Aborto nos EUA: 5 teorias que explicam por que a taxa de abortos caiu ao menor nível em 46 anos
Em 2017, a taxa de abortou chegou ao seu nível mais baixo desde a legalização do procedimento, em 1973. Aqui estão cinco teorias que explicam essa diminuição recorde em um país que se mostrou dividido pelas leis antiaborto nos últimos anos.
Uma cifra recorde em 46 anos. Segundo novo relatório, a taxa de aborto chegou ao seu nível mais baixo nos Estados Unidos desde que o procedimento de interrupção da gravidez foi legalizado, em uma decisão da Suprema Corte em 1973.
Entretanto, os especialistas dizem que é difícil apontar a causa por trás dessa diminuição.
O estudo publicado na semana passada pelo Instituto Guttmacher, uma organização de pesquisa que apoia o acesso ao aborto, afirmou que houve uma queda de 7% na prática entre 2014 e 2017.
O grupo calcula que, em 2017, cerca de 862.320 abortos foram realizados. São quase 200 mil procedimentos a menos do que em 2011, bem abaixo do máximo de 1,6 milhão, registrado em 1990.
Apesar de quase uma década de esforços por parte de políticos conservadores em vários estados e municípios para restringir o aborto, o instituto reportou que a redução não está necessariamente ligada às novas leis.
Então, quais seriam as causas dessa queda na taxa de aborto dos Estados Unidos?
1. Melhor saúde reprodutiva
Os autores do relatório feito pelo Instituto Guttmacher, realizado com base na compilação periódica de pesquisas em hospitais e clínicas de aborto, descobriram que uma das razões seria um maior acesso à contracepção e a melhora dos métodos anticoncepcionais femininos.
Esses métodos e os dispositivos intrauterinos melhoraram na última década, e mais companhias de seguros passaram a incluí-los em seus planos, graças à Lei de Proteção e Cuidado Acessível ao Paciente (ACA) de 2009, conhecida como Obamacare.
Elizabeth Nash, gerente de políticas do Instituto Guttmacher, afirmou que o Obamacare, assim como outras leis locais, aumentaram o acesso ao controle de natalidade.
Ela ressalta que o relatório informa sobre a média nacional, mas não conta as histórias individuais.
Por exemplo, a distância média percorrida pelas mulheres para realizar um aborto em 2014 foi de 55 quilômetros. Entretanto, algumas mulheres se veem obrigadas a viajar muito mais longe para ter acesso ao mesmo procedimento.
"Algumas pessoas viajam centenas de quilômetros, enquanto outras vivem em cidades em que podem simplesmente pegar um ônibus ou um trem", disse Nash.
2. Abortos em casa
As mulheres também recorrem aos abortos feitos em casa, em vez de cirurgias, como informa o relatório. O documento destaca, contudo, que 95% dos procedimentos registrados são feito em clínicas especializadas.
Os abortos realizados fora das clínicas são mais difíceis, ou mesmo impossíveis, de rastrear, e poderiam ajudar a explicar a queda nos índices.
Os abortos médicos, utilizando a pílula abortiva, representaram 39% dos abortos em 2017, em comparação aos 20% registrados em 2014.
Quase quatro entre dez abortos registrados em 2017 foram feitos com pílulas abortivas em vez da cirurgia, segundo o relatório.
3. Mais restrições legais
Entre 2011 e 2017, 32 Estados aprovaram um total de mais 394 restrições ao aborto.
Algumas das mais severas até o período foram sancionadas por estados conservadores apenas em 2018, depois da última leva de pesquisas do relatório do Instituto Guttmacher, sendo que várias foram revertidas, ainda que temporariamente, pelos tribunais.
Opositores do direito ao aborto celebraram a diminuição da taxa como uma prova de que as leis regionais estão funcionando para impedir tais procedimentos.
"Creio que houve um impacto", disse Laura Echevarria, Comitê Nacional pelo Direito à Vida (NRLC, na sigla em inglês), uma organização antiaborto.
"Se não há um grande impacto, por que todos da indústria do aborto entram em pé de guerra quando uma lei dessas é aprovada?"
Entretanto, Elizabeth Nash, do Guttmacher, destaca que, ainda que tais imposições "tenham seu papel" na redução dos índices, "os números não contam toda a história".
"A taxa de aborto, quer diminua ou aumente, não é de fato o indicador de acesso. O que devemos fazer é pensar como cada indivíduo vê os serviços e se são acessíveis ou não".
Alguns Estados que aprovaram novas restrições ao aborto entre 2014 e 2017 apresentaram aumentos na taxa.
Enquanto isso, em vários dos Estados que abriram novas clínicas, o índice diminuiu.
Em geral, houve um aumento na instalação de clínicas de aborto nos três anos analisados pelo relatório. Apesar disso, várias clínicas fecharam as portas em 2017.
4. Taxa de natalidade mais baixa
As mulheres têm optado por ter menos filhos, com a menor taxa de natalidade registrada nos Estados Unidos desde 1987, segundo dados do governo americano publicados no ano passado.
Tanto a taxa de natalidade, definida pela quantidade de nascimentos para cada mil mulheres, como a de fertilidade, estimativa média em relação à vida de uma mulher, chegaram ao nível mais baixo em 30 anos, segundo relatório de 2018.
A queda no número de nascimentos é atribuída, em parte, ao fato de mais mulheres buscarem ensino superior e emprego, de acordo com pesquisadores americanos.
Outras explicações possíveis dizem respeito às mudanças em expectativas sociais, ao acesso maior à contracepção e ao acesso limitado à licença parental no trabalho.
5. Maior consciência sobre a gravidez
Grupos antiaborto como o Comitê Nacional pelo Direito à Vida reconhecem que os dados do Instituto Guttmacher são precisos, devido à sua proximidade a muitos serviços que realizam aborto.
"Os esforços do movimento pró-vida para educar os americanos sobre a humanidade do feto e para aprovar uma legislação pró-vida estão causando impacto", aponta Carol Tobias, presidente do NRLC.
"O conhecimento sobre o que acontece dentro do útero" tornou-se fundamental, complementa a porta-voz do NRLC Laura Echevarría, destacando uma propaganda recente no Super Bowl, que mostra a ultrassonografia de um bebê prestes a nascer que está com vontade de comer salgadinhos.
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