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Blue Man faz mistura de sagrado e profano, biquínis e samba, nos Arcos da Lapa

Blue Man traz moda praia com influências africanas - Publius Vergilius/UOL
Blue Man traz moda praia com influências africanas
Imagem: Publius Vergilius/UOL

CAROLINA VASONE<br>Enviada especial ao Rio

07/06/2006 12h08

Os arcos, os cariocas da Lapa. Os biquínis, de David Azulay. E o espetáculo, de Bia Lessa. A partir deste triângulo nasceu o desfile que marcou, apoteoticamente, o início (adulto, já que a marca infantil Lilica Ripilica se apresentou primeiro) da temporada de verão do Fashion Rio, no final da noite desta terça (6).



Ao ar livre, o público esperava o início do desfile, já acomodado numa arquibancada preta montada de cara para os Arcos da Lapa. A música começa e a escadaria dos Arcos é subitamente tomada por uma grande procissão. Mais de 700 pessoas - negras e vestidas de preto - avançam em direção à platéia. Velas acesas à mão, tardam cerca de quinze minutos para acomodar-se, de joelhos, ocupando em fila os degraus. Não rezam, mas a atitude é religiosa. E é nessa hora que surgem, brancas e seminuas, as primeiras modelos do desfile da Blue Man.



Michelle Alves, seguida por outras alvas beldades, andam no meio da multidão negra até chegarem à passarela, montada entre a platéia e a "procissão". Por alguns momentos, impera a tensão entre o tom sagrado da performance e o clima profano da pouca roupa, da atitude escancaradamente provocadora e sensual das modelos a requebrar em desfile. Em seguida, no entanto, as centenas de "fiéis" ganham outro papel e se transformam em figurantes responsáveis pelas várias mudanças do cenário do desfile: ora abanam panos metalizados em prata, ora em dourado, em seguida chacoalham ramos de flores brancas (um dos efeitos mais bonitos).



A apresentação pára para os estandartes com fotos de prostitutas, mendigos e outras personagens do bairro da Lapa - registados pelo fotógrafo Miguel Rio Branco - desfilarem. Eles são personagens homenageados dentro do tema escolhido pelo dono da marca, David Azulay, para a coleção: a história do samba.



O casting dos figurantes, só de pessoas negras, teria relação com a temática sambista do desfile. "Os negros vieram para mudar o Brasil. É uma celebração a eles", afirma a diretora e cenógrafa Bia Lessa.



Ainda dentro do clima do samba, Walter Alfaiate fez sua primeira participação num desfile ao substituir Dona Ivone Lara (eram muitas escadas para uma senhora em torno dos 80 anos) e cantar ao vivo na apresentação. "Só a paisagem já me gratifica", brincou Alfaiate, referindo-se às modelos de biquíni e resumindo suas impressões de estréia no mundo da moda.



Sobre os biquínis e o resto da coleção, eles acabaram mais como uma parte do show, sem grande destaque. As estampas seguiram uma história que começou com paisagens do Rio e cartografias em tons acinzentados de preto e branco, depois seguiram para tons alegres de azuis, rosas, verdes e amarelos tropicais mais naïfs, passando por uma combinação de preto e branco. Um momento inteiro branco mostrou rendas e detalhes mais artesanais. A modelagem no geral foi convencional, com alguns momentos de amarrações com tiras fininhas em maiôs, além de enfeites de argoas e nós de marinheiro. Para os homens, bermudas estilo surfista e sungas mais largas.