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Bate-papo UOL: Lilian Pacce lança livro com suas histórias no mundo da moda

Lillian Pacce fala sobre o lançamento do livro - Divulgação
Lillian Pacce fala sobre o lançamento do livro
Imagem: Divulgação

Da redação

10/01/2007 00h18

Na semana que antecede o início da temporada de moda brasileira, a jornalista Lilian Pacce falou no bate-papo do UOL sobre o seu livro "Pelo Mundo da Moda: Criadores, Grifes e Modelos", em que reúne diversos de seus artigos e reportagens dos últimos 20 anos trabalhando na área. A apresentadora do GNT Fashion contou um pouco sobre as curiosidades e os bastidores das grandes criações no exterior.

A jornalista falou ainda sobre temas polêmicos como anorexia, o papel social da moda e a importância da sustentabilidade na indústria fashion.

Confira a seguir a íntegra do bate-papo, que contou com a participação de 144 pessoas.

(07:08:32) Flávio fala para Lilian Pacce: O que de curioso a gente pode ler em seu livro?
(07:15:05) Lilian Pacce:
Flávio, tem muita coisa curiosa, você pode se surpreender. Durante os 20 anos, eu falei com muita gente interessante, tem Dalma Calado, tem Gisele Bündchen, Tom Ford, Pierre Cardin. Tem os estilistas, as modelos, as pessoas que fizeram as marcas, eu conheci as fábricas, o apartamento da Chanel em Paris. É curioso.

(07:13:40) Flávio fala para Lilian Pacce: Tenho certeza que seu livro é muito interesante, pois comenta uma história de moda e seus bastidores. Nesse mundo privado da moda o que vc via que agente não vê durante os desfiles entre estilistas e modelos?
(07:18:14) Lilian Pacce:
Flávio, eu acompanhei todo o prêt- a- porter do Valentino. Ele faz todo o ensaio, perfeito e geral, do desfile. Nesse momento, ele faz os ajustes finais. Você vê que ele tem uma relação muito normal com a modelo. O próprio Lagerfeld também. Eu nunca vi um estilista tratar mal uma modelo, é uma relação de que um precisa do outro. A modelo sabe que o estilista precisa dela, e o estilista também sabe que se a modelo não gosta da roupa fica mais dificil mostrar a idéia do estilista. É um chavão na moda, mas a modelo é o "cabide da roupa", ela tem que saber passar a atitude que o estilista quer. Fora alguns estilistas que são mais underground, o mundo da moda vive desse glamour que as meninas precisam passar.

(07:15:05) aline fala para Lilian Pacce: Lillian, como você já está há muito tempo cobrindo moda. O que acha desta evolução do mercado da moda, principalmente no Brasil?
(07:21:11) Lilian Pacce:
Aline, legal. Eu acompanhei muito dessa moda no Brasil. Nesses 20 anos, a moda brasileira conseguiu criar um calendário de moda, tanto no Rio quanto em SP e isso tem apenas dez anos. Antes disso, as partes não cumpriam seus prazos, depois do calendário, tudo passou a ser respeitado. O Brasil também abriu a parte de importação. As marcas passaram a ter como vizinhos marcas renomadas e assim passaram a se importar mais com a qualidade. Assim, não só se profissionalizaram, mas passaram a ter mais qualidade.
(07:22:34) Lilian Pacce: As pessoas, antes, não se preocupavam em ser tão autênticas ou originais, e com isso a gente via muitas reedições de grandes sucessos das marcas internacionais. Graças a essa boa vizinhança, eles viram a importancia de ter uma identidade própria, não brasileira, mas ter esse estilo. E eu acho que o Brasil está preocupado em criar o seu estilo.

(07:20:50) anne fala para Lilian Pacce: O seu livro relata que tipos de curiosidades?
(07:26:00) Lilian Pacce:
Anne, o que tem de mais inusitado é o prefácio escrito pela Vivienne Westwood. Foi ela quem inventou o visual do movimento punk, ela é um marco. Eu a conheço desde 91, ela é muito doce e eu resolvi convidá-la para fazer o prefácio - porque ela é a estilista mais intelectualizada e engajada que eu conheço. Ela não só topou como escreveu o prefácio, num domingo, uma semana antes do desfile dela em Paris. Ela não escreve em computador, ela escreveu a mão e me mandou um e-mail, via sua assessora. Na semana seguinte fui ao backstage e o marido dela quase me matou, porque ela tinha deixado os compromissos do desfile de lado para escrever o prefácio.

