Ronaldo Fraga emociona com sua China pop e irônica

Um pequeno exército de olhinhos puxados entra na sala de desfiles, de uniforme azul, e senta no chão, em volta de duas mesas brancas. Entre os soldados chineses estão o estilista Jum Nakao, amigo de Ronaldo Fraga há mais de vinte anos, e o maquiador Celso Kamura. Os dois, como todos os outros figurantes que formam o cenário para o desfile, comem arroz branco de palitinho e carregam símbolos capitalistas estampados nas costas, da maça da Apple ao logo da Nike.



Todos a postos, a mesa vira passarela e, sob um fundo iluminado por uma luz vermelha entra, de preto, o primeiro modelo da coleção de Ronaldo Fraga, inspirada na China. Bruna Tenório aparece de óculos escuro preto bem fininho, quase fazendo as vezes de olhos chineses. Os cabelos em trança, enrolados, volumosos e o vestido de gola grande e fofa, como um matelassê, vem acompanhado de um preto com brilho texturizado ao longo do look, construindo uma imagem de China pop, quase cibernética.



À idéia da China pop agrega-se a tradição. Os quimonos são o ponto de partida para a criação de jaquetas, casacos, vestidos, que em um ou dois momentos ficam mais literais. No resto, acompanha-se o exercício criativo do estilista nas formas mais soltas, amplas e enfeitadas como só ele, como bom mineiro, sabe enfeitar.



Os tons predominantes são o vermelho comunista que, mais lavado, vira alaranjado também muito presente nas peças. O azul faz par com as cores quentes, o cinza fica chique e gráfico nas estampas de chineses e o tom de pele aparece em estampas de meninas chinesas. As estampas, aliás, são um assunto à parte, especiais, fascinantes, ora com pessoas, ora com os delicados bambus, e ainda, com os tradicionais ideogramas. O dourado ilumina a coleção tanto nas roupas como nos acessórios de metal, em braceletes e colares de metal duro com detalhes em porcelana.



No final do desfile, as modelos voltam à passarela em fila, literalmente soltando fumaça entre as tranças enroladas do cabelo. O exército de figurantes chineses se levanta ao som de "Lua Vermelha", do novo disco de Arnaldo Antunes. E todas as Chinas parecem se misturar sob os olhares emocionados e pêlos arrepiados da platéia.

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