomenda a ginecologista obstetra Julia Freitas.

Ultra 3D ou 4D: vale a pena?

Depende? de você! "Não é absolutamente necessário, mas se quer fazer tudo bem", comenta a ginecologista obstetra Julia Freitas. Esse tipo de exame poderia facilmente ser chamado de "ultrassom social", pois muitas vezes fazemos para poder mostrar as imagens (que, sim, são fofas!) para familiares e pessoas próximas. Vai ser legal? Muito! Mas tem um custo, e aí só você pode decidir se o benefício vale a pena.

Palavra de médico: diabetes gestacional, como evitar

É imprescindível que você esteja fazendo acompanhamento médico pré-natal regularmente desde o início da gestação, pois o obstetra estará de olho na sua saúde e na do bebê. Siga as orientações do especialista e, se estiver sendo acompanhada por um nutricionista, reveja sempre seu plano alimentar com base no que o médico orienta. "Mantenha peso saudável antes e durante a gestação, uma alimentação saudável e equilibrada com predominância de vegetais e alimentos não processados e pratique exercícios físicos regulares", recomenda a ginecologista obstetra Andrea Menezes.

Dor de cabeça é normal? O que fazer para amenizar?

"É uma queixa frequente, principalmente no início, e um analgésico resolve. Quem já tem enxaqueca às vezes precisa de outro tipo de tratamento", conta a ginecologista obstetra Julia Freitas. De qualquer forma, se a dor for forte, na nuca, ou persistente, fale com seu médico, ok? Alguns sintomas que valem a pena levar em consideração: dor de cabeça na nuca, visão dupla ou outras alterações visuais junto à dor - que podem ser sinal de pré-eclâmpsia. "Melhor reportar e não ser nada do que deixar de mencionar e ser algo importante".

Preciso visitar o hospital antes?

E se não estiver me dando bem com meu médico, devo trocar?

Visitar o hospital é uma curiosidade comum e pode ser interessante para você reconhecer o ambiente e amenizar a ansiedade. "Às vezes a gente imagina o hospital como um ambiente frio e hostil e você vai ver que não é assim, que existem hospitais mais acolhedores", observa a ginecologista obstetra Julia Freitas. Não está se dando bem com o médico escolhido? Não se sinta perdida na multidão. É normal que algumas mulheres se identifiquem mais com um ou outro especialista e, segundo a especialista, essa identificação aparece ou não através das conversas que vocês têm. Portanto, pode sim ser que você só perceba uma desconexão com o profissional escolhido depois de um tempo. Você pode trocar até o último instante, e pode inclusive escolher realizar o parto com um médico plantonista.

Palavra de médico: tudo o que você precisa para uma viagem de avião

Chegou a hora daquela viagem programada para fazer o enxoval no exterior ou mesmo descansar no Nordeste brasileiro (a tal da babymoon)? Não programou nada, mas está precisando e tem recursos financeiros para embarcar nessa? Ainda dá tempo. Passado o primeiro trimestre e antes de chegar o terceiro, sua viagem de avião tem tudo para ser tranquila e sem preocupações. E é importante fazer isso agora, pois - em geral, a maioria das companhias aéreas liberam o voo apenas até 32 semanas de gestação. Que fique claro: não por riscos para gestante e bebê, mas para evitar terem que lidar com um parto prematuro nas alturas. É o que nos conta a ginecologista obstetra Denise Theodosio.

Estando dentro desse "prazo", fique tranquila. Apenas não esqueça: a partir de 20 semanas, todas as companhias costumam pedir atestados médicos, onde o obstetra libera a gestante para a viagem. Vale a pena dar uma olhada nas regras da empresa aérea que te levará até lá, para ver se há alguma outra questão, ou até mesmo benefício - como poltrona com mais espaço, refeição especial ou outro. E, se a viagem for internacional, não esqueça de checar orientações para turistas que chegam naquele país; alguns lugares exigem vacinação contra febre amarela, por exemplo.

