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'Cenas bárbaras': mulher descobre que era dopada pelo marido para ser estuprada por outros

05/09/2024 13h56Atualizada em 05/09/2024 13h58

Alerta de gatilho: este texto traz relatos de abuso sexual

"Os policiais salvaram a minha vida", disse nesta quinta-feira (5) em um tribunal Gisèle Pelicot, que foi dopada pelo marido por 10 anos para ser estuprada por dezenas de homens contatados online na França.

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A vítima de 71 anos começou seu depoimento no tribunal criminal de Avignon, no sul de França, no quarto dia deste grande julgamento contra 51 homens, incluindo seu marido, por estupro qualificado entre 2011 e 2020.

Este caso, que horrorizou a França, foi revelado por acaso quando seu marido Dominique Pelicot, de 71 anos, foi preso em 2020 filmando por baixo das saias de clientes de um shopping center.

Os investigadores encontraram em seu computador e em pen drives milhares de fotos e vídeos da vítima, visivelmente inconsciente, enquanto dezenas de estranhos a estupravam.

"Meu mundo está desabando, tudo está desabando, tudo que construí durante 50 anos", disse Gisèle Pelicot, lembrando o momento em que a polícia lhe mostrou algumas fotos no dia 2 de novembro de 2020.

Na imagem, "estou inerte, na minha cama e estão me estuprando. São cenas bárbaras", relatou aos cinco magistrados sobre os estupros organizados pelo pai de seus filhos.

Nesse dia, a vítima se recusou a ver as filmagens encontradas pelos investigadores dos cerca de 200 estupros sofridos, primeiro na região de Paris e depois em Mazan, no sul de França, até 2020.

"Me tratam como uma boneca de pano (...). Eu me pergunto como aguentei", disse ela, que acrescentou que foi "sacrificada no altar do vício".

"O corpo está quente, não frio, mas estou morta na minha cama."

'Falo por todas estas mulheres'

Alguns acusados alegam que não sabiam que o marido administrava comprimidos para dormir e que pensavam que se tratava de um casal libertino, algo que a vítima negou no início do seu depoimento.

"Nunca pratiquei (...) troca de parceiros. Gostaria de deixar claro", disse a mulher, que reafirmou pouco depois ao ser questionada pelo presidente do tribunal, Roger Arata: "Nunca fui cúmplice" nem "fingi que estava dormindo".

Dos restantes homens que a estupraram, ela só reconhece um, que foi à sua casa para falar sobre ciclismo com o marido. "Às vezes eu o encontrava na padaria e o cumprimentava. Não passava pela minha cabeça que ele me estuprou", explicou.

Os réus podem pegar até 20 anos de prisão neste julgamento que deve durar até 20 de dezembro. Na próxima semana está marcado o primeiro interrogatório de seu marido, com quem está em processo de divórcio.

"Será explicado, será justificado, se houver justificativa, porque é imperdoável", declarou à AFP sua advogada Béatrice Zavarro, indicando que seu cliente, que acompanhou de cabeça baixa o depoimento da sua mulher, "desmaiou" durante o intervalo.

Dirigindo-se ao acusado, admitiu ter "um sentimento de repulsa". "Assumam a responsabilidade pelas suas ações pelo menos uma vez na vida", exortou-os durante a sua declaração determinada no Palácio da Justiça de Avignon.

Gisèle Pelicot queria fazer deste julgamento um exemplo do uso de medicamentos nos estupros e, no início do processo, rejeitou que fosse realizado a portas fechadas como solicitado pelo Ministério Público e parte da defesa.

"Falo por todas estas mulheres que estão drogadas e não sabem disso, em nome de todas estas mulheres que talvez nunca o saibam (...), para que mais mulheres não tenham que sofrer submissão química", sublinhou.

Embora sua família inicialmente tivesse solicitado que seu sobrenome não fosse publicado, o que foi prontamente respeitado pela AFP e outros meios de comunicação, seus advogados autorizaram nesta quinta-feira (5), porque "mais do que nunca [seus filhos] estão orgulhosos de sua mãe".

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