A universidade que oferece a alunos ajuda para 'superar ex'
Oficina organizada em instituição peruana quer auxiliar jovens a não deixar que término de relacionamento prejudique rendimento acadêmico.
Na sala de aula, a universitária Valeria Rondón, de 19 anos, acompanhava atentamente o conteúdo abordado. O assunto em questão não fazia parte da grade curricular dela ou dos outros estudantes que estavam no local, mas pode afetar muitos deles: como superar um relacionamento amoroso que acabou.
Valeria, que estuda Administração, tinha terminado um namoro, que havia durado um ano e meio, há poucas semanas. "Eu assisti a essa oficina porque sabia que poderia me ajudar de alguma maneira. No começo, fiquei com vergonha, porque [o sofrimento pelo fim do namoro] não era um assunto que queria que todos soubessem. Mas depois, fiquei mais à vontade, pois fui me identificando com o que era falado ali", diz a jovem.
A oficina "Como superar meu ex?" foi organizada pela Universidad Privada del Norte (UPN), em Lima, no Peru, no fim de maio. A ideia dos organizadores é ajudar os jovens a não deixar que o término de um relacionamento prejudique seu rendimento acadêmico.
A aula integra um projeto chamado "Hablas Martes!" ("Fala, Terça-feira", em tradução literal), feito pela universidade, que reúne diversas oficinas de ajuda emocional aos alunos.
"Esse projeto tem o objetivo de orientar os estudantes em diferentes necessidades que eles têm. Acreditamos que esse apoio promove o desenvolvimento pessoal e acadêmico dos alunos", diz Diana Salinas Oviedo, chefe de acompanhamento de estudantes da UPN, em entrevista à BBC News Brasil.
O projeto "Habla Martes!" começou no início do ano. Desde então, trouxe temas voltados à orientação vocacional e a assuntos pessoais, como dicas para sair de um relacionamento abusivo e cuidados para uma sexualidade segura.
Cada novo assunto do projeto é abordado a cada 15 dias, sempre às terças-feiras, por um profissional escolhido em cada área. As oficinas, abertas somente a estudantes da universidade, costumam durar duas horas e acontecem no período vespertino, normalmente fora do horário de aula de disciplinas da grade curricular.
O tema "Como superar meu ex?" foi o que mais chamou a atenção desde o início do projeto. Foram mais de 5 mil reações no Facebook na publicação que anunciou a oficina sobre superação. O emoji mais utilizado para expressar o sentimento em relação ao assunto, na rede social, foi o de risada.
Nos comentários, diversas pessoas marcaram conhecidos e os aconselharam a fazer a oficina. "Vamos, te acompanho", escreveu uma jovem, mencionando uma amiga.
"Você tem que estar na primeira fila", brincou um rapaz, citando um amigo. Houve também críticas à iniciativa da universidade. "Deveriam ensinar sobre educação financeira", publicou um homem.
'Como superar meu ex?'
O tema de superação de relacionamento, segundo Diana, foi definido após pesquisa entre os estudantes, que manifestaram interesse em uma aula sobre o assunto.
"Definimos cada oficina conforme a necessidade dos alunos", diz. Ela conta que cerca de mil estudantes participaram da oficina do último dia 21 de maio, que aconteceu simultaneamente em sete campus da UPN, em diferentes regiões do Peru. Os responsáveis pelas aulas foram psicólogos.
Ela frisa que a oficina pode ser uma importante forma de ajudar pessoas que vivem grandes frustrações ao fim de um relacionamento. "Não dizemos que as pessoas não devam ficar tristes ao fim de uma relação, porque isso vai ocorrer. Mas essa oficina abordou a forma como lidam com isso tudo. Isso tem muito a ver com a autoestima da pessoa, por isso trabalhamos para que ela melhore o amor próprio."
Diana diz que superar o fim de um relacionamento e aprender a lidar com a vida sem o ex é fundamental para qualquer pessoa. "Em nosso país, há muitos casos de feminicídio e maus-tratos contra, principalmente, as mulheres. Os jovens podem pensar que isso é uma conduta socialmente aceitável. Muitas vezes, essas situações acontecem porque há uma ruptura no relacionamento e uma das partes não aceita", comenta.
"O objetivo dessa oficina foi ensinar aos estudantes que há diferentes formas de canalizar essa frustração que surge quando rompem um relacionamento. Se você canalizar as emoções de forma ruim, provavelmente não será uma situação saudável. Queremos que lidem com isso de uma maneira melhor, até para prevenir futuras violências", declara.
O estudante de psicologia Maurício Martins Guerrero, de 22 anos, acompanhou a oficina. Ele relata que sofreu pelo fim de um relacionamento anos atrás, mas já superou. Apesar disso, considerou que a oficina foi importante para entender melhor o assunto.
"Tive uma nova perspectiva do tema, sobre como posso lidar melhor com um possível término no futuro", afirma.
Para Valeria, a oficina foi fundamental para lidar melhor com o fim do namoro. "Entendi que muitas perguntas sobre o fim de uma relação podem não ter respostas. Aprendi que mesmo que uma relação acabe, preciso seguir adiante, porque tenho meus estudos e meus amigos comigo", diz.
Acompanhamento com psicólogo
A psicóloga Cláudia Sampaio, professora da Universidade Federal do Amazonas e pesquisadora sobre os processos de resiliência, elogia a iniciativa, mas frisa que a medida pode não ser eficaz para todos os casos. "Essas oficinas não são personalizadas, são mais abrangentes. Em muitas situações, a pessoa precisa de um acompanhamento por meio da psicoterapia, que é construída de acordo com a demanda de cada paciente", ressalta.
"Um término de relacionamento não é uma situação fácil. A frustração é imediata e pode ser vivida em níveis muito intensos. É um período de luto. Por isso, é muito importante a ajuda externa e, em muitos casos, personalizada", declara.
Diana pontua que a oficina não teve o objetivo de substituir a busca por acompanhamento psicológico, caso necessário. Para ela, a aula de superação cumpriu o objetivo de conscientizar os jovens sobre como lidar de modo saudável com o fim de uma relação. "Muitos estudantes se mostraram satisfeitos com o que aprenderam", comemora.
Devido à repercussão, a universidade planeja uma nova edição da oficina para o próximo semestre. "Penso que é importante ajudarmos os alunos a lidarem com suas emoções, para que descubram recursos em si para que possam evoluir", afirma.
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