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Naomi Osaka: o nome no centro das atenções olímpicas e contra o racismo

Naomi Osaka ascende a pira olímpica na abertura das Olimpíadas de Tóquio - Reprodução
Naomi Osaka ascende a pira olímpica na abertura das Olimpíadas de Tóquio Imagem: Reprodução

Da AFP, em Tóquio

24/07/2021 10h33

Emili Omuro se inspira no papel de Naomi Osaka na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Tóquio, mas essa adolescente filha de um casal inter-racial acredita que o Japão deve melhorar sua aceitação de pessoas mestiças.

Na sexta-feira, Osaka, de 23 anos, de mãe japonesa e pai haitiano, vencedora de quatro Grand Slams no tênis, escalou uma réplica do Monte Fuji no Estádio Olímpico de Tóquio para acender a pira olímpica, o grande momento da abertura dos Jogos marcados pela pandemia.

Hachimura, outro símbolo

Osaka não foi a única filha de um relacionamento inter-racial a representar o país-sede. O jogador da NBA Rui Hachimura, de mãe japonesa e pai beninense, foi um dos porta-bandeiras da delegação local.

Osaka e Hachimura são adorados no Japão e fecharam acordos de patrocínio e publicidade significativos, de produtos alimentícios a cosméticos. Mas na vida real, muitos jovens como eles enfrentam preconceito em uma sociedade muito homogênea e conservadora.

Filha de mãe japonesa e pai negro americano, Emili Omuro, de 14 anos, diz que enfrenta discriminação rotineiramente onde mora, em uma cidade ao norte de Tóquio.

"As pessoas comentam pelas minhas costas e fazem piadas sobre mim nos clubes ou quando eu ando na rua", explica à AFP.

Para tentar dar um passo à frente, Omuro apresentou sua candidatura para carregar a tocha olímpica nos revezamentos anteriores aos Jogos.

"Devemos criar uma sociedade na qual as pessoas possam se sentir confortáveis, mesmo que sejam diferentes", explica a jovem.

O canadense negro Kinota Braithwaite também está muito consciente da discriminação contra filhos de casais inter-raciais no Japão. Sua filha Mio, de mãe japonesa, sofreu episódios racistas na escola que frequenta em Tóquio.

"Aconteceu comigo quando eu era criança no Canadá e realmente me parte o coração", diz à AFP. Este ano ele publicou um livro infantil intitulado 'Mio The Beautiful' sobre a experiência de sua filha.

O professor Braithwaite acredita que a discriminação no Japão se deve "à ignorância, não ao ódio". E considera atletas como Osaka e Hachimura "modelos" para as crianças.

"Isso abre os olhos, é uma coisa boa", enfatiza.

O país asiático continua tendo uma sociedade muito homogênea. Uma análise dos dados do governo pela agência de notícias Kyodo revelou que apenas 20.000 bebês dos 1.020.000 nascidos em 2014 vieram de um progenitor japonês e outro estrangeiro.

'Simbólico, mas conta'

"Historicamente, pessoas mestiças sempre existiram no Japão, mas a imagem das pessoas mestiças sempre foi a de brancos ou caucasianos e japoneses", diz Sayaka Osanami Torngren, especialista em migração e questões étnicas da Universidade de Malmoe.

Hoje em dia, cada vez mais pessoas de origem negra e japonesa ou mestiças de origem asiática "falam abertamente sobre suas experiências de discriminação ou racismo".

Em 2019, um patrocinador da Naomi Osaka, a Nissin Foods, esteve no centro de uma polêmica sobre um anúncio de desenho animado retratando a jovem atleta com a pele clara. E uma dupla de comediantes japoneses se desculpou por dizer que estava "muito queimada de sol" e precisava de um "alvejante".

Hachimura revelou há alguns meses que recebia mensagens racistas "quase todos os dias".

"E ainda há pessoas que dizem que não há racismo no Japão", escreveu seu irmão Aren Hachimura, postando uma mensagem odiosa que recebeu nas redes sociais.

Para Torngren, ver Hachimura e Osaka representar o Japão é importante: "Mesmo que seja simbólico, conta".