Fatores psicológicos são principais causas da falta de libido nas mulheres
Se você está com a libido em baixa, saiba que não está sozinha. O problema, chamado pelos médicos de desejo sexual hipoativo, atinge 26% das brasileiras, sendo que somente 3% delas apresentam causas orgânicas e o restante, psicológicas.
Mas, calma: a falta de apetite sexual momentânea não quer dizer que você esteja com o problema. “Para caracterizar essa disfunção sexual, é preciso ter pouca ou nenhuma vontade de fazer sexo e se repetir em todas as relações sexuais”, explica a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, de São Paulo.
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Causas orgânicas
Antes de qualquer tipo de diagnóstico, o importante é investigar a parte física. “Em torno dos 40 anos, peço que a mulher visite também o ginecologista e faça exames hormonais, pois a partir dessa fase é mais comum encontrar causas orgânicas para a falta de desejo sexual”, diz a psicóloga.
O hormônio testosterona é o principal responsável pelo desejo sexual de homens e mulheres. Já o estrógeno, hormônio sexual feminino, é um tipo de “ponte” da libido. Ou seja, ele reforça as características femininas e prepara o corpo para o sexo. Como o corpo trabalha em prol da procriação, as taxas do hormônio na mulher aumentam durante o período fértil, o que favorece o desejo, as chances de fazer sexo e a fecundação.
Mas, nos seres humanos, há mais variantes nesse mecanismo natural, já que os aspectos psíquicos podem prevalecer sobre os físicos. Isso significa que, mesmo que os hormônios estejam no pico, a mulher pode não sentir vontade de fazer sexo. E os fatores psicológicos explicam essa disfunção.
Causas psicológicas
Conheça abaixo, alguns fatores psicológicos que contribuem para a falta de desejo sexual feminino:
- Aceitação do corpo. Muitas mulheres não aceitam o próprio corpo porque não está dentro dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade. Celulite aqui, uma gordurinha ali e pronto: já vem a preocupação com a aceitação do parceiro, e o desejo vai embora. “Mas muitos homens não se importam com isso quando há envolvimento”, diz Carla. O importante é aceitar-se e relaxar.
- Timidez e religião. O ambiente em que a mulher foi educada pode atrapalhar sua sexualidade, dependendo de como o sexo foi apresentado para ela. “Se o assunto teve conotação com algo “feio e sujo”, provavelmente ela não vai encará-lo com naturalidade”, diz Carla.
- Falta de conhecimento do próprio corpo. Quem não se conhece geralmente tem vida sexual pobre, pois não sabe pedir o que gosta. A psicóloga Carla Cecarello sugere aproveitar a hora do banho, com calma e sozinha, para se acariciar e descobrir áreas erógenas. “Se a mulher não consegue atingir o orgasmo, pode ficar frustrada e originar a queda de desejo sexual”, afirma.
- Rotina no sexo. Transar sempre do mesmo jeito, com dia marcado, sem surpresas e emoções novas pode tornar o sexo morno e desinteressante.
- Conflito conjugal. Brigas constantes e falta de respeito entre o casal são ingredientes para acabar com o desejo sexual.
- Desemprego. A situação pode causar problemas financeiros e, consequentemente, preocupações que atrapalham a vida sexual.
- Problemas com filhos. Principalmente adolescentes, que podem apresentar problemas de relacionamento, no namoro e com a iniciação sexual, e exigem a atenção dos pais.
- Estresse do dia a dia. Com trabalho, trânsito, tarefas domésticas e filhos, muitas vezes, não sobra tempo (nem disposição) para cuidar de si mesma, olhar para dentro, prestar atenção no corpo e nos desejos.
Caminhos diferentes
O desejo sexual tem caminhos diferentes para homens e mulheres. Em 2005, a psiquiatra canadense Rosemary Basson revolucionou o conceito de resposta sexual feminino com a divulgação de seu estudo intitulado "Disfunção sexual feminina: definições revisadas e ampliadas", publicado no “Canadian Medical Association Journal”. Até então, a classe médica aceitava a teoria de que homens e mulheres seguiam um ciclo de reações físico-psíquicas que obedecia a seguinte ordem: desejo, excitação, orgasmo e relaxamento. Para Rosemary, isso funciona, sim, para os homens, mas as mulheres são um pouquinho diferentes.
Nós não chegamos prontas para o sexo. A mulher necessita do toque e, mais que isso, se sentir desejada, acarinhada e cúmplice do
parceiro
Carla Cecarello, psicóloga e sexólogaO estudo da canadense mostra que, para as mulheres, a fase da estimulação é mais valorizada. Ou seja, para ter vontade de fazer sexo, elas precisam ser tocadas, diferentemente dos homens, cujo desejo brota de forma mais espontânea e visual.
“Nós não chegamos prontas para o sexo, como os homens. A mulher necessita do toque e, mais que isso, se sentir desejada, acarinhada e cúmplice do parceiro”, diz a sexóloga Carla Cecarello. “O sexo, portanto, começa bem antes do ato em si. A mulher já começa a ser estimulada com um telefonema do parceiro durante o dia, palavras de carinho e atenção, um elogio fora de hora”, diz a psicóloga.
Autoestima
Se a mulher olha para o espelho e não gosta de si, dificilmente vai aceitar que alguém goste dela. É necessário desenvolver a
autoimagem
Sergio Savian, terapeuta e escritor especializado em relacionamentosPara o terapeuta e escritor especializado em relacionamentos, Sergio Savian, o desejo sexual hipoativo pode estar relacionado com a autoestima em baixa. “Se a mulher olha para o espelho e não gosta de si, dificilmente vai aceitar que alguém goste dela. É necessário desenvolver a autoimagem”, opina Savian, que prepara o lançamento do livro “Amor e Sedução para a Mulher do Século XXI” (Editora Gente), previsto para o final do mês. “É comum perceber que a mulher que não tem vontade para o sexo também não tem tesão pela vida”, complementa Carla.
Melhorar a autoimagem, entretanto, não significa melhorar somente a aparência externa, com roupas, maquiagem e cirurgia plástica. Elas podem ajudar, sim, mas é preciso cuidar-se de dentro para fora, segundo o especialista em relacionamentos.
Do mesmo modo, Carla Cecarello não aconselha lançar mão de fantasias sexuais para tentar estimular o desejo feminino. “Quando a mulher tem essa disfunção, ela nem pensa nisso. E, se tentar sem vontade, pode ser uma experiência frustrante. O melhor é investigar, descobrir as causas e se tratar o que quanto antes”, sugere. “Uma pessoa só consegue se dar bem num relacionamento amoroso quando se dá bem consigo mesma”, conclui Savian.
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