E é importante saber: a viagem pelos ares não traz riscos para a gestação, porém em uma viagem longa, na qual a gestante fica muito tempo sentada, há uma preocupação com trombose. "Tem que usar meia elástica, levantar para caminhar e esticar a perna para ajudar na circulação e, para quem tem maior risco de trombose, precisa conversar com seu médico para ter orientações específicas", explica Denise Theodosio.

Tontura: quando é normal e quando se preocupar

Se está associada à pressão baixa, a tontura pode aparecer em qualquer trimestre, principalmente em cidades mais quentes. Está calor, passou muito tempo sem comer, levantou rápido? Pode ser sim normal e passageira. Mas, assim como a dor de cabeça, a ginecologista e obstetra Julia Freitas orienta que, se ela vier associada a alterações visuais ou qualquer outro sintoma, o melhor a fazer é falar com o médico para garantir que não é preciso olhar com atenção para isso.

Nesta gravidez está tudo diferente da outra (ou do que me disseram que eu ia passar!), devo me preocupar?

Categoricamente NÃO. Cada gestação é única, diferente de mulher para mulher, uma mesma mulher pode vivenciar gestações completamente distintas. Isso se deve a tantos fatores que ficaria impossível listá-los aqui, mas pense em alguns deles e verá que não tem motivo para se preocupar: idade, ambiente em que vive a gestação, momento de carreira, se já tem outros filhos enquanto está gestante dessa vez, parceiro, hábitos? Deu para sentir o quanto tudo pode ser distinto? É comum todo mundo nos "preparar" para o que vem pela frente, mas será mesmo que vem? A gestação é uma das fases mais singulares das nossas vidas e há uma pluralidade imensa de mulheres para querermos nos comparar. Na dúvida sobre algo que acha que "deveria" estar sentindo? Fale com seu médico.

Meu bebê mexe pouco no ultra, devo comer chocolate?

Ele pode sim se movimentar com menos preguiça durante o exame, mas não precisa necessariamente comer chocolate - e é preciso cuidado com essa prática. "Se comer algo mais doce, que rapidamente disponibiliza glicose para o bebê, ele pode mexer mais, mas pode ter sido uma refeição comum. O importante é não estar em jejum", orienta a ginecologista obstetra Julia Freitas, que lembra que a tática, obviamente, não deve ser considerada em casos de diabetes gestacional.

Parto (inclusive prematuro): sinais para ficar atenta

A avaliação do colo do útero, feita através de um ultrassom vaginal de rotina (em torno de 20 semanas), é uma das formas para o médico detectar o risco de prematuridade: se o colo estiver curto demais pode provocar um parto prematuro, e é possível tentar reverter a situação. "Tem algumas intervenções possíveis, mas esse é um momento importantíssimo para o rastreio de prematuridade", explica a ginecologista obstetra Julia Freitas, especialista em pré-natal de risco e parto humanizado. Outro exame importante é a cultura de urina, para evitar uma infecção urinária que pode desencadear um parto prematuro.

Longe do consultório, é importante ficar atenta a alguns sinais que apontam para a possibilidade de um parto fora de hora, como cólicas parecidas com as menstruais, pressão forte ou dor na pelve, perda de líquido ou até mesmo a perda do tampão mucoso, que é uma camada de proteção que o corpo desenvolve para o colo do útero na gestação e que, quando liberado, apresenta uma secreção muito espessa e um pouco de sangue. Vômitos e diarreia são sintomas menos falados, mas também podem ser sinais de parto, prematuro ou não. E não esqueça das contrações regulares, com ritmo e desconforto (diferentes das contrações de treinamento); elas são o principal indício de que chegou a hora.

Dica da gineco: como aliviar a dor nas costas

  • Alongamento e outros exercícios físicos
  • Alternar compressas quentes e geladas
  • Dormir em posição confortável com auxílio de travesseiro
  • Manter peso saudável
  • Manter postura adequada

"Faça uso de analgésicos apenas quando prescritos por médicos em casos de dor grave ou persistente", recomenda a ginecologista obstetra Andrea Menezes.

