Gustavo Lins se inspira no Brasil para sua coleção de alta-costura em Paris
Com uma coleção Verão 2015 que evoca o Brasil, onde nasceu, Gustavo Lins voltou nesta terça-feira (27) à passarela de alta-costura de Paris, lugar privilegiado e exclusivo que apenas alguns estilitas em todo o mundo podem dividir.
"Hoje faz exatamente 28 anos que cheguei à Europa, em 27 de janeiro de 1989", disse em entrevista à AFP o estilista de Belo Horizonte, após o desfile organizado nos salões do Museu de Artes Decorativas, no palácio do Louvre.
Descendente de uma família de europeus que imigraram para o Brasil no século XVI e que se miscigenaram com os indígenas, Lins explicou que "tudo isso aflorou nesta coleção, a antiguidade das pedras preciosas, a inspiração na fluidez do ar, a água e os cavalos dos campos do Brasil".
Muito leve, a coleção de Lins --que no ano passado ficou ausente dos desfiles parisienses-- incluiu formas envolventes e suaves. Os casacos aparecem sem estrutura, quase como batas.
Lins abriu sua coleção com modelos masculinos usando confortáveis sobretudos com lapela larga e um poncho de lã. "Há uma verdadeira diversidade entre homens e mulheres, muitas roupas de homens são usadas por mulheres e vice-versa: eu tinha vontade de misturar os gêneros", disse.
Após sua chegada à Europa há quase três décadas, Gustavo Lins se instalou em Paris, onde em 2004 fundou sua marca de prêt-à-porter, antes de ser admitido também na Alta-costura, primeiro como convidado e depois como membro permanente, a partir de 2011.
Arquiteto de formação, começou na indústria nos ateliês de John Galliano, Kenzo e Jean Paul Gaultier, entre outros.
No total, 24 maisons de alta-costura (14 na lista oficial que inclui Lins e os convidados especiais) desfilam esta semana em Paris.
Diferentemente das semanas de prêt-à-porter organizadas em Nova York, Londres e Milão, Paris é a única capital da moda que organiza desfiles de alta-costura, duas vezes por ano, em janeiro e julho.
Esta especificidade parisiense é protegida juridicamente por uma comissão do Ministério da Indústria francês em função de critérios muito precisos. Recompensa em particular o trabalho feito sob medida nos ateliês do estilista.
Confeccionada à mão, implica também no uso de material de ponta, como bordados e rendas, acompanhado de pedras preciosas ou acessórios.
Lins disse que considera a alta-costura "como um laboratório de pesquisa e de observação, de 'savoir-faire' e de excelência".
Em 2012, incluiu em seu desfile um vestido feito com porcelana de Sèvres, muito tradicionais.
As maisons francesas mais famosas, como Christian Dior e Chanel, dizem ter cada uma cerca de 1.000 clientes de alta-costura.
"Antes da Primeira Guerra mundial, o primeiro cliente de Alta-costura no exterior era a Inglaterra e o segundo a Argentina", disse à AFP Didier Grumbarch, ex-presidente da Federação Francesa de Costura.
Os Estados Unidos alcançavam apenas o sexto lugar, atrás da Suíça, mas depois da guerra as norte-americanas passaram ao primeiro lugar, que hoje começa a ser disputado por mulheres da China, Índia e Oriente Médio.
"A clientela da alta-costura aumentou", comentou Grumbach. "Há muito mais clientes que nos anos 1960, mas que também compram prêt-à-porter", acrescentou o especialista.
Gustavo Lins disse à AFP que além de sua marca de prêt-à-porter tem atualmente, no total, "cerca de 15 clientes" para seus modelos de alta-costura, que visitam seu ateliê parisiense vindas da Rússia, Cazaquistão, Estados Unidos e Alemanha.
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