Mulheres estão na linha de frente dos protestos na Tailândia
Denúncias de violência sexual e doméstica, descriminalização do aborto e legalização da prostituição são algumas das reivindicações das mulheres que estão na linha de frente das manifestações na Tailândia.
A AFP se reuniu com três delas. No front de batalha, elas lutam pela liberdade de expressão das mulheres, incomum no reino, no qual, apesar de as tailandesas terem poder econômico, continuam excluídas das instituições que governam o país.
Negociadora-chefe
"Cortamos o arame farpado. Estamos nos aproximando do Parlamento. Não vamos recuar". Chonthicha Jangrew, conhecida como "Lookkate", coordena as ações de choque dos manifestantes e é a única habilitada a negociar com as forças da ordem.
Esta jovem de 27 anos, estudante e militante dos direitos humanos desde o golpe de 2014, foi indiciada 13 vezes em menos de cinco meses.
Ela também é alvo de ultramonarquistas: "Recebo ameaças de morte, insultos de caráter sexual", mas "temos que fazer o mesmo que os homens, se queremos igualdade".
Assim como a maioria dos manifestantes, ela exige a renúncia do primeiro-ministro e a reforma da monarquia e da Constituição.
Também defende uma maior representação das mulheres em cargos de decisão no país. As mulheres não têm voz no Exército, nem na monarquia, e ocupam 14% das cadeiras do Parlamento e 10% dos cargos do Executivo.
Filha de pai militar, esta ativista cresceu em um ambiente conservador. "Precisei me emancipar. Não escondo minhas opiniões da minha família. Eles as aceitam, mas têm medo de mim", conta.
Carreira destruída?
"Cancelaram parte dos meus contratos", diz Inthira Charoenpura, ou "Sai", que é, desde a adolescência, uma estrela da televisão e do cinema na Tailândia. Desde que ela se aliou aos manifestantes, foi marginalizada em sua profissão.
"No show business, ninguém ousa falar sobre política por medo de que sua carreira seja destruída", comenta.
Seguida por 450 mil pessoas nas redes sociais, a atriz de 40 anos é o único rosto famoso que reconheceu apoiar financeiramente os protestos e corre o risco de ser indiciada pelo crime de "lesa-majestade".
Com as doações que arrecada, ela distribui alimentos, capacetes, máscaras de gás e objetos infláveis, usados como escudo para se proteger da polícia.
"Os manifestantes são muito corajosos. No nosso país, os movimentos de protesto com frequência terminam em mortos", disse ela, referindo-se à repressão aos Camisas Vermelhas em 2010, com saldo de 90 vítimas.
Ela ainda não fala de uma vitória para as mulheres, mas de uma "mudança irreversível".
"Essa luta é mais importante do que o cinema que corre nas minhas veias", diz Sai, filha de um diretor de cinema e de uma produtora.
Aborto
Em 2013, Chumaporn Taengkliang, conhecida como "Dao", conseguiu entrar no país com 10 mil pílulas abortivas escondidas em seu corpo, levadas clandestinamente da China. À época, eram difíceis de serem encontradas na Tailândia.
Sete anos depois, transformada em uma das líderes do movimento pró-democracia, de cima de uma pequena plataforma, ela fala para uma multidão e pede a descriminalização do aborto.
A interrupção da gravidez é legal no reino em certos casos (risco para a saúde da mãe, ou estupro), mas uma mulher sem estas condições pode ser perseguida na Justiça e ser condenada a três anos de prisão.
A ativista também defende a legalização da prostituição e ousa criticar a vida tumultuada do rei, que conseguiu uma concubina oficial. O fato é sem precedentes desde o fim da monarquia absoluta, em 1932.
Nascida em uma família conservadora no sul do país, onde "o pai batia na mãe", ela conta que desde os 12 anos sabia que "tinha que lutar contra tudo isso".
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