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A mulher que amamenta órfãos após ataque extremista contra maternidade

Firooza Omar amamentou quatro bebês cujas mães morreram em ataque - Firooza Omar
Firooza Omar amamentou quatro bebês cujas mães morreram em ataque Imagem: Firooza Omar

Inayatulhaq Yasini

15/05/2020 15h57

Firooza Omar, mãe de bebê de quatro meses, passou a amamentar recém-nascidos que ficaram órfãos após ataque mortal contra maternidade na capital do Afeganistão, Cabul.

"Estava amamentando meu próprio filho e fiquei emocionada. Me dei conta do sofrimento desses outros bebês", diz Firooza Omar.

Na terça-feira (12/05), pelo menos 24 pessoas, incluindo bebês recém-nascidos, mães e enfermeiras, foram brutalmente assassinadas no ataque de um grupo extremista a uma maternidade na capital do Afeganistão, Cabul.

Firooza, de 27 anos, ouviu falar sobre o ataque na TV. Ela entendeu a gravidade da situação depois de conversar com seus amigos e ver as imagens horríveis nas redes sociais.

Ela própria é mãe de um bebê de quatro meses.

Firooza Omar com seu filho de quatro meses - Firooza Omar - Firooza Omar
Firooza se tornou mãe recentemente
Imagem: Firooza Omar

Enquanto ela o amamentava, não conseguia tirar da cabeça o sofrimento dos bebês deixados órfãos.

Compaixão e coragem

Ela decidiu, então, ajudar os bebês.

O que se seguiu foi um ato de compaixão e coragem.

Mulher sentada ao lado de bebês após ataque suicida no Afeganistão - Getty Images - Getty Images
Alguns bebês ficaram órfãos após mães morreram em ataque de grupo extremista
Imagem: Getty Images

"Quando estava chegando a hora de romper o jejum do dia [o ataque ocorreu durante o Ramadã, o mês sagrado para os muçulmanos], contei a meu marido sobre minhas intenções de ajudar os bebês órfãos."

Seu marido concordou com Firooza imediatamente e garantiu que cuidaria dos filhos na ausência dela.

Naquela época, as Forças Especiais Afegãs resgataram 100 mulheres e crianças do Hospital Dasht- Barchi e transferiram muitas das crianças para o Hospital Infantil Ataturk, a cerca de 2 km de onde Firooza mora.

Bebês chorando

A distância que Firooza viajou de carro pode ter sido curta, mas também arriscada, em uma cidade traumatizada e com medo após o ataque brutal.

Firooza Omar em sua casa - Firooza Omar - Firooza Omar
Firooza diz que contou com apoio de seu marido em ajudar as crianças
Imagem: Firooza Omar

"Quando fui ao hospital, vi cerca de 20 bebês. Alguns deles ficaram feridos. Falei com as enfermeiras e elas me disseram para amamentar os bebês que choravam muito."

Ela, então, amamentou quatro bebês, um após o outro.

Antes de Firooza chegar, as enfermeiras estavam tentando alimentar as crianças com uma mistura com leite em pó.

"Algumas crianças estavam se recusando a beber esse leite", lembra Firooza.

Efeito calmante

"Quando eu os amamentei, isso teve um efeito calmante em mim. Fiquei feliz por poder ajudá-los."

Depois de voltar para casa, foi a vez de seu filho.

Firooza Omar falando em um seminário - Firooza Omar - Firooza Omar
Firooza diz que onda de violência traz angústia a milhares de moradores de Cabul como ela
Imagem: Firooza Omar

"Depois de duas horas, eu amamentei meu bebê", diz Firooza.

Ela escreveu sobre sua experiência nas redes sociais e pediu que outras mães fossem ao hospital para ajudar as crianças que choravam.

Firooza diz que, depois dela, outras mulheres se voluntariaram e passaram a amamentar os bebês órfãos.

Após a noite do ataque, Firooza visitou o hospital nos dois dias seguintes. Ela diz que isso foi possível porque o marido a incentiva e apoia totalmente.

'Crime de guerra'

Ninguém reivindicou a autoria do ataque de terça-feira, que foi descrito pela ONG Human Rights Watch como um crime de guerra.

Quatro décadas de guerra e conflito armado mergulharam Cabul em uma espiral de violência.

Enterro das vítimas em cemitério de Cabul - Getty Images - Getty Images
Vítimas foram enterradas um dia depois do ataque
Imagem: Getty Images

Mas o assassinato desta semana de mães e seus filhos recém-nascidos será lembrado para sempre.

Firooza diz que está angustiada com o ciclo de violência em sua cidade natal, que não parece ter fim.

"Em vez de serem mantidos por suas mães, esses bebês estão em um hospital, alimentados por estranhos", diz ela.

Psiquiatra de formação, Firooza quer desempenhar um papel ativo na sociedade para curar as feridas profundas e a dor que muitas famílias afegãs sofrem.

'Feliz em criar um filho'

Ela entrou em contato com várias amigas para arrecadar dinheiro para comprar fraldas e leite em pó, para os bebês que não podem ser amamentados.

Firooza Omar falando em um seminário - Firooza Omar - Firooza Omar
Firooza cogita adotar uma das crianças órfãs
Imagem: Firooza Omar

Ela diz que, além dos feridos, os outros recém-nascidos estão recebendo alta do Hospital Infantil de Ataturk.

Mas ela está preocupada com aqueles que não têm mais família.

"Minha prioridade será os bebês órfãos", diz.

"Ficarei feliz em assumir a responsabilidade por um bebê e criá-lo ao lado do meu filho", conclui.