O pai ou parceiro não estará no parto, quem eu posso levar comigo?

A orientação é levar quem você se sentir mais à vontade e com quem se sinta acolhida. "Já tive casos em que o pai não queria participar, era uma pessoa muito tensa, e a gestante concordou. E aí foi a mãe dela. Mas nem sempre a mãe é a melhor pessoa, às vezes pode ser um outro homem, mas em geral a escolha acaba sendo por outra mulher", conta a ginecologista Julia Freitas, especialista em parto humanizado. E está tudo 100% bem se preferir não ter ninguém com você além da equipe; faça como você se sentir melhor, mais confortável e segura.

Palavra de médico: é possível amenizar o cansaço?

O cansaço ao final da gravidez está ligado a uma variedade de sensações físicas, emocionais e hormonais que acompanham as mulheres ao longo da gestação. Pense no peso adicional do bebê, do desconforto físico causado pelo crescimento do útero, das mudanças na circulação sanguínea, além de distúrbios do sono - quanto maior a barriga, mais comuns eles ficam. "Outros pontos que devem ser observados são as necessidades nutricionais aumentadas para sustentar o desenvolvimento fetal, que também acabam contribuindo bastante. Gestantes com anemia podem ter mais sensação de cansaço que o habitual", enfatiza a ginecologista obstetra Denise Theodosio.

Segundo ela, esses fatores combinados podem resultar em uma sensação geral de cansaço e fadiga nas últimas semanas da gravidez, mas é importante deixar claro que é um sintoma normal de toda a gestante e que, mais importante que tudo: pode ser amenizado de forma relativamente simples, apenas adaptando a rotina, sem qualquer intervenção medicamentosa. Alguns pontos principais que, geralmente, podem auxiliar a amenizar o problema em uma gestação sem intercorrência.

  • Usar roupas confortáveis: Escolher roupas largas, de tecidos leves e que não restrinjam os movimentos ou exerçam pressão sobre a barriga.
  • Fazer exercícios durante toda a gestação: A dica manjada (e que funciona!) é a caminhada. Mas exercícios de respiração e relaxamento, massagens, ioga e hidroginástica podem trazer bem-estar, ajudar a aliviar o desconforto e aumentar os níveis de energia.
  • Preste atenção na alimentação: Sempre optar por refeições leves e balanceadas, ricas em nutrientes para fornecer energia e sustento do corpo. Carnes magras, leite e derivados com pouca gordura, ovos, aveia, fibras, frutas e vitaminas são uma boa pedida caso não haja nenhuma restrição.
  • Tenha uma higiene de sono: ter uma rotina com horários fixados é muito importante para ajudar o corpo a se acostumar com todas as mudanças. Um cochilo ao longo do dia não tem problema! Outro ponto legal é elevar as pernas em uma cadeira ao sentar-se. Ajuda na circulação e relaxa os músculos, trazendo uma sensação maior de conforto e relaxamento.
  • Mantenha-se hidratada: Parece uma dica clichê, mas as pessoas subestimam muito ainda os benefícios que a boa hidratação nos traz no dia a dia. Essa dica é realmente muito válida e faz total diferença para o funcionamento de todo o corpo. Auxilia muito em nossa energia e disposição!

Palavra de médico: é possível ter uma cesárea humanizada?

Sim, mas depende. Há uma discussão sobre o termo cesárea humanizada, especialmente se ela for eletiva e não necessária. "Sou a favor da forma que for melhor e mais indicada para mãe e para o bebê. Não tem certo e errado se seguir as indicações absolutas de cesariana, que são pouquíssimas", comenta a ginecologista obstetra Andrea Menezes. Quer entender como é uma cesariana humanizada? "É um parto onde a mulher é tratada da forma mais personalizada possível, respeitando o que ela quer dentro dos protocolos cirúrgicos. Assim que o bebê nasce já vai para o contato com a mãe. Já se provou que dá para ter a hora de ouro de forma segura na cesárea. Mais do que humanizado, isso é o que é certo".

Não tive contrações de treinamento, devo me preocupar?

