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Prestes a fazer 80 anos, modelo de lingerie inspira outras mulheres

A estilista e modelo Helena Schargel participa de sessão de fotos para sua nova coleção de lingerie - Miguel Schincariol/AFP
A estilista e modelo Helena Schargel participa de sessão de fotos para sua nova coleção de lingerie Imagem: Miguel Schincariol/AFP

São Paulo

17/12/2019 09h36

Vestindo nada além de sutiã e calcinha rendados, Helena Schargel, uma avó de respeito, faz uma pose sedutora durante sessão de fotos de sua última coleção de lingerie para mulheres com mais de 60 anos.

"Ótimo, maravilhosa!", incentiva o fotógrafo, enquanto Helena, às vésperas de completar 80 anos, em 23 de dezembro, encara, confiante, a câmera em um armazém reformado em São Paulo.

Após décadas trabalhando em uma tecelagem, a flexível e ativa Helena deixou a aposentadoria mais de dois anos atrás para se dedicar à missão de resgatar as mulheres mais velhas da invisibilidade.

Sua estratégia? Uma moda sexy, criada especialmente para elas e exibida por ela.

"Esse projeto tem um propósito: tirar as mulheres da invisibilidade", explica Helena à AFP, em seu apartamento elegantemente decorado na maior cidade do país.

Ela lançou várias coleções de roupas íntimas com a brasileira Recco Lingerie. Uma linha esportiva, em conjunto com a marca Alto Giro, foi lançada este ano, e vem muito mais pela frente, diz ela.

Helena, que ajuda no desenho das peças, diz que as brasileiras com mais de 60 anos costumam ser negligenciadas por empresas de moda, pela sociedade e até por elas mesmas.

Ela compartilha palavras de estímulo em sua conta no Instagram, que tem cerca de 18 mil seguidores, a maioria mulheres de todas as idades.

Mensagens como "arrisque-se" e "você pode tudo" inundam seu feed, que recebe centenas, às vezes milhares de curtidas e comentários.

"Eu nunca pensei em quantos anos tenho, isso nunca me incomodou", diz Helena, que considera uma loucura a popularidade da cirurgia plástica no Brasil.

"Há muito pouco tempo, eu descobri que não tenho mais 33", complementa.

Filha de imigrantes poloneses, Helena Schargel começou a fazer roupas na adolescência e as vendia na confecção dos pais.

Foi o começo de toda uma vida trabalhando com moda. No meio do caminho, ela se casou duas vezes e teve dois filhos. Agora, ela tem cinco netos.

A quase octogenária, que se movimenta com bastante agilidade, não se acostumou com a aposentadoria.

"Eu agradeço a Deus, eu não preciso fazer ginástica", diz ela, enquanto ri, sentada em uma cadeira, vestindo calça legging preta e branca, blusa ampla combinando e tênis.

"Eu faço pilates três vezes por semana. Faz bem para mim e para minha alma", acrescenta.

"Absurdamente confortável"

A decisão de Schargel de desfilar de lingerie é ousada em um país machista, onde as mulheres mais velhas são tratadas como se não estivessem mais vivas, explica à AFP a editora-chefe da Vogue Brazil, Paula Merlo.

"Ela nos faz lembrar que há vida depois dos 60, 70 e que pode ser sexy, ainda pode ser divertida e também rentável", acrescentou.

Depois de um pouco de frio na barriga, Helena diz sentir-se confortável vestindo lingerie em público.

Determinada a parecer o mais natural possível, ela insiste em que suas fotos não sejam retocadas.

"Eu sempre falo: por favor, deixa todas as ruguinhas a que tenho direito. Elas são muito importantes. Mostram que cheguei aqui e agora", disse.

Em sua longa sessão de fotos, Helena alterna, descalça, entre o vestiário e o estúdio, exibindo roupas íntimas e peças de sua nova coleção de pijamas para vestir nas ruas.

Ela se move com facilidade em frente à câmera, enquanto o fotógrafo Pablo Saborido faz as fotos.

"Eu gosto muito de trabalhar com pessoas que saem um pouco do perfil de modelo", diz Saborido, de 39 anos.

Helena diz que suas peças de lingerie são "absurdamente confortáveis". Algumas peças "ajudam a levantar o bumbum", diz.

À medida que a população global envelhece, Helena diz que o mundo precisa se preparar para a explosão de idosas nas próximas décadas.

"O mundo está ficando cheio de pessoas mais velhas. Daqui a 20 ou 30 anos, vai ter muito mais vovós do que gente jovem", diz ela.

"Nós precisamos nos preparar para isso. As empresas precisam se preparar para isso", acrescentou.