Mulher é espancada e abandonada pela família por entrar em templo proibido
Kanakadurga, de 39 anos, desafiou proibição histórica de entrar no templo Sabarimala, um dos santuários mais sagrados do hinduísmo, na Índia.
Uma mulher indiana que desafiou a proibição histórica de entrar em um famoso templo hindu, na Índia, foi agredida e abandonada pela família, informaram as autoridades locais.
Kanakadurga, de 39 anos, estava hospitalizada desde 15 de janeiro, após ter sido espancada pela sogra por ter entrado no templo Sabarimala, um dos santuários mais sagrados do hinduísmo, localizado no Estado de Kerala, no sul do país.
O local foi, durante séculos, "interditado" à presença de mulheres em "idade fértil" - na faixa de 10 a 50 anos. Mas a Suprema Corte do país revogou a proibição em setembro do ano passado, provocando uma onda de protestos.
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Muitas mulheres tentaram entrar no templo após a decisão da Justiça, mas foram impedidas por multidões enfurecidas de manifestantes.
No dia 2 de janeiro, no entanto, Kanakadurga e Bindu Ammini, de 40 anos, conseguiram entrar no santuário ao amanhecer.
A assistente social Thankachan Vithayatil contou à BBC que quando Kanakadurga teve alta do hospital e voltou para casa na segunda-feira à noite, encontrou a porta trancada. Ninguém estava em casa, incluindo o marido e os dois filhos.
"Ela estava acompanhada da polícia e foi levada para um abrigo público de mulheres", acrescentou Vithayatil.
Depois de passar a noite lá, Kanakadurga foi até a delegacia, onde seu marido, Krishnan Unni, havia sido chamado para prestar depoimento.
"Ele não estava disposto a levá-la para casa, mas ela insistia que iria aonde quer que ele fosse", disse o inspetor Prateesh Kumar à BBC.
Segundo ele, Unni acabou indo embora sozinho, e ela voltou para o abrigo.
A polícia afirmou que o caso será decidido na Justiça, uma vez que Kanakadurga havia registrado anteriormente uma queixa de violência doméstica contra a sogra.
"Ela vai pedir permissão ao tribunal para entrar em casa. Ela está muito chateada", disse Thankachan.
Logo após a visita ao santuário, Kanakadurga e Ammini foram obrigadas a se esconder sob proteção policial, à medida que a notícia desencadeou protestos violentos em todo o Estado.
Ammini, que é professora de Direito, voltou a dar aulas quando saiu do esconderijo.
"Meus alunos e colegas têm me apoiado muito", disse ela à BBC, acrescentando que sua família também apoiou a decisão de entrar no templo.
"Eles [os parentes] não queriam que ela voltasse para casa porque acreditavam que ela havia manchado seu nome. Sua comunidade também se opunha a mulheres entrarem no templo", disse Prasad Amore, ativista e amiga que fez campanha pelo direito das mulheres visitarem o templo Sabarimala.
Como elas entraram no templo?
O santuário fica no topo de uma colina íngreme e todos os anos milhões de devotos do sexo masculino fazem uma caminhada, muitas vezes descalços, para visitá-lo.
Uma das maneiras de chegar é escalando os 18 degraus que levam ao templo - ritual sagrado que exige um jejum rigoroso de 41 dias.
Mas as duas mulheres subiram pela trilha acompanhadas por um grupo de policiais à paisana. Elas começaram a caminhada por volta de 1h30 (horário local) e levaram cerca de duas horas para chegar ao santuário.
Como era muito cedo, elas não depararam com manifestantes - apenas devotos.
Horas após a visita das mulheres, um sacerdote fechou o templo para um "ritual de purificação".
A origem da proibição
O hinduísmo considera as mulheres menstruadas como "impuras" e as impede de participar de rituais religiosos.
Enquanto a maioria dos templos hindus permite a entrada de mulheres desde que não estejam menstruadas, o templo Sabarimala seguia uma regra atípica - era um dos poucos santuários que vetavam a entrada de mulheres em idade reprodutiva de uma maneira geral.
Segundo a mitologia, o Lorde Ayyappa, divindade do templo, é celibatário e a presença de mulheres poderia fazê-lo cair em tentação.
Os devotos acreditam que a divindade estabeleu, portanto, regras claras sobre a peregrinação para buscar suas bênçãos - que não incluíam mulheres em idade fértil.
Por que se tornou uma questão política?
O governo do Estado de Kerala apoiou a decisão da Justiça e afirmou que vai fornecer a segurança necessária para que a resolução seja implementada.
Mas o partido nacionalista Bharatiya Janata (BJP, na sigla em inglês) argumenta que a decisão do tribunal é um ataque aos valores hindus.
A controvérsia tem ganhado força na corrida para as eleições gerais da Índia, marcadas para abril e maio deste ano.
Os críticos acusam o primeiro-ministro do país, Narendra Modi, que é do BJP, de seguir uma agenda religiosa polêmica para cortejar a base de apoio majoritariamente hindu do partido.
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