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"É hipócrita as pessoas ricas se vestirem como pobres", diz Vivienne Westwood, no Brasil

A estilista inglesa Vivienne Westwood, em foto desta quinta (17) - Folha Imagem/Julia Moraes
A estilista inglesa Vivienne Westwood, em foto desta quinta (17)
Imagem: Folha Imagem/Julia Moraes

CAROLINA VASONE<br>Editora de UOL Estilo

17/01/2008 16h26

Ninguém queria perder a chance de ver e ouvir de perto uma das estilistas revolucionárias da moda do século 20. A transgressora Vivienne Westwood, responsável por oficializar a influência do punk na moda lá nos anos 70, não gosta mais de discorrer sobre o passado. Ela prefere conversar sobre o que anda produzindo no momento: dos manifestos que faz (sempre há um folheto na cadeira de seus desfiles, em Paris, sobre algum projeto no qual está engajada), sobre as eleições norte-americanas, sobre sua vontade de produzir menos, e melhor. "Embora tudo que eu faça, sempre faço com muita qualidade", frisa.

A última novidade da dama da moda mundial (ela é conhecida como "Dame Vivienne", por conta do título concedido pela rainha da Inglaterra) é uma parceria com a Melissa, responsável pela vinda de Westwood ao Brasil, onde participou de uma coletiva de imprensa no início da tarde desta quinta (17), no auditório abarrotado de jornalistas e convidados no Porão das Artes, no prédio da Bienal. A estilista criou uma versão Melissa de seu sapato Mary Jane, da coleção de 2000 (com o relevo dos dedinhos na lateral e tudo), e estampou o forro do modelo Ultra Girl da marca. "Sempre quis trabalhar com o plástico. Tentei nos anos 80, mas não deu certo", contava ela, na abertura da coletiva, que teve a apresentação de Lilian Pacce (a jornalista usava um corselet da estilista, de quem é amiga, e de quem ganhou elogios).

Com viagem marcada para a Amazônia, que diz ter muito interesse em conhecer, Westwood respondeu cerca de meia dúzia de perguntas selecionadas, mandadas por escrito pelos jornalistas. Comentou a famosa queda de Naomi Campbell do icônico sapato altíssimo azul de plataforma ("Na hora ela riu, porque é muito orgulhosa. Mas ficou brava comigo no backstage") e soltou frases impagáveis, de quem não vive sem moda, mas não vive só dela.

Sem medo de enfrentar a contradição - talvez com um prazer irônico por ela - Westwood vai contra a indústria "mainstream" da moda, da qual hoje faz parte, ao criticar o consumismo. "Tudo o que eu posso dizer é: compre menos, escolha mais". Alguns minutos depois, não titubeia em deixar claro que isso não quer dizer negar o exclusivismo da moda, o cultivo e exibição da elegância. "É hipócrita que as pessoas ricas se vistam como pobres. Elas devem comprar coisas boas, mas menos coisas", diz. E completa, mais adiante: "Você não consegue oferecer algo para todos. O que você consegue oferecer é uma escolha".

Defensora de bandeiras como o direito ao habeas corpus (um protesto contra a prisão de suspeitos de terrorismo no Reino Unido sem necessidade de acusação, tema de camisetas feitas em 2005), desta vez o manifesto de Vivienne tem a ver com a crítica ao consumo. Intitulado "Active Resistance to Propaganda", ele terá uma leitura em forma de performance (com convidados brasileiros como Dudu Bertholini) na próxima sexta, no MAM, durante o SPFW.

As melissas de Vivienne (a versão de Mary Jane vale uma boa olhada) serão vendidas em março no Brasil e em julho, no resto do mundo, incluindo butiques da estilista.