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Franceses constroem castelo com técnicas medievais

23/08/2010 16h38

Um castelo com estilo arquitetônico do século 13 está sendo construído na região francesa da Borgonha com os métodos de edificação e materiais utilizados na Idade Média.

Equipamentos elétricos, ferramentas modernas, cimento e veículos motorizados foram totalmente banidos do canteiro de obras "mais louco do mundo", como dizem os responsáveis pelo projeto.

O castelo Guédelon, situado a cerca de 200 quilômetros ao sudeste de Paris, começou a ser construído em 1998 e deve ser finalizado até 2025, segundo o mestre de obras do projeto, Florian Renucci.  O projeto tem objetivos de pesquisa histórica e também de turismo.

Artesanal

Em Guédelon, tudo é produzido no local e feito à mão, desde os enormes pregos de ferro utilizados nas tábuas da ponte aos cestos de vime que podem carregar até 80 quilos, usados no transporte dos materiais.

Em razão disso, os operários se dividem em diferentes especialidades, como cortadores de pedras, ferreiros, lenhadores, carpinteiros, ceramistas que fazem as telhas e tecelões de cordas. "As ferramentas também correspondem às usadas naquela época. Fizemos adaptações, baseadas em pesquisas", disse Renucci à BBC Brasil.

Para erguer os blocos de pedras utilizados na construção dos muros do castelo, por exemplo, um operário caminha dentro de uma roda de madeira ligada a cordas. É possível levantar, nesse aparelho semelhante às rodas usadas em jaulas por hamsters, centenas de quilos somente com a força das pernas.

O fundador do projeto para resgatar os métodos medievais de construção, Michel Guyot, quis criar uma experiência científica, que também levasse em conta critérios históricos e econômicos do período. A construção de Guédelon tenta imitar o que seria uma fortaleza de um "pequeno" senhor feudal do século 13.

A localização do castelo, nos arredores do vilarejo de Saint-Sauveur-en-Puisaye, não foi escolhida por acaso. Todas as matérias-primas utilizadas na construção, como pedras, madeiras e a terra, usada para fabricar as telhas e a argamassa, estão disponíveis na área.

No local do castelo funcionava uma antiga pedreira e existe uma floresta nos arredores.

Além de reduzir os custos da obra, a facilidade para obter os materiais também permite economia de tempo, já que o único meio de transporte no local são as carroças puxadas por cavalos, afirma Renucci.

Na Idade Média, isso também era levado em conta. Os transportes custavam caro e os inúmeros "pedágios" e tributos cobrados pelos senhores feudais podiam dobrar o custo dos materiais, afirmam os responsáveis do projeto.

Turismo

Em Guéledon, os visitantes podem ver a transformação das matérias-primas em materiais de construção. "Isso é algo inédito em uma construção nos dias de hoje. Atualmente, quase tudo é feito em máquinas na China e entregue em contêineres", diz o mestre de obras.

Vários arqueólogos, historiadores e especialistas em castelos participam da realização da obra, que também tem um objetivo pedagógico e de transmissão das técnicas utilizadas. Os operários atuam ainda como "guias turísticos" e explicam aos visitantes como é feita a produção dos diferentes materiais utilizados na construção.

No ano passado, o castelo foi visitado por 340 mil pessoas, segundo a assessoria de imprensa. Como não existem documentos escritos sobre os métodos de construção medievais, os responsáveis pelo projeto visitaram edificações do século 13 e realizaram pesquisas baseadas em estudos científicos.

A composição exata da argamassa na Idade Média foi um dos primeiros obstáculos encontrados. "Fizemos várias análises e descobrimos uma mistura de cal com areia que corresponde à utilizada nas construções da época", diz Renucci. Tudo é feito à mão, sem o uso de betoneiras, ressalta o mestre de obras, acrescentando que já existia naquela época, como em uma empresa moderna, uma verdadeira logística de produção para que não faltasse material. Quando for finalizado, o castelo deverá ter 2,5 mil metros quadrados de área construída.