A mulher que amamenta órfãos após ataque extremista contra maternidade
Firooza Omar, mãe de bebê de quatro meses, passou a amamentar recém-nascidos que ficaram órfãos após ataque mortal contra maternidade na capital do Afeganistão, Cabul.
"Estava amamentando meu próprio filho e fiquei emocionada. Me dei conta do sofrimento desses outros bebês", diz Firooza Omar.
Na terça-feira (12/05), pelo menos 24 pessoas, incluindo bebês recém-nascidos, mães e enfermeiras, foram brutalmente assassinadas no ataque de um grupo extremista a uma maternidade na capital do Afeganistão, Cabul.
Firooza, de 27 anos, ouviu falar sobre o ataque na TV. Ela entendeu a gravidade da situação depois de conversar com seus amigos e ver as imagens horríveis nas redes sociais.
Ela própria é mãe de um bebê de quatro meses.
Enquanto ela o amamentava, não conseguia tirar da cabeça o sofrimento dos bebês deixados órfãos.
Compaixão e coragem
Ela decidiu, então, ajudar os bebês.
O que se seguiu foi um ato de compaixão e coragem.
"Quando estava chegando a hora de romper o jejum do dia [o ataque ocorreu durante o Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos], contei a meu marido sobre minhas intenções de ajudar os bebês órfãos."
Seu marido concordou com Firooza imediatamente e garantiu que cuidaria dos filhos na ausência dela.
Naquela época, as Forças Especiais Afegãs resgataram 100 mulheres e crianças do Hospital Dasht- Barchi e transferiram muitas das crianças para o Hospital Infantil Ataturk, a cerca de 2 km de onde Firooza mora.
Bebês chorando
A distância que Firooza viajou de carro pode ter sido curta, mas também arriscada, em uma cidade traumatizada e com medo após o ataque brutal.
"Quando fui ao hospital, vi cerca de 20 bebês. Alguns deles ficaram feridos. Falei com as enfermeiras e elas me disseram para amamentar os bebês que choravam muito."
Ela, então, amamentou quatro bebês, um após o outro.
Antes de Firooza chegar, as enfermeiras estavam tentando alimentar as crianças com uma mistura com leite em pó.
"Algumas crianças estavam se recusando a beber esse leite", lembra Firooza.
Efeito calmante
"Quando eu os amamentei, isso teve um efeito calmante em mim. Fiquei feliz por poder ajudá-los."
Depois de voltar para casa, foi a vez de seu filho.
"Depois de duas horas, eu amamentei meu bebê", diz Firooza.
Ela escreveu sobre sua experiência nas redes sociais e pediu que outras mães fossem ao hospital para ajudar as crianças que choravam.
Firooza diz que, depois dela, outras mulheres se voluntariaram e passaram a amamentar os bebês órfãos.
Após a noite do ataque, Firooza visitou o hospital nos dois dias seguintes. Ela diz que isso foi possível porque o marido a incentiva e apoia totalmente.
'Crime de guerra'
Ninguém reivindicou a autoria do ataque de terça-feira, que foi descrito pela ONG Human Rights Watch como um crime de guerra.
Quatro décadas de guerra e conflito armado mergulharam Cabul em uma espiral de violência.
Mas o assassinato desta semana de mães e seus filhos recém-nascidos será lembrado para sempre.
Firooza diz que está angustiada com o ciclo de violência em sua cidade natal, que não parece ter fim.
"Em vez de serem mantidos por suas mães, esses bebês estão em um hospital, alimentados por estranhos", diz ela.
Psiquiatra de formação, Firooza quer desempenhar um papel ativo na sociedade para curar as feridas profundas e a dor que muitas famílias afegãs sofrem.
'Feliz em criar um filho'
Ela entrou em contato com várias amigas para arrecadar dinheiro para comprar fraldas e leite em pó, para os bebês que não podem ser amamentados.
Ela diz que, além dos feridos, os outros recém-nascidos estão recebendo alta do Hospital Infantil de Ataturk.
Mas ela está preocupada com aqueles que não têm mais família.
"Minha prioridade será os bebês órfãos", diz.
"Ficarei feliz em assumir a responsabilidade por um bebê e criá-lo ao lado do meu filho", conclui.
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