As lésbicas acusadas de transfobia por recusarem sexo com mulheres trans
Uma lésbica é transfóbica se ela não quer fazer sexo com mulheres trans? Algumas lésbicas dizem que estão sendo cada vez mais pressionadas e coagidas a aceitar mulheres trans como parceiras - depois rejeitadas e até ameaçadas por falarem abertamente sobre isso. Várias falaram à BBC, junto com mulheres trans que também estão preocupadas com o assunto.
Aviso: a história contém linguagem forte
"Ouvi uma pessoa dizer que preferia me matar do que (matar) Hitler", disse Jennie*, de 24 anos.
"Disse-me que me estrangularia com um cinto se estivesse em uma sala comigo e Hitler. Isso foi tão bizarramente violento, só porque eu não faço sexo com mulheres trans".
Jennie é uma mulher lésbica. Ela diz que só sente atração sexual por mulheres biologicamente femininas e com vaginas. Ela, portanto, diz que só tem relações sexuais e relacionamentos com essas pessoas.
Jennie não acha que isso deveria ser controverso, mas nem todos concordam. Ela foi descrita como transfóbica, fetichista genital, pervertida e "terf" (feminista radical transexcludente).
"Há um argumento comum que tentam usar que diz: 'E se você conhecesse uma mulher em um bar e ela fosse muito bonita e você se desse muito bem e fosse para casa e descobrisse que ela tem um pênis? Você simplesmente não estaria interessada?'", diz Jennie, que mora em Londres e trabalha com moda.
"Sim, porque mesmo que alguém pareça atraente no início, você pode sair disso. Eu simplesmente não possuo a capacidade de ser sexualmente atraída por pessoas que são biologicamente masculinas, independentemente de como elas se identifiquem."
Eu me deparei com esse problema específico depois de escrever um artigo sobre sexo, mentiras e consentimento legal.
Várias pessoas entraram em contato comigo para dizer que havia um "grande problema" para as lésbicas, que estavam sendo pressionadas a "aceitar a ideia de que um pênis pode ser um órgão sexual feminino".
Eu sabia que esse seria um assunto extremamente polêmico, mas queria descobrir quão difundido o assunto era.
No fim das contas, tem sido difícil determinar a verdadeira escala do problema porque há poucas pesquisas sobre esse tópico - apenas uma que eu conheça. No entanto, as pessoas afetadas me disseram que a pressão vem de uma minoria de mulheres trans, bem como de ativistas que não são necessariamente trans.
Elas descreveram ter sido assediadas e silenciadas quando tentaram discutir o assunto abertamente. Eu mesma recebi insultos online quando tentei encontrar entrevistados usando as redes sociais.
Uma das lésbicas com quem conversei, Amy *, de 24 anos, me disse que sofreu abuso verbal de sua própria namorada, uma mulher bissexual que queria que elas fizessem um ménage à trois com uma mulher trans.
Quando Amy explicou seus motivos para não querer, sua namorada ficou com raiva.
"A primeira coisa que ela me chamou foi de transfóbica", disse Amy. "Ela imediatamente pulou para me fazer sentir culpada por não querer dormir com alguém."
Ela disse que a mulher trans em questão não havia passado por cirurgia genital, então ainda tinha um pênis.
"Sei que não há possibilidade de me sentir atraída por essa pessoa", disse Amy, que mora no sudoeste da Inglaterra e trabalha em um estúdio de impressão e design.
"Eu posso ouvir suas cordas vocais masculinas. Eu posso ver suas mandíbulas masculinas. Eu sei, sob suas roupas, há genitália masculina. Essas são realidades físicas que, como uma mulher que gosta de mulheres, você não pode simplesmente ignorar."
Amy disse que se sentiria assim mesmo se uma mulher trans tivesse se submetido a uma cirurgia genital - o que algumas optam por fazer e outras, não.
Logo depois, Amy e sua namorada terminaram.
"Lembro que ela ficou extremamente chocada e zangada e afirmou que minhas opiniões eram propaganda extremista e incitação à violência contra a comunidade trans, além de me comparar a grupos de extrema direita", disse ela.
'Eu me senti muito mal por odiar cada momento'
Outra lésbica, Chloe *, de 26 anos, disse que se sentiu tão pressionada que acabou fazendo sexo com penetração com uma mulher trans na universidade depois de explicar repetidamente que não estava interessada.
