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'Só pais próximos poderão perceber quando há algo errado', diz especialista

do Estadão Conteúdo, em São Paulo

18/03/2019 09h57

Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", Timoteo Madaleno Vieira, doutor em psicologia e professor do Instituto Federal de Goiás, fala sobre traumas e doenças mentais que podem fazer com que jovens tenham comportamento agressivo.

Qual é o papel dos pais e da educação no desenvolvimento de comportamentos agressivos?

O ambiente familiar tem uma importância muito grande. É o primeiro ambiente onde se espera que as primeiras crenças se estruturem. São as crenças que definem o que a pessoa pensa sobre si mesma, sobre a vida, sobre os outros, sobre a realidade. Os estilos parentais têm uma importância muito grande na comunicação de afeto e nas orientações básicas de conduta. A falta de limites e de afeto produzem efeitos deletérios muito significativos para o desenvolvimento das crianças, com desdobramentos para a adolescência e a vida adulta. A comunicação de limites claros, a repreensão pertinente e com motivos bem definidos ou mesmo, em alguns casos, a punição por comportamentos inadequados são um modo de comunicar afeto. É possível que crianças que nunca são punidas e que não têm limites não se percebam como importantes e amadas.

O bullying e isolamento são fatores importantes na ação de atiradores como os de Suzano?

Ser ridicularizado e agredido é algo impactante. O modo de responder a isso, no entanto, depende de como a vítima interpreta essa realidade. Uma pessoa sofre bullying e reage na hora, outra desenvolve fobia social, outro começa a alimentar desejo de vingança, enquanto outros contam aos pais, pedem ajuda, superam e seguem a vida. O que define a resposta de cada um são as crenças a partir das quais cada um atribui sentido a essas experiências. Os relatos sobre atiradores de vários casos de school shooting (atiradores em escolas) ao redor do mundo mostram que com frequência os agressores foram vítimas de bullying. Ao mesmo tempo, mostram que quase sempre há uma distância dos pais ou cuidadores, o que facilita um longo processo de estruturação de crenças que envolvem autopercepção negativa, raiva, desejo de vingança, delírios que partem do desejo de sair da condição de pessoas estranhas, insignificantes e feias para se tornarem mártires que entram para história.

Como explicar que uma pessoa que tenha sofrido bullying e se sentido frágil acredite que estará agindo pelos fracos com tamanha violência?

Num mundo não midiático, provavelmente isso aconteceria de outra forma. Quando um massacre acontece, sobretudo desde Columbine, em 1999, a divulgação é feita de forma massiva na TV e na internet. Os agressores sabem. Sabem também que ocuparão o noticiário por muito tempo e serão lembrados. Eles planejam sua ação incluindo o efeito midiático que querem produzir. Sabem que há muitos como eles, se sentindo vulneráveis e enxergando a vida de modo semelhante ao deles. O que querem é ser lembrados como pessoas que reagiram. A interpretação do quanto essa reação é aceitável passa pelo filtro distorcido de crenças muito complicadas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.