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No SPFW, imagem é tudo, até mesmo na cenografia e nas comidas

Os brigadeiros servidos no lounge da revista Vogue - Chris Campos/UOL
Os brigadeiros servidos no lounge da revista Vogue
Imagem: Chris Campos/UOL

CHRIS CAMPOS<br><br/> Colaboração para o UOL<br/>

16/01/2008 22h22

Quando se trata de um evento de moda é impossível descartar a imagem. Ela está em tudo. Nas roupas, no cenário e até na comida, enfeitada para a festa fashion. Nesta 24ª edição do evento de moda mais importante do país, imagem não é só jeito de falar. A cenografia da Bienal ganhou ares de Big Brother. Televisões espalhadas por todos os cantos estão focadas em rostos, de tudo quanto é tipo de gente. Diversidade é o lema. E por isso a cenógrafa Daniela Thomas inventou moda com tantas imagens de pessoas, que podem ser eu, você, seu vizinho, Gisele Bundchen... O que vale mesmo é se enxergar no diferente. Ou arrumar um modo de ser diferente quando tudo parece tão igual.

"A vida urbana e suas diferenças foi o norte para a criação da cenografia desta temporada da São Paulo Fashion Week", explica Daniela. "Pensamos em como o indivíduo se preserva, busca sua individualidade, mesmo quando misturado à multidão". Assim, todo mundo acaba sendo um pouco narcisista durante a saga fashion - que só termina na semana que vem. Inclusive porque há um estúdio de gravação montado no espaço batizado "Coletivo Natura". É de lá que sairão imagens do público que, durante a SPFW, serão devidamente mescladas às originais, exibidas na fileira de tevês que cercam a instalação.

Mas há outros arroubos de culto à imagem, ao pessoal, ao único. Três cabeças gigantes são atrações, junto ao cardápio de maquiagens da marca, no lounge da Natura, uma das grandes patrocinadoras do evento de moda. Nelas, é possível conferir uma coleção de outras imagens que se sobrepõem à principal. Idéia do cenógrafo Grigo Cardia, e que chama a atenção justamente pelo apelo nada comedido ao "eu". E também têm as imagens das passarelas, exibidas o tempo todo em outras tantas telinhas de plasma. Moças esbeltas em roupas que acabaram de sair do forno. Estão todas lá, para todo mundo ver, dentro ou fora da sala de desfile.

Comida também tem de ter apelo visual

E não pára por aí. Comida de semana de moda também tem de ser bela. O que comprova a teoria de 100% dos responsáveis pelos bufês dos lounges da SPFW entrevistados para esta reportagem. Eles acham impensável apresentar aos convidados dos coquetéis que rolam ao longo da semana pratos mal-acabados ou sem um apelo visual suficientemente atrativo.

A proprietária do bufê Strauss Gastronomia, Gisele Nose, é uma das mais caprichosas. No cardápio que elegeu para o lounge da empresa que a contratou tudo é lindo. Do suculento mix de cream-cheese com geléia de pimenta servido com torradinhas de milho às mini-tortas de pupunha ornamentadas com flores comestíveis. "Pensamos numa comida bem colorida para contrastar com o branco do estande e ficou lindo", comemora, enquanto um garçom munido de uma bandeja de sucos naturais com todas as cores do arco-íris desfila a sua frente.

"Bonito não representa necessariamente bom gosto. Logo, comidas consideradas "cafonas" são riscadas de cara da lista dos bufês selecionados para a farra fashion. "Não dá para servir canapés de pão de fôrma decorado com maionese", diz Oghan Teixeira, que bolou uma seleção de quitutes lindos e "na moda" para esta edição da SPFW. Mini-hamburguinhos servidos com relish de pepino, rolinhos de rosbife recheados com creme Dijon e moyashi, espetinhos de cogumelos paris com abobrinha e frozen de frutas tropicais incluídos na seleção de seu bufê.

E o que é bonito, no caso da semana de moda, muitas vezes implica leveza. Frituras e salgadinhos gordurosos são riscados de todos os cardápios. Primeiro pela impossibilidade de fritar alguma coisa nas cozinhas minúsculas e pouco arejadas dos lounges. Depois porque também é bonito ser saudável, certo?

"Antes de bolar as comidinhas que vou fazer, penso na energia dos pratos", conta Renata Bessa, responsável pelo bufê eleito pelo lounge da revista Vogue. "Tem uma hora que ninguém agüenta mais comer sanduíche, por isso gosto de servir quitutes diferentes, como rolinhos de abobrinha com queijo de coalho ao pesto e chapatti (pão indiano de massa muito leve) com berinjela e coalhada", explica Renata, que afirma ainda pensar muito na "energia" da comida antes de selecionar o cardápio para qualquer festa. E energia é o que não pode faltar na maratona de moda.

Chris Campos é jornalista e editora do site Casa da Chris