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7 questões que explicam o caso Harvey Weinstein, escândalo que fez viralizar o movimento #MeToo

Harvey Weinstein foi durante décadas uma das figuras mais poderosas da indústria cinematográfica - Getty Images
Harvey Weinstein foi durante décadas uma das figuras mais poderosas da indústria cinematográfica Imagem: Getty Images

18/02/2020 19h52

Mais de 80 mulheres acusaram o empresário de Hollywood de má conduta sexual, com casos que vão de assédio a estupro. Weinstein foi por décadas uma das figuras mais poderosas da indústria cinematográfica. Quais são as implicações do julgamento em Nova York?

Esse é um dos processos judiciais mais comentados nos EUA nos últimos anos. Harvey Weinstein, um dos homens mais poderosos de Hollywood, enfrenta cinco acusações que incluem estupro e outros crimes sexuais em Nova York.

Um júri de sete homens e cinco mulheres precisa decidir por unanimidade se Weinstein é culpado das acusações feitas por duas mulheres.

O caso está sendo considerado pelos especialistas em mídia e direito como um momento crucial no movimento #MeToo — a repreensão global ao assédio contra mulheres que se tornou viral graças às primeiras acusações contra Weinstein, em 2017.

Mais de 80 mulheres falaram publicamente contra ele, incluindo celebridades.

Aqui estão algumas perguntas para entender um pouco mais sobre o caso.

Quem é Harvey Weinstein?

O produtor de cinema, hoje com 67 anos, é cofundador da empresa de entretenimento Miramax, que desafiou o domínio dos grandes estúdios de Hollywood e ganhou espaço próprio.

Weinstein e o irmão Bob estão por trás de uma série de filmes de sucesso nos anos 90, incluindo "Sexo, Mentiras e Videotape", "Traídos pelo Desejo", "Pulp Fiction" e "Shakespeare Apaixonado" — este último ganhou sete estatuetas do Oscar em 1999, incluindo o prêmio de melhor filme.

Sua influência na indústria cinematográfica pode ser exemplificada por um estudo que analisou os discursos de aceitação do Oscar.

Em 2015, o estudo constatou que Weinstein já havia sido citado ou elogiado em 25 discursos — tantas vezes quanto Deus —, perdendo apenas para o renomado diretor e produtor Steven Spielberg.

Quais são as acusações contra ele?

Harvey Weinstein 1 - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

As primeiras declarações contra Weinstein surgiram em outubro de 2017.

O jornal The New York Times e a revista The New Yorker publicaram reportagens nas quais dezenas de mulheres acusavam o magnata de ter cometido crimes sexuais.

As atrizes Rose McGowan e Ashley Judd estão entre as mulheres que se apresentaram publicamente para relatar o assédio de Weinstein.

Entre as acusações, as mulheres alegaram que Weinstein obrigava as mulheres a massageá-lo e a vê-lo nu. Ele também prometia ajudá-las a alavancar suas carreiras em troca de "favores sexuais".

Isso desencadeou uma série de outras acusações, incluindo algumas de pessoas muito famosas de Hollywood, como Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow.

As acusações também envolviam funcionárias como a ex-assistente de escritório de Weinstein, Lisa Rose.

Sobre o que é o julgamento de Nova York?

No processo que está em julgamento atualmente, Weinstein é acusado por duas mulheres, Jessica Mann e Mimi Haleyi.

Mann, uma ex-atriz, afirmou que o produtor a estuprou em um quarto de hotel em Manhattan, em 2013.

Haleyi, que trabalhou como assistente de produção, disse que Weinstein a forçou a fazer sexo oral nele em seu apartamento em Manhattan, em 2006.

A defesa de Weinstein aponta que as duas mulheres mantiveram amizade com ele após os supostos assédios.

Os advogados chamaram várias testemunhas para tentar demonstrar que os relacionamentos eram consensuais.

Os promotores, no entanto, retrataram o magnata de Hollywood como alguém que atacava mulheres com dificuldades financeiras ou que buscavam oportunidades de emprego na indústria cinematográfica.

"O poder que ele explorou não era apenas físico. Também era profissional e profundamente psicológico", disse Meghan Hast, uma das promotoras, em comunicado lido na abertura no julgamento.

Weinstein nega que houve "sexo não consensual".

Ele fez um pedido de desculpas em 5 de outubro de 2017, no qual reconheceu "ter causado muita dor" — mas ainda contestava as acusações.

No julgamento de Nova York, a equipe de defesa disse que a promotoria "não conseguiu argumentar sem deixar dúvida".

Weinstein apareceu no julgamento com um aspecto frágil e usando um andador para caminhar por causa de uma cirurgia nas costas.

A reputação dele foi afetada?

Harvey Weinstein 2 - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

A mulher do produtor, Georgina Chapman, anunciou em outubro de 2017 que o deixaria.

Nesse mesmo mês, os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a organização por trás do Oscar, votaram pela expulsão de Weinstein.

Ele também foi demitido da Weinstein Company, empresa que ele e seu irmão fundaram em 2005 após deixar a Miramax.

No entanto, o escândalo ainda atingiu fortemente a empresa, que pediu falência em março de 2018.

Essa é a única vez em que Weinstein irá a julgamento?

É improvável. Promotores de Los Angeles anunciaram acusações criminais contra o magnata de Hollywood em 6 de janeiro.

As acusações variam de estupro a assédio.

Uma das acusadoras do caso de Los Angeles, a modelo e atriz Lauren Marie Young, testemunhou no julgamento de Nova York.

Ela alegou que Weinstein tirou a roupa, tirou o vestido dela e agarrou seu peito em um banheiro de hotel da Califórnia em 2013 — enquanto dizia que aquilo era "como as coisas funcionam em Hollywood".

O caso deve ser levado adiante quando o julgamento em Nova York terminar.

O produtor também enfrenta vários processos civis de dezenas de acusadores.

Em dezembro do ano passado, foi anunciado que Weinstein havia chegado a um acordo provisório de US$ 25 milhões (cerca de R$ 109 milhões) com 30 mulheres que o acusaram de má conduta sexual — desde então, no entanto, pelo menos quatro delas desistiram do acordo, e não está claro o que vai acontecer com ele.

Por que essas acusações têm a ver com o movimento #MeToo?

O termo surgiu online no início de 2006, quando foi usado em redes sociais pela sobrevivente e ativista norte-americana Tarana Burke.

Mas tornou-se viral — e global — após o escândalo de Weinstein.

Ativistas e especialistas em direito também veem o julgamento do produtor como um teste para o movimento, e não apenas para casos de celebridades.

Há um interesse especial em ver como o júri agiria diante da falta de evidências forenses físicas e também se o testemunho de mulheres poderia ser suficiente para fazer alguém ser considerado culpado por crimes sexuais.