Gustavo Lins leva a arte da reciclagem para a alta-costura
PARIS, 5 Jul 2011 (AFP) -Vestidos sensuais construídos com retalhos de tecido e reorganizados em mosaicos: único latino-americano membro da seleta Câmara de Alta-Costura parisiense, o brasileiro Gustavo Lins desfilou nesta terça-feira (5) uma coleção que elevou a reciclagem ao padrão de arte.
"É uma coleção arquitetural, como outras que fiz, mas nesta utilizei retalhos de lã e cashmere que seriam desperdiçados em meu ateliê", disse de Paris o estilista em entrevista à AFP. Lins estudou arquitetura no Brasil e em Barcelona, Espanha, antes de se consagrar na moda, e por isso essa arte está muito presente em suas coleções.
"Esse é o o princípio da coleção: a reciclagem", disse o estilista, que desfila há quatro anos, a convite da federação do ramo no seleto e elitista grupo da alta-costura, que segue padrões rígidos como a obrigatoriedade de que as peças sejam costuradas à mão, únicas e sob medida.
Esta coleção, a 17ª apresentada por Gustavo Lins nas passarelas de Paris, onde também desfilou coleções masculinas prêt-à-porter, foi elegante e chique, mas extremamente fácil de usar. Lins criou para a temporada outono-inverno 2011-2012 vestidos em forma de túnica -leves para o dia, voluptuosos para a noite, com decotes atrevidos nas costas e recortes que valorizavam o corpo das modelos. Um casaco feito com retalhos de vison e couro e um tailleur com saia e jaqueta em crepe japonês completavam os looks do desfile. Nos pés, scarpins pretos, sérios e elegantes.
Os vestidos, feitos com tecidos suaves, eram leves "como para serem colocados rapidamente ao sair da piscina", disse o estilista. "Queria criar vestidos fáceis de usar, que envolvessem o corpo como uma toalha", disse Lins, acrescentando que os looks foram feitos com grandes quadrados de tecido. "Não há círculos em minha coleção, só quadrados e cortes diagonais".
Modelo desfila look da alta-costura de Gustavo Lins para o Inverno 2011 em Paris (05/07/2011)
A paleta de cores era característica de Lins: branco, preto, cinza e azul. Mas o estilista inovou desta vez, com cores que evocavam seu Brasil natal, como amarelo, verde limão, lima e azul turquesa.
Apesar do calor no pequeno salão ao lado dos jardins do Palais Royal, onde Lins apresentou sua coleção, o público deixou de se abanar para aplaudir com entusiasmo o desfile.
O toque diferente nesta coleção foi o uso de camisas, jaquetas, vestidos e casacos cortados diretamente no tecido, sem moldes, explicou Lins, cujas criações se caracterizam por uma modelagem apurada.
O brasileiro aprendeu a técnica do moulage, em que o tecido é cortado e alinhavado no próprio corpo da modelo, trabalhou como aprendiz em grandes maisons parisienses como as francesas Louis Vuitton e Jean Paul Gaultier, a japonesa Kenzo, e principalmente com o estilista britânico John Galliano, talentoso ex-diretor artístico da maison Dior.
Por ser o quarto ano consecutivo que a Câmara de Alta-Costura parisiense convida Lins para desfilar, o estilista poderia se transformar em membro titular desse seleto grupo, do qual fazem parte grandes nomes da moda mundial como Dior, Chanel, Jean Paul Gaultier, Givenchy, os italianos Giorgio Armani e Valentino e os libaneses Elie Saab e Rabih Kayrouz.
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