Bebê se esqueceu da mãe enquanto estava sob custódia de autoridades dos EUA
O bebê não a reconhecia. A salvadorenha Olga Hernández finalmente tinha conseguido se reencontrar com seu filho depois que ele foi tomado pelas autoridades americanas. Abraçava-o com angústia, protegendo-o com todo seu corpo, mas o pequeno continuava paralisado, como se estivesse congelado de medo.
"Ele quando me viu não me reconheceu, estava assustado e eu lhe dizia: 'meu amor, não me reconhece?'. E ele só me olhava, com seus grandes olhos, ficava olhando como se dissesse: 'O que está acontecendo, um dia me deixam e agora aparecem?", relatou à Agência Efe Olga, que pede para ser identificada com um nome falso por temer represálias.
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O pequeno, que agora tem um ano e dez meses, mudou de atitude quando viu seu irmão mais velho, de cinco anos. Seus olhos brilharam ao ver o brinquedo que tinha lhe trazido: um boneco de Stitch, o extraterrestre que se faz passar por um cachorro no filme de animação "Lilo & Stitch".
O mais velho tinha um soldadinho de brinquedo e, fazendo ruídos, o aproximou lentamente do boneco de Stitch: "Vou comer Stitch, meu soldado vai comer Stitch!", gritava.
"O pequeno reagiu nesse momento, quando os dois começaram a interagir com os bonecos. Parece que é aí que já foi entendendo e entrando em si, vendo que estava outra vez com seu irmão e sua mãe", contou Olga, cujo marido está há meses detido em um centro para imigrantes ilegais em San Diego, na Califórnia.
O reencontro de Olga com seu filho ocorreu em fevereiro deste ano em um aeroporto de Los Angeles, depois que o bebê ficou durante 85 dias em um albergue em Los Fresnos (Texas).
Olga, seu marido e seus dois filhos saíram em 8 de outubro de 2017 da cidade de Santa Ana (El Salvador) e se integraram a uma caravana de imigrantes centro-americanos conhecida como "Viacrucis Migrante", que percorre o México anualmente e que neste ano recebeu fortes críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Primeiro viajaram a pé durante dias inteiros e, depois, na Cidade do México, embarcaram em um dos perigosos comboios de mercadorias apelidados de "La Bestia", que os levou até o norte do país, onde surgiu a possibilidade de se se aproximar da fronteira com os EUA de ônibus.
O preço da passagem era alto, mas o bebê, que tinha então um ano e dois meses, tinha ficado doente e, como não podiam pagar para toda a família, pensaram que era melhor que o pai e o pequeno fossem na frente de ônibus.
O marido de Olga e o bebê chegaram em 12 de novembro de 2017 a um dos postos de entrada nos EUA e pediram formalmente asilo, mas tiveram uma surpresa: os agentes disseram que não tinham os documentos necessários para provar seu parentesco e, portanto, deviam ser separados.
Quando o pequeno foi afastado do pai, Olga ainda estava no México com seu filho mais velho. Em 28 de dezembro, ela e o menor chegaram a um posto fronteiriço dos EUA para pedir asilo e, depois de serem retidos durante algum tempo, foram liberados e viajaram a Los Angeles, onde vivem alguns de seus tios.
Então, Olga solicitou a custódia de seu filho mais novo, um processo que descreve como "desgastante", mas que finalmente teve seu momento de "alívio" no encontro do aeroporto.
A família de Olga está atualmente preparando um pedido de asilo para poder ficar nos EUA e se afastar da violência das gangues em El Salvador.
"Tinha medo de que matassem um dos dois ou que os meninos fossem criados sem o pai ou a mãe. E que fossem criados em um ambiente tão violento, que não tivessem infância, porque não se pode ir a um parque ou estar tranquilo fora de casa por medo de um tiroteio", explicou.
Olga e seu marido foram separados do bebê como consequência da política de "tolerância zero" nos EUA, que leva a processar criminalmente os adultos que chegam irregularmente, o que provocou a separação de famílias, uma vez que as crianças não podem ser privadas de liberdade durante longos períodos de tempo.
Oficialmente, o governo começou a implementar esta política em abril deste ano, embora supostamente já no final de 2017 as autoridades tenham começado a separar famílias em algumas partes da fronteira.
Nesse sentido, Olga ressaltou que seu caso foi um dos primeiros e que sua família sofreu "represálias" por tê-lo denunciado.
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