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Capa do livro "Pelo Mundo da Moda", de Lilian Pacce


(07:22:59) pepe fala para Lilian Pacce: quanto tempo você levou para escrever o livro?
(07:27:56) Lilian Pacce:
Pepe, no caso desse livro é muito relativo. Posso dizer que levei 20 anos, ou um ano para fazer a seleção das matérias que eu fiz ao longo desses 20 anos. Eu passei um ano revendo tudo o que eu tinha feito e atualizando essas matérias. No final dos capítulos, eu faço um "Hoje", atualizando o que tinha acontecido com as pessoas, desde as entrevistas até o hoje. Eu usei critérios variados, selecionei as que foram mais especiais, seja pelo momento ou pela carreira da pessoa.

(07:23:22) curiosa fala para Lilian Pacce: Oi Lilian, não entendo muito de moda, mas queria saber como está o Brasil em relação ao exterior?
(07:30:04) Lilian Pacce:
Curiosa, acho que o Brasil está entrando no mercado externo. É um passo muito difícil, afinal o mundo inteiro quer se globalizar. Os estilistas brasileiros já são bem recebidos, algumas marcas já tem showroom, lojas ou apresentam coleções em temporadas brasileiras. A imagem do Brasil no exterior é muito sedutora, nenhum gringo pensa que o brasileiro trabalha desse jeito. O que é bom, porque despertou uma curiosidade, mas já começou a crescer lá fora.

(07:25:44) anita fala para Lilian Pacce: Lilian boa noite! Pergunta de leiga: então seu livro não é sobre os certos e errados da moda, correto?
(07:33:45) Lilian Pacce:
Anita, não é um livro de auto-ajuda, não é um livro de certo e errado. Ele introduz as pessoas no mundo da moda, ele te fala quem é a Chanel, a Gisele - com o primeiro grande perfil que eu fiz com ela, em 1998, quando ela estava começando e não era ainda essa celebridade internacional. É um livro pra quem não é da moda ou pra quem é e serve de referência. Eu acho bacana, porque é um livro, que apesar de ser muito grande, ele dá liberdade para ler o que você quiser e na ordem que você escolher. Tem os principais estilistas e as modelos brasileiras de representatividade no exterior, porque elas foram muito importantes para a moda do Brasil. É incrível como o Brasil consegue mostrar belezas tão diferentes - como a Daiane Conterato, que é de uma beleza tão estranha que até pode parecer feia, até um mulherão como a Gisele.
(07:35:16) Lilian Pacce: É legal porque muitas dessas entrevistas com as meninas, mostra um lado mais humano delas. Como da Carol Ribeiro, que eu entrevistei em três momentos muito delicados - quando ela ganhou o primeiro milhão de dólares, quando ela perdeu o bebê e estava na luta para ser mãe, e depois já com filho.

(07:29:40) Flávio fala para Lilian Pacce: Por que as grifes internacionais são mais valorizadas, até mesmo pelos brasileiros? Seria um caso de qualidade do produto?
(07:37:02) Lilian Pacce:
Flávio, não sei se elas são mais valorizadas, mas sem dúvida, algumas grifes internacionais têm um known-how que é imbatível, que estamos ainda buscando. Mas o brasileiro está aprendendo valorizar. Eles têm a tradição e o laboratório que é a Alta Costura, onde eles podem elaborar muita coisa e aprender. A gente aprendeu a se dar valor, temos que ter mais auto-estima, porque temos muita coisa boa.

(07:33:53) Rafael fala para Lilian Pacce: Olá, Lilian!Bom, gostaria de saber na sua opinião, se o Brasil comporta o mercado do luxo? Creio eu que sim, mais existe várias exigências para fazer parecer com a moda do Brasil!E até mesmo com a Classe!
(07:39:49) Lilian Pacce:
Rafael, vamos ver se a gente entendeu. O Brasil comporta um mercado de luxo, antes da China, o Brasil era foco do planejamento desse mercado. Nosso povo adora moda, gosta das coisas de luxo, então comporta sim. Muitas marcas de luxo - Tiffany, Diesel, Cavalli, Vuitton e Mont Blanc - não têm do que reclamar sobre suas lojas no Brasil. Tudo o que está relacionado ao luxo é muito bem recebido no Brasil. Tem gente que não pode ter uma roupa Dior, mas se tiver um batom, ela está nesse mercado. O luxo é para deixar a gente mais feliz.

