Zara gera polêmica na China: sardas são sinal de feiura para asiáticos?
Empresa de moda espanhola foi acusada de 'enfeiar' povo chinês ao lançar campanha em torno de modelo com manchas no rosto.
Uma grande polêmica eclodiu na China - e tudo por causa de algumas sardas.
É que uma campanha para uma nova linha de cosméticos da varejista de moda espanhola Zara chamou grande atenção por causa da escolha da modelo Jing Wen, conhecida por suas sardas.
Ter pele clara e sem manchas tem sido uma regra de beleza há décadas na China, assim como no restante do leste da Ásia. Por isso, a presença de Jing Wen no anúncio provocou uma reação significativa entre usuários da rede social Sina Weibo, uma das mais populares no país.
Desde que a marca lançou a campanha, na sexta-feira, muitos na China se disseram confusos diante da decisão da marca de apresentar uma modelo com sardas.
Alguns disseram que Li parecia "feia" para eles. Outros foram mais longe, questionando se a Zara estava "insultando" ou "difamando os chineses", e chegaram a afirmações extremas, como essa: "Fotos com uma modelo asiática com sardas e um rosto redondo e inexpressivo levam a impressões equivocadas de ocidentais quanto às mulheres asiáticas e podem levar ao racismo contra elas".
De fato, sardas - nome dado às manchas causadas pelo aumento da melanina, o pigmento que dá cor à pele - são raras em chineses. Mas, ao mesmo tempo em que muitos reclamaram de a campanha ter "enfeiado" o povo chinês, outros saíram em sua defesa, pedindo mais esforços no país para que as pessoas aceitem sua beleza natural.
'Eu odiava minhas sardas', disse modelo
Jing Wen, que é da cidade de Guangzhou, no sul da China, tornou-se um rosto conhecido no mundo da moda nos últimos cinco anos. Ela foi modelo de uma série de marcas de luxo e streetwear, como Calvin Klein e H&M.
Ela não comentou sobre a controvérsia gerada pela campanha, mas falou sobre as inseguranças que já teve por causa das sardas.
"Quando era pequena, eu as odiava, porque os asiáticos não têm sardas normalmente", disse ela à revista Vogue em outubro de 2016. "No ensino médio, sempre tentei cobri-las, mas, agora, está tudo bem. Gosto delas, e isso basta."
Zara não quis alterar foto
O popular site Pear Video entrevistou um representante da Zara, que disse que os anúncios foram direcionados para o mercado global e não especificamente para a China. "A estética do povo espanhol é diferente. Nossos modelos são fotografados sem artifícios, e as fotos não são modificadas."
"Ela sempre teve esta aparência, seu rosto não foi alterado, ela foi fotografada ao natural."
A resposta da Zara levou dezenas de milhares de usuários do Sina Weibo a postarem sobre o assunto. Muitos aplaudiram a decisão da marca de não modificar digitalmente o rosto de Li e expressaram raiva por ela estar aparentemente sendo criticada por pessoas de seu próprio país.
"Essa modelo chinesa sofre discriminação de seus compatriotas", disse um usuário em um post com centenas de milhares de curtidas. Outro questionou: "Quanto complexo de inferioridade o povo chinês tem?".
Muitos elogiaram sua "beleza natural" e disseram que a China deveria fazer mais para que fossem aceitas diferentes percepções do que é belo. "As ideias do que é esteticamente agradável são restritas demais para muitas pessoas", afirmou um usuário. Outro acrescentou que deveria haver "mais diversidade estética".
Chineses criticaram ataques a marcas estrangeiras
Alguns usuários de mídias sociais voltaram suas críticas para o governo pelo que consideram ser uma campanha contínua de ataque a marcas estrangeiras, sob o disfarce de "patriotismo".
O jornal China Daily, controlado pelo Partido Comunista chinês, exalta que queixas contra a nova propaganda de ajudam a "evitar que a imagem da nação seja prejudicada".
Muitos usuários disseram haver semelhanças entre a polêmica da Zara com a recepção de uma campanha da marca de luxo Dolce & Gabbana (D&G) veiculada no ano passado, que apresentava uma modelo chinesa comendo pizza e macarrão com pauzinhos e foi muito criticada pelo por ser considerada culturalmente "insensível".
Alguns usuários disseram que, desde o incidente da D&G, virou moda criticar empresas ou indivíduos por supostos insultos ao público chinês.
Um usuário escreveu: "Antes do anúncio da D&G ser criticado por ser considerado um insulto, não teria nem pensado em assistir ao vídeo". Há uma percepção de que um "sentimento de inferioridade" cresceu entre o público chinês desde então.
No entanto, muitos dizem que as críticas à Zara são um "exagero". "Acho que alguns dos meus conterrâneos não são realmente patriotas, mas, agora, estão simplesmente mostrando o quanto eles amam o país participando de um ataque (contra a marca)", afirmou um usuário.
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