Concurso de mini-miss causa polêmica na França

Daniela Fernandes
Divulgação

Concursos de mini-miss estão provocando polêmica na França. Políticos de diferentes partidos e movimentos feministas denunciam a “hipersexualização de crianças” e pedem a criação de uma lei proibindo esse tipo de evento.

No fim de setembro, um concurso de beleza infantil em Bordeaux, no sudoeste da França, teve de ser cancelado devido a protestos de parlamentares e de organizações feministas.

Dois deputados socialistas escreveram uma carta às autoridades criticando os concursos de mini-miss que tornam, segundo eles, as crianças “objetos de sedução, avaliados por adultos, com uma perda total da inocência”.

Eles pedem que o governo proíba esse tipo de concurso e a divulgação de “imagens sexualizadas de crianças”.

“Esses concursos de mini-miss contribuem para criar uma visão estereotipada das garotinhas, construída em função de sua aparência e sedução. Isso tem de acabar”, diz Nicole Blet, presidente da associação feminista MFPF da região de Bordeaux.

O assunto movimenta regularmente a sociedade francesa. Pesquisas realizadas por sites de jornais revelam que a grande maioria da população é contra concursos infantis de beleza.

Esta não foi a primeira vez que políticos e associações pediram o fim dos concursos de mini-miss na França.

No início do ano, a senadora Chantal Jouanno, do partido UMP, da direita, entregou ao governo um relatório de 160 páginas denunciando a “hipersexualização de crianças” e pedindo a proibição de todos os concursos de beleza na França com candidatas que tenham menos de 16 ou 18 anos.

“Essas garotas são fantasiadas em bombons sexuais, elas participam de uma corrida à aparência, à sedução e ao culto da beleza. Não posso aceitar esse reinado de futilidade e de instrumentalização das crianças”, afirma a senadora.

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Seu relatório também faz recomendações sobre imagens de meninas veiculadas pela publicidade.

Os concursos de beleza com meninas vêm se multiplicando na França nos últimos anos.

“Miss Princesa” (de 7 a 9 anos), “Miss Rainha” (de 10 a 12 anos), “Graine de Miss” (Grão de Miss, em tradução literal), desfiles amadores em vilarejos, com crianças usando maiô e roupas consideradas sexy, são alguns dos eventos criados no país.

“O concurso julga mais o carisma da criança do que a sua beleza. É um divertimento para as crianças”, disse à BBC Brasil Michel Le Parmentier, criador do “Mini-Miss França”, que existe há 23 anos e afirma ser a única competição oficial desse tipo.

Em razão da polêmica existente, o comitê do “Mini-Miss” criou uma carta de ética, um regulamento interno que proíbe maquiagem (apenas batom transparente e purpurina nos cabelos), e também o uso de salto alto, maiô e roupas consideradas “inapropriadas”.

“Mantivemos o vestido de princesa porque faz parte do espírito desse tipo de competição”, afirma Le Parmentier.

As novas regras também impedem a participação ao concurso de meninas com menos de 7 anos de idade.

“Essas adaptações não mudam a filosofia desses eventos, que é baseada no talento de sedução e na competição de aparências”, ressalta a senadora Jouanno.

“A hipersexualização de crianças diz respeito às atividades de manequim, não os concursos de mini-miss. Concordo que é preciso proibir publicidades que sexualizam as crianças. É nessa área que a questão precisa ser regulada”, diz Le Parmentier.

Ele ressalta que há exageros nos concursos infantis realizados nos Estados Unidos, onde crianças chegam a usar dentes e cabelos postiços e maquiagem pesada.

“Nos Estados Unidos, o concurso caiu em extremos. Não é o caso da França. As primeiras vencedoras na França têm hoje 30 anos. Elas se tornaram mães e não estão traumatizadas”, diz ele.

No fim de outubro, o comitê inter-ministerial de direitos das mulheres deverá discutir a questão da imagem das crianças na publicidade.

Por enquanto, o governo não se posicionou sobre a proibição dos concursos de mini-miss.