(07:37:12) modelo fala para Lilian Pacce: Você acha que algum estilista brasileiro pode fazer sucesso lá fora?
(07:41:48) Lilian Pacce:
Modelo, acho que pode sim. Tem vários estilista que não fazem desfile, mas comercializam bem lá fora: Osklen, Reinaldo Lourenço, Glória Coelho, Isabela Capeto, Patrícia Vieira e outras. A moda praia é um segmento muito forte lá fora, têm várias marcas fazendo um volume de negócios significativo lá fora. Está vindo uma nova geração de moda praia paulistana, que são novas e bacanas, é bem legal.

(07:39:51) analu fala para Lilian Pacce: como surgiu a idéia de escrever sobre o tema? Quando começou seu interesse por moda?
(07:44:47) Lilian Pacce:
Analu, eu sou jornalista há muito tempo. Não pensava em ser uma editora de moda como eu sou hoje, mas a redação da Folha - onde eu trabalhava - me pedia matérias sobre esse tema. E eu fui sendo levada, e quando vi tive que me preparar para aquilo. Eu sou de uma geração absolutamente auto-didata, hoje, já existem muitos cursos, eu acabei me interessando na prática. Na primeira vez que eu fui à Paris cobrir os desfiles - em 87 - eu vi que os brasileiros eram maltrados e eu disse à Constanza Pascolato que era um absurdo, e ela disse que era assim mesmo. Eu achei que ela era louca. Hoje, estou há 20 anos nessa loucura, a moda exige que você abdique de muitas coisas de sua vida pessoal.

(07:41:53) Rafael fala para Lilian Pacce: Lagerfeld fala que pretende fazer um desfile no Brasil,o que você espera para esse desfile?
(07:46:03) Lilian Pacce:
Rafael, olha, não estou sabendo que ele vem fazer um desfile, mas sei que ele vinha junto com a editora da Interview para fazer uma edição especial da revista. Mas, o seguro de vida dele não cobria o Brasil, e ele teve que cancelar a viagem.

(07:44:28) modelo fala para Lilian Pacce: Quero saber o que você espera do estilo no verão.
(07:47:26) Lilian Pacce:
Modelo, algumas tendências desse verão eu gosto muito, uma delas é o navy - o marinho, as listras. Adoro as estampas, os vestidos curtos, as saias curtas com volume. Gosto muito das sapatilhas, como legging e vestidinho - o que entra muito bem para o nosso inverno que é leve e prático.

(07:46:00) Fabinhoo fala para Lilian Pacce: Oi, Lilian, boa noite, gostaria de saber por que o jeans é dificil de sair de moda?
(07:48:40) Lilian Pacce:
Fabinhoo, o jeans já teve muitas variações. Se a gente for pensar que o jeans é uma invenção do século XIX e está ai até hoje. Nunca vi o jeans ser tombado pela moda, ele sempre teve um papel bacana.

(07:47:52) modelo fala para Lilian Pacce: Qual sua opinião sobre as modelos que têm a doença anoxeria?
(07:52:31) Lilian Pacce:
Modelo, é muito triste que isso esteja acontecendo. Com a morte da Ana Carolina, o tema veio para a mídia. Não é uma doença de modelos, mas é típica da adolescência. Claro que têm os grupos de risco. Acho muito triste que as pessoas sacrifiquem suas vidas por um disturbio de imagem. As pessoas que sofrem de anorexia podem estar magérrimas, mas se acham gordas e horríveis. Antes, as pessoas não sabiam o que era a doença. É um assunto importantíssimo e que está sendo bem discutido. O assunto vai voltar à tona a partir da semana que vem, com a chegada das semanas de moda. É um absurdo termos uma indústria farmacêutica que vende remédios para emagrecer, mas não dá pra culpar só a moda. É um problema tão grave quanto o uso de drogas na adolescência. Quando se percebe é um tratamento longo.
(07:53:32) Lilian Pacce: A pessoa tem que se alimentar. Modelo tem que ser magra sim, mas não pode ser doente. Geralmente modelo só é modelo porque é magra, não porque emagreceu.

(07:48:14) anita fala para Lilian Pacce: Lilian, você acredita que a indústria da moda pode seguir o conceito de sustentabilidade para preservar os recursos do nosso planeta?
(07:55:31) Lilian Pacce:
Anita, que legal essa pergunta. Acho que o próximo passo da moda é despertar essa consciência no consumidor. A tendência vai tanto pelo lado de usar materiais sustentáveis ou ir para o lado da sustentabilidade social. O papel da indústria da moda é encontrar um caminho de uma moda sustentável, friendly. A moda tem um papel muito importante, porque consegue repercutir muito um assunto.