Elas viviam próximas uma da outra em residências universitárias. Chloe estava bebendo álcool e não considera que poderia ter dado o consentimento adequado.
"Eu me senti muito mal por odiar cada momento, porque a ideia é que somos atraídos por gênero em vez de sexo, e eu não senti isso, e me senti mal por me sentir assim", disse ela.
Envergonhada e constrangida, ela decidiu não contar a ninguém.
"A linguagem na época era muito 'mulheres trans são mulheres, elas são sempre mulheres, lésbicas deveriam namorar com elas'. E eu pensei, esse é o motivo de eu rejeitar essa pessoa. Isso me torna má? Terei permissão para continuar na comunidade LGBT? Ou sofrerei consequências por isso?' Então, eu realmente não contei a ninguém."
Ouvir sobre experiências como essas levou uma ativista lésbica a começar a pesquisar o assunto. Angela C. Wild é cofundadora do grupo Get The L Out, cujos membros defendem que os direitos das lésbicas estão sendo ignorados por grande parte do movimento LGBT atual.
Ela e seus colegas ativistas se manifestaram nas marchas no Reino Unido, onde enfrentaram oposição. O Orgulho (Pride) em Londres acusou o grupo de "intolerância, ignorância e ódio".
"As lésbicas ainda têm muito medo de falar porque acham que não vão acreditar nelas, porque a ideologia trans está silenciando em todos os lugares", disse ela.
Angela criou um questionário para lésbicas e o distribuiu nas redes sociais, depois publicou os resultados. Ela disse que, das 80 mulheres que responderam, 56% relataram ter sido pressionadas ou coagidas a aceitar uma mulher trans como parceira sexual.
Apesar de reconhecer que a amostra pode não ser representativa da comunidade lésbica em geral, ela acredita que foi importante capturar seus "pontos de vista e histórias".
Além de sofrer pressão para namorar ou se envolver em atividades sexuais com mulheres trans, algumas das entrevistadas relataram ter sido persuadidas com sucesso a fazê-lo.
"Achei que seria chamada de transfóbica ou que seria errado recusar uma mulher trans que queria trocar fotos nuas", escreveu uma delas. "Mulheres jovens se sentem pressionadas a dormir com mulheres trans 'para provar que não sou uma terf'."
Uma mulher relatou ter sido alvo de um grupo online. "Disseram-me que a homossexualidade não existe e devo às minhas irmãs trans desaprender minha 'confusão genital' para que possa desfrutar de deixá-las me penetrar", escreveu ela.
Uma delas comparou sair em encontros com mulheres trans à chamada terapia de conversão - a prática controversa de tentar mudar a orientação sexual de alguém.
"Eu sabia que não estava atraída, mas internalizei a ideia de que era por causa da minha 'transmisoginia' e que se eu namorasse por tempo suficiente poderia começar a me sentir atraída. Era uma terapia de conversão DIY (sigla em inglês para faça você mesmo)", escreveu ela .
Outra relatou uma mulher trans forçando-a fisicamente a fazer sexo depois de terem um encontro.
"Ameaçou me declarar como terf e arriscar meu emprego se eu me recusasse a dormir com ela", escreveu ela. "Eu era muito jovem para discutir e sofri uma lavagem cerebral pela teoria queer, então (essa pessoa era) uma 'mulher', mesmo que cada fibra do meu ser estivesse gritando, então concordei em ir para casa com essa pessoa. (Ela) usou a força física quando mudei de ideia ao ver seu pênis e me estuprou."
Embora bem recebido por alguns integrantes da comunidade LGBT, o relatório de Angela foi descrito como transfóbico por outros.
"(As pessoas disseram) que somos piores do que estupradores porque (supostamente) tentamos enquadrar todas as mulheres trans como estupradoras", disse Angela.
"A questão não é essa. A questão é que, se acontece, precisamos conversar sobre isso. Se acontece com uma mulher, é errado. Acontece que ocorre com mais de uma mulher."
A youtuber trans Rose of Dawn discutiu o problema em seu canal em um vídeo chamado "Is Not Dating Trans People 'Transphobic'?" (em tradução livre: é transfóbico não namorar pessoas trans?)
"Isso é algo que vi acontecer na vida real com amigas minhas. Isso estava acontecendo antes de eu realmente começar meu canal e foi uma das coisas que o impulsionou", disse Rose.