Não se preocupe. "É incomum não perceber, mas algumas mulheres não percebem mesmo. Às vezes vou examinar e ela está tendo", afirma a ginecologista obstetra Julia Freitas. Segundo a especialista em pré-natal de alto risco e parto humanizado, essas mulheres costumam ser até mais tranquilas no trabalho de parto, porque em geral não costumam estar tão preocupadas com tudo o que acontece. Não se preocupe se não está passando por esse treinamento, uma coisa é certa: "você sempre vai perceber quando for uma contração de trabalho de parto de verdade".

Plano de parto... preciso de um?

"Sim, o plano de parto é essencial para que as escolhas da mulher sejam garantidas e se evite violência obstétrica e neonatal. Nele, a mulher deixa explícito suas preferências em relação ao trabalho de parto, parto e pós- parto", responde a enfermeira obstétrica Ana Luiza Zapponi, especialista em cuidado materno-infantil. Não é um documento oficial, porém mostra que a gestante está bem informada e atenta a possíveis divergências. Nele, você pode colocar informações sobre sua preferência por procedimentos, como métodos não farmacológicos de alívio da dor, clampeamento tardio do cordão umbilical, luz indireta, música na sala de parto, comida e água disponível e liberdade de posições, por exemplo. Além de conter sua preferência quanto a outros procedimentos como a episiotomia, manobras de kristeller (médico empurra a barriga na hora do expulsivo), e profissionais não indispensáveis na sala de parto. "Ter um plano de parto gera menos ansiedade nas gestantes e facilita a comunicação com a equipe médica."

Por onde começar? "Antes de tudo, pense em como você imagina o nascimento do seu bebê e, a partir daí, busque profissionais que dialoguem com isso", sugere Ana Luiza. Se você tiver uma equipe em que confie, é possível que o plano seja construído apenas através de conversas que antecedem o grande dia. Mas, é importante ter as informações por escrito, especialmente em caso de emergência (quando seu médico não pode comparecer para realizar o parto) ou quando você (por outras questões, inclusive financeiras) já sabe que fará o parto com uma equipe plantonista. "O plano de parto entra como um instrumento para você dialogar com uma pessoa que você nunca viu na vida", enfatiza a ginecologista e obstetra Julia Freitas, especializada em parto humanizado.

Segundo ela, o planejamento é importante para entender quais são as necessidades e as vontades da mulher, mas é na hora que você e a equipe vão ver exatamente o que vai acontecer, a não ser que seja uma cesariana marcada. "Como o bebê vai nascer? A gente não vai ter essa resposta antes. A mulher pode imaginar o que deseja, mas só vai entender o que quer na hora, se vai ter analgesia, se vai parir na banqueta ou em pé. E é bom que seja assim, mais instintivo e menos mecânico. Tem mulheres que querem banheira e na hora não querem nem olhar para a banheira", conta a médica. O importante é estar acompanhada de uma equipe que respeite as evidências científicas e a sua autonomia, com flexibilidade. E aí, se for equipe de plantão, seu plano pode ajudar a garantir isso.

Dicas para amenizar a falta de ar

As dicas são as mesmas usadas quando você ronca ou sofre com azia na gestação: eleve o travesseiro ao dormir, coloque mais de um se achar necessário, evite comer grande quantidade antes de dormir, e deite de lado.

Cuidados com pré-eclâmpsia e eclâmpsia

Antes de falar dessas duas possíveis conhecidas para gravidinhas bem informadas, é importante falar da hipertensão (a famosa pressão alta) - que pode ser crônica (ou pré-gestacional), mas que também pode ser gestacional. Quando ocorre antes das 20 semanas de gravidez ou quando a gestante já tem histórico de pressão alta, ela é chamada de crônica, mas se acontece depois de 20 semanas, sem associação com alterações de órgãos ou proteína na urina, é a gestacional. A pré-eclâmpsia é simplesmente um novo diagnóstico de hipertensão arterial ou a piora da hipertensão já existente, acompanhada de um excesso de proteína na urina (e que surge também após a 20ª semana). Já a eclâmpsia é a piora para o estágio mais grave, com convulsões em mulheres com pré-eclâmpsia que não apresentam outra causa.