(07:50:46) anita fala para Lilian Pacce: Lilian, você observou alguma reação entre as jovens modelos após as novas diretrizes do SPFW (somente modelos maiores de 16 anos e com "atestado de saúde")?
(07:58:05) Lilian Pacce:
Anita, embora importante - eu não gosto desta medida. Acho que tudo que pode ser proibido pode ser burlado. Eu acho que deviam regulamentar melhor a profissão, com carga horária, atestado de escolaridade e outras coisas. Em Paris é assim, as meninas podem trabalhar, mas têm algumas restrições. A gente tem que chegar a um bom senso, mas temos que, sim, pôr ordem na casa. Precisamos que elas se preocupem com a saúde, porque a vida de uma modelo é muito puxada, elas trabalham muito.

(07:53:45) pepe fala para Lilian Pacce: Você acha que um bom estilista tem que se preocupar e observar o desenrolar da História através dos tempos, para das artes, ter cultura? Se sim, essa você vê essa preocupação por parte dos estilistas Brasileiros?
(07:59:59)Lilian Pacce:
pepe, vejo sim. A moda é um reflexo de um tempo. Quando tem Copa do Mundo, os estilistas se voltam para o esporte, da mesma forma como quando tem uma guerra. Quando os estilistas são visionários, eles antecipam essas tendências culturais - como Chalayan, Balenciaga e Lanvin com a tendência futurista. Isso é fascinante na moda: o cruzamento que ela faz com qualquer área de expressão.

(07:56:23) D de Windsor fala para Lilian Pacce: Lilian o que é BREGA numa época onde as pessoas têm o direito de vestir as combinações mais estranhas, e se não é famoso é cafonas?
(08:02:38) Lilian Pacce:
D de Windsor, não acho que as famosas não são cafonas, pelo contrário. A gente vive numa época de pouquíssimas normas, pouquíssimos rituais. Pra mim é péssimo quando a pessoa não tem educação. Ela pode ter o que for, mas se não tem o mínimo de refinamento, ela fica cafona. Reza a boa etiqueta que não se deve ir de preto a um casamento, porque é uma etiqueta super antiga. Quem segue isso hoje? Tudo é permitido, tudo é possivel.

(07:58:05) Luas*** fala para Lilian Pacce: Oi Lilian, acabo de assistir o DVD Zuzu Angel. Incrível! Você acha que o engajamento, seja político ou social, ainda tem ou terá espaço na moda?
(08:03:48) Lilian Pacce:
Luas, eu acho. E você pode ver como a história da Zuzu Angel é incrível. Eu acho que o estilista pode se engajar sempre. Tem alguns estilistas que sabem fazer isso muito bem, como o Ronaldo Fraga. É legal saber aproveitar essa oportunidade.

(08:01:04) analu fala para Lilian Pacce: Lilian, como voce vê esse tipo de beleza que o mercado busca para as modelos? Como você mesma citou a Daiane Conterato, há várias meninas que não tem uma beleza óbvia. Qual é o motivo que você apontaria para esse fenomeno?
(08:05:24) Lilian Pacce:
Analu, acho que por essa coisa de a gente ter saído de uma fase de beleza muito forte, de curvas perfeitas. Olha que loucura, logo agora que a moda esta sendo crucificada por conta da magreza, ela está querendo fugir do padrão de beleza. A gente precisa disso para pensar, para olhar outra estética e descobrir outro jeito de ser bacana.

(08:03:15) ANDRÉ APASSE pergunta para Lilian Pacce: na sua opinião, por que os empresários de moda não fazem roupas para as mulheres de verdade.....como a própria campanha excelente da DOVE, a real beleza?
(08:06:44) Lilian Pacce:
André Apasse, não sei se as mulheres de verdade são só as muito grandes. Mas acho que é um segmento pouco explorado no Brasil.

(08:08:14) Lilian Pacce: Eu quero agradecer a todos que ficaram aqui comigo nessa horinha. Adorei as perguntas, espero que vocês leiam o livro, que com certeza vai ampliar um pouco o conhecimento sobre moda. A partir das 22h da quarta- feira teremos programas especiais, com uma hora de duração, direto do Fashion Rio.

(08:08:44) Roberta-UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Lilian Pacce e de todos os internautas. Até o próximo!