"O que está acontecendo é que as mulheres que são atraídas por mulheres biológicas e órgãos genitais femininos se encontram em posições muito estranhas, onde se, por exemplo, em um site de namoro uma mulher trans se aproxima delas e elas dizem 'desculpe, não gosto de mulheres trans', então são rotuladas como transfóbicas."
Rose fez o vídeo em resposta a uma série de tuítes da atleta trans Veronica Ivy, então conhecida como Rachel McKinnon, que escreveu sobre cenários hipotéticos em que pessoas trans são rejeitadas e argumentou que as "preferências genitais" são transfóbicas.
Perguntei a Verônica Ivy se ela poderia falar comigo, mas ela não quis.
Rose acredita que visões como essa são "incrivelmente tóxicas". Ela defende que a ideia de que as preferências de namoro são transfóbicas está sendo impulsionada por ativistas trans radicais e seus "autoproclamados aliados", que têm visões extremas que não refletem as visões das mulheres trans que ela conhece na vida real.
"Certamente, do meu próprio grupo de amigos, as mulheres trans de quem sou amiga, quase todas concordam que as lésbicas são livres para excluir mulheres trans de seu pool de namoro", disse ela.
No entanto, ela acredita que mesmo as pessoas trans têm medo de falar abertamente sobre isso por medo de abuso.
"Pessoas como eu recebem muitos insultos de ativistas trans e seus aliados", disse ela.
"O lado ativista trans é incrivelmente raivoso contra as pessoas que consideram que estão saindo da linha."
Debbie Hayton, uma professora de ciências que fez a transição em 2012 e escreve sobre questões trans, se preocupa que algumas pessoas fazem a transição sem perceber como será difícil formar relacionamentos.
Embora atualmente existam poucos dados sobre a orientação sexual de mulheres trans, ela diz que acredita que a maioria é atraída por mulheres porque elas são biologicamente masculinas e a maioria dos homens é atraída por mulheres.
"Então, quando elas (mulheres trans) estão tentando encontrar parceiras, quando as lésbicas dizem 'queremos mulheres' e as mulheres heterossexuais dizem que querem um homem heterossexual, isso deixa as mulheres trans isoladas dos relacionamentos e, possivelmente, se sentindo muito decepcionadas com a sociedade, com raiva, chateadas e sentindo que o mundo não consegue compreendê-las", disse ela.
Debbie acha que está tudo bem se uma mulher lésbica não quiser namorar uma mulher trans, mas está preocupada que algumas estejam sendo pressionadas a isso.
"A forma como o envergonhamento é usado é simplesmente horrível; é a manipulação emocional e a guerra acontecendo", disse ela. "Essas mulheres que querem formar relacionamentos com outras mulheres biológicas estão se sentindo mal com isso. Como chegamos aqui?"
Stonewall é a maior organização LGBT do Reino Unido e da Europa. Perguntei à instituição sobre essas questões, mas ela não conseguiu fornecer ninguém para a entrevista sobre o tema. No entanto, em um comunicado, a executiva-chefe Nancy Kelley comparou não querer namorar pessoas trans a não querer namorar pessoas de cor, pessoas gordas ou deficientes.
Ela disse: "A sexualidade é pessoal e algo que é único para cada uma de nós. Não existe uma maneira 'certa' de ser lésbica, e somente nós podemos saber por quem nos sentimos atraídos."
"Ninguém deve ser pressionado a namorar ou a namorar pessoas pelas quais não se sente atraído. Mas se você descobrir que, ao namorar, estará descartando grupos inteiros de pessoas, como pessoas de cor, pessoas gordas, deficientes físicos ou pessoas trans pessoas, então vale a pena considerar como os preconceitos da sociedade podem ter moldado suas atrações."
"Sabemos que o preconceito ainda é comum na comunidade LGBT+ e é importante que possamos falar sobre isso de forma aberta e honesta."
O Stonewall foi fundado em 1989 por pessoas que se opunham ao que ficou conhecido como Seção 28 - legislação que impedia conselhos e escolas de "promover" a homossexualidade. A organização originalmente focou em questões que afetam lésbicas, gays e bissexuais e, em 2015, anunciou que faria campanha pela "igualdade trans".
Um novo grupo - LGB Alliance - foi formado em parte em resposta à mudança de foco do Stonewall, por pessoas que acreditam que os interesses das pessoas LGB estão sendo deixados para trás.
"É justo dizer que eu não esperava ter que lutar por esses direitos novamente, os direitos das pessoas cuja orientação sexual é voltada para pessoas do mesmo sexo", disse o cofundadora Bev Jackson, que também fundou o UK Gay Liberation Front em 1970.
