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A polêmica campanha contra 'encaradas' no metrô de Londres (e por que isso é considerado assédio sexual)

"Olhar fixamente de maneira invasiva e sexual é assédio sexual e não é tolerável", diz o cartaz no metrô de Londres - GETTY IMAGES
'Olhar fixamente de maneira invasiva e sexual é assédio sexual e não é tolerável', diz o cartaz no metrô de Londres Imagem: GETTY IMAGES

Redação

BBC News Mundo

03/05/2022 08h48

As "encaradas" no transporte público podem representar uma forma de assédio sexual e devem ser denunciadas à polícia.

Esse é o aviso de uma polêmica campanha que pode ser vista no metrô de Londres, na Inglaterra.

Os cartazes fazem parte de um esforço nacional para impedir diferentes tipos de assédio e comportamentos indesejados na rede de transporte público da capital britânica que afetam principalmente, mas não exclusivamente, as mulheres.

Os olhares com conotação sexual são um desses problemas. Há outros também, como os assobios e a exposição de partes íntimas.

No Brasil, assim como em outros diversos países, também já foram feitos diferentes tipos de campanha para tentar coibir o assédio sexual no transporte público. Por aqui já houve iniciativas como a "Chega de Fiu Fiu" e até orientações de entidades governamentais sobre como denunciar esse tipo de conduta.

Em Londres, o objetivo da campanha é "enfrentar a normalização desses comportamentos", diz a Transport for London (TfL), entidade responsável pela gestão do sistema de transporte local.

A campanha em Londres gerou reações a favor e contra.

Muitos elogiaram a medida por destacar um problema enfrentado por muitas mulheres, enquanto outros acham que é uma campanha muito questionável.

"A criminalização de olhar para outras pessoas em um espaço público é preocupante", diz um artigo publicado recentemente na revista britânica "The Spectator".

Mas as pessoas afetadas pelos olhares obscenos de estranhos no metrô descrevem a situação como angustiante.

'Podia sentir como o homem me olhava'

Bex voltava do teatro para casa durante a noite quando um homem sentado em sua frente começou a encará-la.

Ele olhou para ela durante a viagem de cerca de 10 minutos.

"Eu estava no meu celular, tentando olhar para qualquer lugar, menos para ele", diz ela. Quando ela chegou ao seu destino, os olhares persistentes do homem a deixaram tão constrangida que ela esperou até o último minuto para se levantar.

Quando ela saiu, ele a seguiu. Então, Bex esperou cinco minutos no saguão da estação antes de entrar no ônibus que a levaria para casa.

O homem parou, a menos de um metro de distância, e continou olhando para ela.

Depois, ela subiu as escadas correndo. "Me virei e ele estava lá, acenando para mim", se recorda.

A princípio, Bex se preocupou por pensar que "estava exagerando", mas diz que, ironicamente, um dos cartazes da campanha contra os olhares invasivos estava logo acima do homem que a olhava.

"Ver isso me fez sentir que tenho o direito de me sentir incomodada", diz.

Um caso semelhante é o de Lucy Thorbun, que estava viajando em um vagão do centro de Londres por volta das 9h, quando recebeu um olhar invasivo de outro passageiro.

Lucy diz que durante a viagem de 25 minutos o homem "não tirou os olhos" dela.

"Depois de 10 minutos comecei a me sentir muito incomodada", se recorda.

"Olhar fixamente a alguém pode não parecer 'tão ruim' para alguns, mas pode ser o começo de algo mais. Já fui alvo desse tipo de olhares e logo depois me seguiram", acrescenta.

Prisão e condenação

Nas últimas semanas, a campanha esteve no centro das atenções, após um homem ser preso por olhar fixamente para uma mulher em um trem e bloquear a sua saída.

O caso ocorreu em um trajeto entre Reading e Newbury, no sul da Inglaterra.

O homem foi considerado culpado por assédio e condenado a 22 semanas de prisão.

Olhar fixamente não é ilegal no Reino Unido ou em outros países, mas olhares invasivos de natureza sexual, que causam alarme ou angústia, podem ser classificados como uma ofensa à ordem pública.

Uma investigação da TfL revelou que os olhares invasivos são um dos tipos mais comuns de comportamento sexual indesejado, principalmente em relação às mulheres.

Fiona Vera-Gray, da Unidade de Estudos de Abuso Infantil e Feminino da Universidade Metropolitana de Londres, diz que eles são uma forma sutil de "assédio sexual público".

"É uma sensação de estar sob vigilância, sendo observado e avaliado."

Afroditi Pina, da Universidade de Kent, diz que um olhar invasivo "pode causar ansiedade e medo".

Um porta-voz da Polícia de Transportes britânica disse que "erradicar" todas as formas de assédio sexual na rede de transporte é uma prioridade e, por isso, todos os incidentes relatados são registrados para ajudar a mapear a ocorrência desse tipo de comportamento ofensivo.