AfroReggae emociona ao dar voz à moda e ao estilo do morro, no SPFW

Não era um desfile convencional. A marca estreante é do AfroReggae e foi criada como fonte de apoio financeiro para os projetos sociais encampados pelo grupo, e também para expressar o estilo de se vestir dos moradores das favelas cariocas, onde o AfroReggae atua. Já simpática, a idéia, transformada em desfile de moda, emocionou e proporcionou momento raro no mundinho fashion: o de transformar em protagonistas da moda os geralmente excluídos dela.



No palco do auditório do Ibirapuera, dentro do parque, perto mas não dentro da Bienal, monstrinhos gigantes compunham o cenário com faixas coloridas no chão e na parede, por onde desfilou o casting exclusivamente de modelos negros. A escolha do AfroReggae, não casual, confrontava o casting quase exclusivo de loiras e morenas branquinhas que reina nos desfiles em geral e - já que estamos no Brasil - especialmente nos brasileiros. Uma curiosidade: metade dos modelos era profissional, outra metade foi selecionada na favela Vigário Geral.



A Vigário Geral também serviu de fonte de meses de pesquisa para Marcelo Sommer, responsável pela criação das roupas. E, mais uma vez, deu-se a oportunidade para a moda que é usada no morro entrar na passarela. Com um pink a mais ali, uma combinação de cores acolá, estampas divertidas e bem feitas (muitas tiradas de grafites que existem na favela), Sommer, deu para as garotas, o que elas gostam de usar, com o bom gosto e humor habituais do estilista: legging (ou fusô bem justa de lycra, com blusinha também justíssima, saia curta, vestido curto, moletom com biquíni. Para os garotos, o streetwear reinou nas bermudas largas, camisetas folgadas, jaquetas esportivas.



No final do desfile, um dos grupos do AfroReggae, o AfroLata, fez apresentação surpresa e, pelo menos por um desfile, o morro se impôs, com categoria, na moda brasileira.