"Nós meio que pensamos que a batalha havia sido ganha e é bastante assustador e horrível termos que lutar essa batalha novamente."
A LGB Alliance diz que está particularmente preocupada com lésbicas mais jovens e, portanto, mais vulneráveis
"É muito preocupante encontrar pessoas dizendo 'Isso não acontece, ninguém pressiona ninguém para ir para a cama com ninguém', mas sabemos que não é o caso", disse Jackson.
"Sabemos que uma minoria - mas ainda uma minoria considerável de mulheres trans - pressiona lésbicas a sair com elas e fazer sexo com elas, e é um fenômeno muito perturbador."
Eu perguntei a Jackson como ela sabia que uma "minoria considerável" de mulheres trans que estava fazendo isso.
Ela respondeu: "Não temos números, mas frequentemente somos contatados por lésbicas que relatam suas experiências em grupos LGBT e em sites de namoro."
'Mulheres jovens mais tímidas'
Por que ela acha que houve tão pouca pesquisa?
"Eu certamente acho que a pesquisa sobre este tópico seria desencorajada, provavelmente porque seria caracterizada como um projeto deliberadamente discriminatório", disse ela.
"Mas também, as próprias meninas e mulheres jovens, uma vez que provavelmente são as mulheres mais tímidas e menos experientes que são vítimas de tais encontros, relutariam em discuti-los."
O LGB Alliance foi descrito como um grupo de ódio, anti-trans e transfóbico. Em resposta, Jackson insiste que o grupo não é nada disso e inclui pessoas trans entre seus apoiadores.
"Esta palavra, transfobia, foi colocada como um dragão no caminho para interromper a discussão sobre questões realmente importantes", disse ela.
"É doloroso para nossos apoiadores trans, é doloroso para todos os nossos apoiadores ser chamado de grupo de ódio quando somos as pessoas menos odiosas que você pode encontrar."
O termo "teto de algodão" às vezes é usado ao discutir essas questões, mas é controverso.
Tem origem no termo "teto de vidro", que se refere a uma barreira invisível que impede as mulheres de subirem ao topo da carreira. O algodão é uma referência às roupas íntimas femininas, com a frase destinada a representar a dificuldade que algumas mulheres trans sentem que enfrentam quando procuram relacionamentos ou sexo. "Romper o teto de algodão" significa poder fazer sexo com uma mulher.
Acredita-se que o termo foi usado pela primeira vez em 2012 por uma atriz pornô trans conhecida pelo nome Drew DeVeaux. Ela não trabalha mais na indústria e não consegui contatá-la.
No entanto, o conceito de "teto de algodão" ganhou atenção mais ampla quando foi usado em um workshop da organização Planned Parenthood em Toronto, no Canadá.
O título do workshop foi: "Superando o teto de algodão: derrubando as barreiras sexuais para mulheres trans queer", e a descrição explicava como os participantes "trabalhariam juntos para identificar barreiras, criar estratégias para superá-las e construir uma comunidade".
Foi liderada por uma escritora e artista trans que mais tarde foi trabalhar para Stonewall (a organização pediu à BBC que não a nomeasse por questões de segurança).
A mulher trans que liderou o workshop recusou-se a falar com a BBC, mas a Planned Parenthood Toronto manteve sua decisão de realizar o workshop.
Em um comunicado enviado à BBC, a diretora executiva Sarah Hobbs disse que o workshop "nunca teve a intenção de defender ou promover a superação das objeções de qualquer mulher à atividade sexual". Em vez disso, ela disse que o workshop explorou "as maneiras pelas quais as ideologias da transfobia e da transmisoginia impactam o desejo sexual".
Quem mais foi procurado?
Além de Veronica Ivy, entrei em contato com várias outras mulheres trans famosas que escreveram ou falaram sobre sexo e relacionamentos. Nenhuma delas quis falar comigo, mas meus editores e eu sentimos que era importante refletir alguns de seus pontos de vista neste artigo.
Em um vídeo que agora foi excluído, a youtuber Riley J Dennis argumentou que as "preferências" de namoro são discriminatórias.
Ela perguntou: "Você namoraria uma pessoa trans, honestamente? Pense nisso por um segundo. OK, obteve sua resposta? Bem, se você disse não, sinto muito, mas isso é bastante discriminatório."