A causa exata da pré-eclâmpsia ainda é desconhecida, embora seja certo que está associada à hipertensão arterial (crônica ou específica da gravidez). O que vem antes disso? Provavelmente, doenças autoimunes, problemas nos vasos sanguíneos, a dieta da gestante e genética. Mas calma lá, sem apavorar se leu algo aí e se preocupou, combinado? O médico que te acompanha durante toda a gestação certamente está de olho na sua saúde arterial. E os avanços nessa direção chegam para ajudar. No segundo ultrassom - feito entre 11 e 13 semanas e 6 dias de gestação, via transvaginal - é possível não só identificar síndromes no bebê, como também a possibilidade da mãe desenvolver uma pré-eclâmpsia. "É importante avaliar o risco de pré-eclâmpsia. Infelizmente ainda se faz pouco essa análise, mas tem uma medida das artérias uterinas nesse exame que é fundamental para calcular o risco, junto à história clínica daquela mulher", explica Julia Freitas, ginecologista obstetra.

A pré-eclâmpsia pode e deve ser detectada e tratada antes do início da eclâmpsia e é sim possível administrar medicamentos para reduzir o risco. Em caso de gravidez de gêmeos, o cuidado passa a ser redobrado para risco de diabetes gestacional, pré-eclâmpsia e parto prematuro - porém, mais uma vez, não é regra e nem mesmo a maioria: é apenas um fator a mais de atenção e, por isso, há uma frequência maior de consultas de pré-natal para prevenção. Para ficar atenta quando estiver longe do consultório: se tiver dor de cabeça na nuca ou alterações visuais, fale com seu (ou sua) médico, pois estes podem ser sinais de pré-eclâmpsia.

A ginecologista obstetra Andrea Menezes conta que existem alguns fatores de risco, como Alguns fatores de risco: se é a primeira gravidez, idade superior a 35 anos, gravidez de gêmeos ou mais, pré-eclâmpsia em uma gravidez anterior, doença renal crônica, diabetes, hipertensão arterial e obesidade. E dá dicas para evitá-la. "Exercícios físicos regulares, manter peso saudável, acompanhamento pré-natal com aferição de pressão e acessar fatores de risco que podem indicar medidas adicionais como o uso de aspirina em baixa dose".

Induzir ou não o parto?

A indução do parto é a administração de medicamentos (como prostaglandinas e ocitocina), que estimulam contrações, mas não é um método que deveria ser usado sem parcimônia e sim com indicações. "Entrar em trabalho de parto espontâneo é muito importante, e eu incentivo mesmo as pacientes que não querem parto normal, para garantir que é um bebê maduro funcionalmente, que ele determinou a hora de nascer. No entanto, às vezes não é possível aguardar, como no caso de uma doença da gestante, por exemplo, e a indução de parto pode ser necessária para reduzir riscos", afirma a ginecologista obstetra Julia Freitas, especialista em pré-natal de alto risco e parto humanizado.

Segundo a OMS, a indução aumenta a probabilidade de uso de anestesia no parto, internação em UTI, remoção do útero, cesárea e maior tempo de recuperação. Não que isso vá acontecer com você se houver a necessidade de indução! Mas é importante entender que não se trata de uma escolha e sim de necessidade real. E para se sentir segura em relação à existência dessa necessidade, o melhor mesmo é cuidar para que esteja sendo assistida por profissionais adequados. "É preciso ter uma equipe que respeite a fisiologia do parto", afirma a enfermeira obstetra Ana Luiza Zapponi, que ressalta que essa equipe engloba mais pessoas do que podemos imaginar em um primeiro momento. "Não adianta ter um obstetra humanizado e um pediatra que não siga essa linha. Quando falamos de parto, estamos falando do processo de nascer e nele estão englobadas as primeiras horas de vida do bebê. Não importa se está nascendo pela vagina ou pela barriga".

