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Mexicana formada em psicologia aos 13 anos fará mestrado em Harvard aos 17

Dafne explica que decidiu se concentrar no estudo de áreas onde poderia "fazer uma mudança e ajudar as pessoas" em seu próprio país - CEDAT
Dafne explica que decidiu se concentrar no estudo de áreas onde poderia 'fazer uma mudança e ajudar as pessoas' em seu próprio país Imagem: CEDAT

da BBC

08/02/2019 15h21

Dafne Almazán vai estudar matemática em uma das universidades mais prestigiadas do mundo e diz que foco é ajudar a resolver carências do México no ensino dessa área.

"Ser superdotado não é doença, não é algo que precisa ser medicado. É um dom que a criança deve aproveitar."

A frase resume muito do que viveu Dafne Almazán, que cresceu com um QI superior ao da média da população e comprovou como nem todo mundo sabe como agir nessa realidade.

Dafne, mexicana de 17 anos, é superdotada. E à medida que foi crescendo, foi agregando proezas a sua peculiar história de vida.

O que é uma criança superdotada

Para ser considerada superdotada, a criança precisa apresentar, entre outras características, precocidade ou alto potencial em pelo menos uma das sete inteligências definidas pelo psicólogo americano Howard Gardner em sua Teoria das Inteligências Múltiplas.

São elas: a Inteligência Linguística, a Inteligência Lógico-matemática, a Inteligência Espacial, a Inteligência Corporal-cinestésica, a Inteligência Musical, a Inteligência Interpessoal e a Inteligência Intrapessoal.

Em outras palavras: ela precisa ter uma habilidade muito acima da esperada para a sua idade.

A extraordinária trajetória de Dafne

Dafne começou a ler com 3 anos de idade. Aos 6, começou o ensino fundamental, que para a maioria das crianças tem duração de seis anos. Ela, no entanto, o concluiu em apenas um e fez isso pela internet.

Já aos 10 anos, a menina terminou o ensino médio e com 13 anos se tornou uma das mais jovens psicólogas do mundo.

"Estudei psicologia por causa da situação que vi no México com as crianças superdotadas. Vi que não eram identificadas, que a parte emocional delas estava no chão, com casos, inclusive, de crianças que queriam se matar", disse Dafne à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.

Como se não bastasse, seu currículo de conquistas extraordinárias acabou de ganhar mais uma: este mês, ela foi aceita na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, para cursar mestrado em matemática.

E o que isso tem a ver com psicologia? "Bem, eu também vi que no México há um problema relacionado à matemática, porque as crianças acham a disciplina difícil e chata, e isso faz com que o país tenha um problema no desempenho desta área", conta.

Dafne explica que decidiu se concentrar no estudo de áreas onde poderia "fazer uma mudança e ajudar as pessoas".

Embora ela garanta que não sofreu assédio nem discriminação devido a suas habilidades especiais, está ciente de que outras crianças superdotadas passam por experiências muito ruins diante da incompreensão ou ignorância de pessoas que estão em volta.

Diagnóstico

Emocionada pelo fato inusitado de ser aceita em uma pós-graduação da prestigiada instituição de ensino americana antes de fazer 18 anos, Dafne enfatiza a necessidade de se identificar corretamente, e a tempo, quando uma criança é superdotada.

"Na escola, eles acham que essas crianças são hiperativas, porque não deixam os outros alunos se concentrarem", diz ela.

Segundo dados do Centro de Atenção a Talentos (Cedat) do México, 93% das crianças superdotadas são confundidas e diagnosticadas erroneamente com déficit de atenção, o que leva a um manejo inadequado da situação e, portanto, à perda de suas capacidades.

A jovem conheceu muitos desses casos. E diz que o que acontece na realidade é que a criança fica entediada na escola, porque já estudou a matéria ou porque o assunto não lhe interessa.

"Então, há o problema de elas estarem sendo medicadas, e isso diminui suas capacidades e prejudica. Isso (ser superdotado) não é uma doença", diz ela.

Frente à ignorância sobre como são realmente, muitas dessas crianças enfrentam rejeição e discriminação de seus colegas na escola.

E, em casos mais extremos, acabam deprimidas ou até pensando em cometer suicídio.

Dafne diz não ter sofrido nenhum tipo de assédio, também porque nunca esteve em um sistema escolar "tradicional", depois que seu irmão, também superdotado, sofreu "bullying" em uma delas.

Portanto, embora o caso de cada uma dessas pessoas seja diferente, ela acredita que a educação especial costuma ser benéfica para elas.

"Eles têm de ter um ambiente em que possam ser crianças, aproveitar suas vidas e onde possam ser eles mesmos convivendo com outras crianças superdotadas e progredindo em seu ritmo, sem que as detenham nem pressionem", diz.

Ela conta que, no seu caso, o apoio de seus pais foi fundamental. "Eles não me pressionavam. Eu queria avançar mais rápido e eles me apoiavam, que é como sempre deveria ser."

Dafne também destaca o trabalho do Cedat, que seu pai dirige, onde afirma que a ajudaram a continuar progredindo, "mas sem perder sua infância, brincando e se divertindo com pessoas da mesma idade".

"Pude manter minha estabilidade emocional", diz ela.

Outro caso de 'fuga de cérebros'?

Mas se há tantos casos de diagnóstico errado de crianças superdotadas, como elas podem ser corretamente identificadas?

"Há uma lista de qualidades como ser hiperativo, que interfere em conversas de adultos, que se aborrecem facilmente. Se você tem 50% dessas características, é provável que seja superdotado, o que se confirma com testes padronizados", explica Dafne.

A Organização Mundial de Saúde define uma pessoa superdotada como aquela com um QI superior a 130 pontos em alguns testes psicométricos validados científica e estatisticamente.

Perguntada sobre seus planos de futuro, para depois do mestrado - que espera terminar em um ano - Dafne não tem dúvida: não quer, diz ela, ser outro caso de "fuga de cérebros", em que pessoas admitidas em universidades estrangeiras acabam aplicando no exterior tudo o que aprendem.

"No México, há muitas áreas de oportunidade que precisam de melhorias e de todo o conhecimento possível, então tudo o que eu aprender em Harvard vou querer aplicar no meu país", afirma.