Ela explicou: "Acho que a principal preocupação que as pessoas têm em relação a namorar uma pessoa trans é que elas não terão os órgãos genitais que esperam. Como associamos pênis a homens e vaginas a mulheres, algumas pessoas pensam que nunca poderiam namorar um homem trans com vagina ou uma mulher trans com um pênis."
"Mas acho que as pessoas são mais do que seus órgãos genitais. Acho que você pode sentir atração por alguém sem saber o que está entre suas pernas. E se você dissesse que só se sente atraído por pessoas com vaginas ou pênis, isso realmente soa como se você estivesse reduzindo as pessoas apenas aos órgãos genitais."
Outra youtuber, Danielle Piergallini, fez um vídeo intitulado "O teto de algodão: transfobia, sexo e namoro (mas não com transexuais)".
Ela disse: "Quero falar sobre a ideia de que existem várias pessoas por aí que dizem que não se sentem atraídas por pessoas trans, e acho que isso é transfóbico, porque sempre que você está fazendo uma declaração ampla e generalizada sobre um grupo de pessoas, isso normalmente não vem de um bom lugar."
No entanto, ela acrescentou: "Se há uma mulher trans que está no pré-operatório e alguém não quer namorá-la porque não tem órgãos genitais que correspondam à sua preferência, isso é obviamente compreensível."
A romancista e poeta Roz Kaveney escreveu um artigo intitulado "Alguns pensamentos sobre o teto de algodão" e outro intitulado "Mais teto de algodão".
"O que sempre está acontecendo é a suposição de que a pessoa é o status atual de seus 'bits' e a história de seus 'bits'", escreveu ela no primeiro artigo. "Que é o modelo mais redutor de atração sexual que posso imaginar."
Embora esse debate já tenha sido visto como uma questão secundária, a maioria dos entrevistados que falaram comigo disse que ele se tornou proeminente nos últimos anos por causa das mídias sociais.
Ani O'Brien, porta-voz de um grupo da Nova Zelândia chamado Speak Up For Women, criou um vídeo TikTok voltado para lésbicas mais jovens.
Ani, de 30 anos, disse à BBC que está preocupada com a geração de lésbicas que agora são adolescentes.
"O que estamos vendo é uma regressão onde, mais uma vez, jovens lésbicas ouvem 'Como você sabe que não gosta de pau se ainda não experimentou?'", disse ela.
"Dizem que devemos olhar além dos órgãos genitais e aceitar que alguém diga que é mulher, e isso não é o que é homossexualidade."
"Você não vê tantos homens trans interessados ssão), mas você vê muitas mulheres trans que se interessam por mulheres, então somos desproporcionalmente afetadas por isso."
Ani acredita que esse tipo de mensagem é confuso para jovens lésbicas.
"Lembro-me de ser uma adolescente no armário e tentar desesperadamente ser hétero, e isso foi difícil o suficiente", disse ela.
"Eu não posso imaginar como seria se eu finalmente aceitasse o fato de que era gay, para então enfrentar a ideia de que alguns corpos masculinos não são masculinos então são lésbicas, e ter para lidar com isso também."
Ani diz que recebe mensagens pelo Twitter de jovens lésbicas que não sabem como sair de um relacionamento com uma mulher trans.
"Elas tentaram fazer a coisa certa e deram-lhes uma chance, e perceberam que eram lésbicas e não queriam estar com alguém com corpo masculino, e o conceito de transfobia e intolerância é usado como uma arma emocional, que você não pode sair porque do contrário você é transfóbica", disse ela.
Como outras pessoas que expressaram suas preocupações, Ani recebeu insultos online.
"Fui incitada a me matar, recebi ameaças de estupro", disse ela. No entanto, ela diz que está determinada a continuar falando.
"Uma coisa realmente importante que devemos fazer é sermos capazes de conversar sobre essas coisas. Encerrar essas conversas e chamá-las de intolerância é realmente inútil, e não deveria estar além de nossa capacidade ter conversas difíceis sobre algumas dessas coisas."
*A BBC alterou os nomes de algumas mulheres nesta reportagem para proteger suas identidades.
Esta reportagem foi alterada em 4 de novembro de 2021 para remover o depoimento de uma das entrevistadas por conta de comentários recentemente publicados por ela em um blog e que foram confirmados pela BBC.
Reconhecemos que uma admissão de comportamento impróprio por essa mesma entrevistada deveria ter sido incluída na reportagem original.
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