A pediatra Daniela Anderson ressalta a importância de ter uma equipe na qual você confie que nada será feito à toa. "Cada caso é único. Precisa ser avaliado e acompanhado pelo obstetra. Escolha obstetras verdadeiramente a favor do parto vaginal e não "cesaristas", que tenham equipe com enfermeira obstetriz ou trabalhe em hospital com retaguarda de plantonistas e estrutura de acompanhamento pré parto, para uma condução tecnicamente cuidadosa e respeitosa", orienta. Depois disso, confie na condução de sua equipe, pois é seu médico quem irá avaliar a real necessidade de indução.

Opções de parto: já parou para pensar em qual é a melhor para você?

Nós sabemos que, dependendo do parto desejado, é sim preciso investir uma quantia de dinheiro, mas há alternativas para que você tenha o parto escolhido de forma segura e dentro da sua realidade financeira. "Os custos de uma casa de parto ou de um médico particular que esteja disponível para o Plantão do Parto podem ser altos, então optar por um hospital público pode ser um caminho. Aconselho a gestante a olhar seus recursos disponíveis em um orçamento geral, para entender o impacto dessa decisão", conta a educadora financeira Dina Prates.

O que é importante saber? De forma bem resumida, existe a via de parto alta (cesariana) e o parto vaginal. "Hoje em dia, se fala muito em parto normal e parto humanizado. Parto normal não abraça, necessariamente, o protagonismo da mulher como a livre escolha de posição para parir, o poder de escolha dela sobre si e sobre o processo de nascimento do bebê. Parto na água, de cócoras, no escuro, com luz acesa, com ou sem analgesia, estão dentro do mesmo guarda-chuva do parto humanizado", explica a enfermeira obstétrica Ana Luiza Zapponi. Mas e se for cesariana?

De forma resumida, podemos pensar que ela pode ser considerada humanizada se for indicada para garantir a segurança da mãe e do bebê e mantiver as características acima, ainda que a via de parto seja outra. "Seria uma cesariana com equipe que preza pela importância daquele momento, não falando sobre outro assunto que não fosse o nascimento daquela criança, as luzes ficam apagadas com apenas o foco de luz onde é feita a incisura. Se a mulher quiser música, ela poder ter, por exemplo. e, assim que nasce o bebê, se for desejo da mulher ou do acompanhante, um deles faria o corte do cordão. Teria que garantir a golden hour, se o bebê está bem não tem outro lugar para ele estar que não seja o colo da mãe."

Curso de preparação para o parto, devo fazer?

Pode valer muito a pena, te deixando mais tranquila, segura e preparada! Mas, claro, não é imprescindível, você quem decide. "Traz conhecimento, segurança e desmistifica muita coisa. Chama-se educação perinatal", explica a doula Viviane Bon Campos.

Posições para o parto

A melhor posição será aquela na qual você se sentir confortável e, a menos que seu caso seja indicação de cesárea, como você vai parir não é uma decisão do profissional que acompanha o nascimento - que pode oferecer alternativas caso a posição não esteja ajudando na evolução do parto, mas nunca impor. "A mulher que deve escolher a posição que se sentir mais confortável, mas sabemos que posições em quatro apoios e deitada de lado tem menos índices de traumas no períneo, favorecem a saída do bebê e tem boa aceitação por parte das mulheres. Posição em que a mulher fique limitada de movimento como deitada de barriga para cima devem ser evitadas", explica a doula Viviane Bon Campos. E, acredite, você pode achar que vai querer parir de um jeito e mudar de ideia no momento, seja por desconforto, dor ou qualquer outro motivo. Por isso, é imprescindível ter profissionais que respeitem sua autonomia.

Quer ter ideias de algumas posições para parto normal ou natural e as diferenças entre elas?

