Peru tem aumento alarmante de desaparecimento de mulheres
Lima, 20 Jul 2021 (AFP) - Cinco casos por dia antes da pandemia, oito durante a quarentena de 2020, e 16 agora: o Peru registra um aumento silencioso e alarmante do desaparecimento de mulheres.
As famílias afetadas asseguram que a polícia e o Ministério Público não se preocupam muito em investigar estes casos, porque presumem que as vítimas saíram voluntariamente, sem considerar que o Peru tem altos números de feminicídio e que existem redes de tráfico de pessoas e de prostituição forçada.
"Não há investigação séria. Pensávamos que a polícia nos ajudaria, mas não é o caso", diz à AFP Patricia Acosta, que procura há cinco anos sua filha de 23 anos e suas duas netas, desaparecidas depois de uma festa infantil em Lima.
Problema endêmico
O desaparecimento de mulheres é um problema endêmico no Peru, mas os cidadãos parecem estar mais preocupados com a pandemia e com a crise econômica.
No primeiro semestre, foram denunciados 2.891 desaparecimentos de mulheres, uma média de 16 por dia, segundo a Ouvidoria. Quase dois terços são menores (1.819).
Durante a quarentena de mais de 100 dias devido à pandemia em 2020, entre março e junho, ocorreram em média oito desaparecimentos por dia, e cinco em 2019, segundo dados oficiais.
"Esse aumento é preocupante, porque estamos falando de mulheres que, em sua maioria, são meninas e adolescentes", diz a vice-diretora de Direitos da Mulher da Ouvidoria, Eliana Revollar, à AFP.
"Há organizações [criminosas] que estão por trás disso, e essa é uma questão que preocupa a Ouvidoria", afirma.
"É um número alarmante, e tão alarmante que, por exemplo, também existe uma associação para o desaparecimento de mulheres com os feminicídios", acrescenta.
Em 2019, um décimo dos 166 feminicídios foram inicialmente classificados como desaparecimentos, de acordo com a Ouvidoria. No primeiro semestre deste ano ocorreram 76 feminicídios, número semelhante a 2020.
"Temos casos em que os cônjuges, depois de matarem as esposas, denunciam o desaparecimento e fingem que procuram suas parceiras", relata Revollar.
"Busca sem prazo de validade"
Patricia Acosta conta que sua filha Estefhany Díaz, de 23 anos, levou as filhas Tatiana, 5, e Yamile, 7 meses, para uma festa infantil no domingo de 24 de abril de 2016. Elas nunca mais voltaram.
"É como se a terra as tivesse engolido. Minha filha não desapareceu, desapareceram com ela. Ainda estamos procurando por elas, não tem prazo de validade", lamenta a mulher de 49 anos.
Norma Rivera, de 56, procura por sua filha Shirley Villanueva há mais de quatro anos.
Shirley desapareceu depois de ir com três colegas da faculdade de Geografia para um local, onde assistiria a uma partida entre as seleções do Peru e da Venezuela, em 23 de março de 2017.
"Até hoje, apesar das circunstâncias, apesar da pandemia, continuo procurando", declara Rivera, que percorre as praias e outros lugares de Lima em busca de pistas para encontrar sua filha de 24 anos.
Dias depois, seus colegas contaram à polícia que, depois da partida, foram para a praia de Marbella, beberam álcool, Shirley entrou no mar e se afogou. Não há cadáver, nem outra evidência que apoie essa versão. A mãe continua, então, a procurar pela filha desaparecida.
"Enquanto eu tiver vida e força, continuarei na luta para descobrir a verdade sobre o que aconteceu com minha filha", diz Rivera.
Em fevereiro de 2020, gerou grande comoção a descoberta em Lima do corpo mutilado de Solsiret Rodríguez, uma estudante universitária e ativista contra a violência de gênero de 23 anos, desaparecida quatro anos antes.
Seu desaparecimento mobilizou organizações femininas, mas a polícia garantiu que Solsiret havia partido para o norte do país com uma amiga. O então ministro do Interior, Carlos Basombrío, declarou o mesmo perante o Congresso.
Após a descoberta, o ex-ministro se desculpou e afirmou que o trabalho de investigação policial foi "terrível e até frívolo".
Pelo crime contra a universitária, foram presos seu cunhado e a companheira dele.
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