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Reforma do Teatro Cultura Artística vai mudar estrutura e restaurar painel de Di Cavalcanti

GIOVANNY GEROLLA

Colaboração para o UOL

28/04/2010 07h00

O Teatro Cultura Artística, no centro de São Paulo, faz parte da história da cidade. Após ser destruído por incêndio, em agosto de 2008, o movimento de atores no local deu lugar ao vai e vem de operários da construção. Quem passa hoje por lá vê tapumes e o surgimento de estruturas metálicas. Paulo Bruna, do escritório Paulo Bruna Arquitetos Associados, antigo parceiro do arquiteto Rino Levi, sente-se reformando a própria casa com seu novo projeto para o Cultura Artística.

O projeto original, datado de 1942, teve a assinatura de Roberto Cerqueira Cesar em parceria com Rino Levi. Oito anos depois, o teatro foi inaugurado, com dez mulheres na fachada, em painel de pastilhas Vidrotil, assinado por Di Cavalcanti.

Como era tradicional nos anos 1950, havia um palco, não tão grande, nem tão fundo, mas para enorme plateia: 1.560 lugares se abriam em leque a partir de um eixo central do palco, que ficava de frente para a Rua Nestor Pestana. “O teatro tinha um eixo perpendicular à rua”, relembra Paulo Bruna. O comprimento da última fila era o mesmo do painel da fachada, em sua curvatura, de 48 metros. “Agora, estamos invertendo esse eixo, de forma que o palco fique paralelo à Nestor, ou de lado para ela”, explica.

Se antigamente a última fila ouvia claramente o que o ator representava, era porque Levi foi um grande estudioso da acústica. Mas para Paulo, o mais importante, agora, é abrir possibilidades. O novo teatro terá cinco pavimentos, com três níveis de balcões e camarotes, e uma plateia mais estreita, reduzida para 788 lugares. “É para baixar as luzes dos balcões e manter um maior nível de intimidade entre o palco e o público, nos dias em que o espetáculo não lotar a sala.”

Os últimos pavimentos, acima dos balcões, portarão camarins, administração, e haverá ainda um andar subsolo de estacionamento para atores, funcionários, equipes técnicas, depósitos e casas de máquinas. “A decisão de fazer um teatro moderno parte do princípio de que ele terá de ser multifuncional, para orquestra sinfônica – e daí a necessidade de se ter um fosso entre o palco e a plateia -, música de câmara, solistas, teatro, balés, óperas e musicais”, diz o arquiteto. Para tanto, o estudo de acústica e materiais de revestimento terá de ser minucioso.

Se não havia lugar para abrigar músicos, tampouco suficiente era o espaço de foyers. A legislação atual exige que haja de 0,7m² a 0,85m² disponíveis de foyer para cada assento dentro da sala de espetáculos. “Os foyers antigos tinham área total menor que 1/3 da área de plateia”, conta Paulo. “Nem a metade dos presentes conseguia pegar champanhe na hora do intervalo.”

O novo conceito dá mais importância ao momento de socialização, com bares, mesas, lojas de CDs, e múltiplos foyers e toaletes.

  • Divulgação

    Perspectiva do palco e novos pavimentos do Teatro Cultura Artística após a reforma

Restauro da fachada

A arquiteta Isabel Ruas trará uma equipe de artesãos para trabalhar no restauro do painel de Di Cavalcanti. A Racional Engenharia foi a empresa contratada nesta primeira etapa, para levantar uma estrutura metálica de travamento e apoio ao trabalho desses artesãos. Segundo o arquiteto Paulo Bruna, essa estrutura receberá ainda fechamento em policarbonato transparente que, além de cobrir a obra contra chuvas e infiltrações, dará condições mais agradáveis aos trabalhos de restauro e possibilitará aos transeuntes que acompanhem a obra.

“O restauro está aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Ministério da Cultura, e a Sociedade Cultura Artística também conseguiu captar recursos pela Lei Rouanet.”

Os custos totais foram orçados em R$ 75 milhões, e a execução deverá se estender até o final de 2012. A primeira etapa da obra, que custará R$ 31 milhões, já teve dois terços de seu valor captados.

História

O Teatro Cultura Artística foi alugado para a TV Excelsior logo após a sua inauguração, em 1960, e, quando ela faliu, no final da década, o teatro estava em ruínas. Rino Levi já havia então falecido, e o restauro foi feito por seu parceiro de projeto, Cerqueira Cesar, acompanhado de Luiz Roberto Carvalho Franco, sócio de Levi.

Apoiados pelo maior especialista em cenotecnia da época, Aldo Calvo, diminuíram a plateia original para 1.100 lugares, a fim de dar mais espaço ao palco, pequeno demais para uma orquestra.

“Mesmo após essa reforma, o palco permanecia muito pequeno para uma orquestra inteira”, conta Paulo Bruna que, deste a década de 70, tem prestado assistência ao teatro, em reformas de sanitários, elevadores, pequenas modernizações e adaptações às leis de segurança.

“Em geral, as segundas, terças e quartas havia apresentações de música; de quinta a domingo, eram as peças de teatro”, diz o arquiteto. Toda segunda-feira, era preciso desmontar o palco do final de semana e prepará-lo para ensaios da orquestra, à tarde. Não havia oficina, os camarins eram minúsculos, e os músicos eram obrigados a se alojar num hotel para poder trocar de roupa.

Paulo Bruna afirma o foyer térreo e o painel da fachada foram preservados no incêndio de 2008 graças às portas corta-fogo, que funcionaram corretamente. “Desmontar o Di Cavalcanti e levá-lo para outro lugar da cidade era absurdo; então foi decido que o Cultura Artística pertence ao centro, e lá deverá permanecer.” O teatro fica na Rua Nestor Pestana, 196. Mais informações: www.culturaartistica.com.br