  • Litotômica: É aquela de cena de filme, a mais tradicionalmente vista, com a mulher deitada de barriga para cima e as pernas abertas levantadas. apesar de comum, é uma posição que não facilita a saída do bebê e, se mantida por muito tempo, pode diminuir o aporte de sangue e oxigênio para ele - o que pode forçar o médico a aderir a procedimentos que acelerem o parto, como uso de ocitocina ou a prática da episiotomia (corte no períneo).
  • Lateral: Menos convencional e uma escolha muitas vezes instintiva, com a gestante de lado, com as pernas flexionadas, posição semelhante a que muitas mulheres dormem; a diferença é que uma das pernas fica levemente levantada para o bebê sair Quando a contração ocorre, a perna abaixa.
  • Em pé: Calma, não é ruim como pode soar em um primeiro instante. A gravidade ajuda na expulsão e, como a gestante é estimulada a caminhar em trabalho de parto assistido por uma equipe humanizada, pode ser que o parto aconteça naturalmente com você em pé, apoiando no par, em uma parede ou segurando na cama. Você terá mais liberdade de movimentos e também terá o aumento dos diâmetros pélvicos
  • Sentada na banqueta: A mulher se posiciona em uma banqueta própria para isso, com um buraco no meio por onde o bebê passa - chegando próximo à sensação de cócoras. o acompanhante pode ficar atrás para dar apoio, você porque querer se curvar para frente, ou segurar em algo ou alguém do lado; com seus pés no chão, seus músculos do assoalho pélvico estarão mais relaxados.
  • Semi sentada: Outra variação que facilita a descida do bebê, mas com um pouco mais de suporte para a mãe que estará inclinada na cama, com apoio para os pés e abaixo dos isquios, permitindo circulação adequada de oxigênio e sangue para o bebê.
  • Quatro apoios: Lendo agora pode parecer desconfortável pelo peso em seus joelhos, mas pode ser uma boa opção, aliviando a lombar que incomodam nas gestantes. Amplia a abertura da pelve, deixando a passagem do bebê mais fácil e pode ser uma alternativa naturalmente encontrada em partos na água, quando há espaço na banheira.
  • Cócoras: Também pode ser feita na água, com alguém dando suporte por trás. Tem gravidade, alívio da pelve, maior espaço para a passagem do bebê. Você ficará agachada com os joelhos flexionados e os pés no chão e pode manter as mãos apoiadas em alguém ou algo. Fora da banheira, o par ou a doula pode permanecer abaixada junto com você.
  • Parto na água: pode ficar em algumas das posições acima, desde que não esteja com acesso de analgesia que fica na coluna (precisa ser um parto natural). "O corpo fica mais leve na água, o que faz com que a mulher se movimente com mais facilidade deixando a pelve mais disponível para se mover e o bebê passar mais fácil. A temperatura quente também ajuda na analgesia natural", salienta a doula Viviane.

Livros, filmes e séries

Livro de cabeceira: A gravidez dia a dia - Você vai ter um guia sobre os 280 dias de gravidez, parto e nascimento, com uma página para cada dia. Um mix de conselhos práticos e explicações.

Livro de cabeceira: 9 meses - Um guia prático baseado em evidências, do positivo ao parto, dos exames e consultas às mudanças do corpo.

Filme para colocar os pés para cima: O Renascimento do Parto - um documentário sobre o alarmante número de cesarianas e partos com intervenções traumáticas, nos faz refletir e querer transformar

Livro de cabeceira: Os 60 dias mais importantes da gravidez - livro compacto e didático do já conhecido autor Pierre Dukan, sobre como a alimentação pode ser crucial na saúde do bebê, com olhar especial para o quarto e quinto mês de gravidez

Livro de cabeceira: Doula, Mulheres que se ajudam no momento mais importante da gestação - A autora Susana Moscardini compartilha sua experiência como gestante, educadora perinatal e doula, contando sobre os encontros com mulheres que reconheceram sua força no acontecimento mais marcante e extraordinário de sua vida.

Livro de cabeceira: A internet não é legal para gestantes - Escrito pelo obstetra, Anderson Pinheiro, parte de perguntas reais de pacientes, trazendo pesquisas e evidências científicas que vão de encontro de mitos disseminados na internet e lendas geracionais