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"Banqueiro dos pobres", vencedor do Nobel defende mulher empreendedora

O economista indiano, Muhammad Yunus que venceu o Prêmio Nobel da Paz ao defender a expansão do microcrédito e um capitalismo humanizado - Eduardo Anizelli/Folhapress
O economista indiano, Muhammad Yunus que venceu o Prêmio Nobel da Paz ao defender a expansão do microcrédito e um capitalismo humanizado Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

19/11/2018 09h01

Conhecido como "banqueiro dos pobres" e pela conquista do Prêmio Nobel da Paz em 2006, Muhammad Yunus destacou, em entrevista para divulgar seu novo livro "A World of Three Zeros", a capacidade empreendedora das mulheres e defende que sejam elas que controlem as atividades econômicas que garantam sua própria independência financeira.

O economista bengalês está na Espanha para promover o novo livro e, em entrevista à Agência Efe, defendeu a necessidade de defender o planeta com uma mudança de pensamento e de ações em benefício da humanidade.

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Antes de chegar a Madri, Yunus passou por Barcelona e Valência, onde deu palestras a convite da cooperativa espanhola TandemSocial. Ele também posou para fotos, devidamente uniformizado, no Camp Nou, casa do Barça, o time de futebol mais popular de Bangladesh.

P: Como seu modelo garante uma distribuição mais igualitária nas responsabilidades?

R: As mulheres têm que ser empreendedoras e viver da renda conquistada com seus próprios projetos. Eu sempre digo que os seres humanos não nascem para trabalhar para alguém. Somos empreendedores por natureza. Focamos neste modelo que se ajusta muito bem ás mulheres, que podem, inclusive, comandar seus próprios negócios em casa, graças à tecnologia, que torna mais fácil e conveniente do que trabalhar em uma fábrica, por exemplo.

P: Qual é a relação das mulheres com o fundo de investimentos Yunus Social Business e como elas se adaptam ao local de trabalho?

R: Estamos focados nas mulheres. Existem sete princípios para todos os negócios sociais, então temos que ter consciência de gênero. Não importa o que a gente faça, temos que evitar cair na armadilha da economia tradicional, na qual os homens crescem e as mulheres são deixadas para trás. Em tudo o que fazemos, temos a certeza de que as mulheres assumirão as posições mais adequadas e receberão a assistência necessária. Garantimos que elas tenham o controle.

P: No Brasil, os conflitos por terra ainda representam um problema para a população indígena. Como proteger os interesses deste grupo vulnerável.

R: Eles não são diferentes de ninguém. Se seguirmos os chamando de "indígenas" e os tratando de maneira diferente, mantemos uma separação que favorece o aumento da tensão entre as comunidades. Temos que dar a todos a mesma oportunidade. Eles são tão criativos e espertos como qualquer um, apenas não tiveram as mesmas oportunidades. Temos que abrir as portas para eles, contribuir para que sejam empreendedores. Esse é o melhor remédio.

P: Existe algum plano estratégico para ampliar o projeto pioneiro de energia renovável Grameen Shakti?

R: É sobre isso que a gente vem falando, é sobre isso que falo no meu livro. Sobre como o modelo de negócio social pode combater a degradação ambiental. Como podemos proteger o meio ambiente a partir das energias renováveis. Não vamos fazer isso sozinhos, convidamos todos a seguir este modelo, porque não nos interessa monopolizar essa ideia. Temos a intenção de apoiar aqueles que apresentem projetos de energia solar para gerar uma economia circular.

P: Como o senhor vê a situação dos rohingya que fugiram de Mianmar?

R: É muito ruim, e Mianmar não tem a intenção de aceitá-los de volta. Foram expulsos em um genocídio que atingiu muitas famílias. Muita gente perdeu familiares, muitas mulheres foram violentadas, muitas crianças massacradas. É preciso pressionar Mianmar de forma política e diplomática. É um grande problema para Bangladesh receber 1 milhão de pessoas de uma vez só. Seria um caos e não é fácil.

P: O que o senhor pensa do movimento #MeToo, criado em apoio às vítimas de violência sexual?

R: É bom trazer à luz os temas recorrentes na vida de todos. Não temos que conviver com isso para sempre, temos sim que partilhar e, partir disso, esclarecer as coisas. Não podemos guardar essas ações.

P: E sobre as vítimas de guerras?

R: Não deveriam haver guerras. Sempre arrumam desculpas para justificá-las. As guerras acabam com vidas, matam pessoas, crianças e famílias inteiras se desintegram. Um negócio social tem a obrigação de oferecer condições sustentáveis e oportunidades para que as pessoas possam seguir com suas vidas.