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"Tenho clientes negras muito ricas", diz Walter Rodrigues, sobre exclusão de negras nas passarelas

CAROLINA VASONE

Enviada especial ao Rio

28/05/2010 06h00

Na abertura do Fashion Rio, no final da tarde da última quinta (27), Walter Rodrigues fez o que nunca se viu (ou há muito tempo não se vê, ao ponto de ninguém ou quase ninguém lembrar) num Fashion Rio ou São Paulo Fashion Week: inverteu a regra e realizou um desfile só com modelos negras.

  • Alexandre Schneider/UOL

    O estilista Walter Rodrigues ao fim de seu desfile para o Verão 2011 no Fashion Rio (27/05/2010)

O pretexto foi a inspiração na África, mas não só ela. O Brasil parece ter se revelado o principal motivo para que o estilista lotasse uma van para trazer, de São Paulo, as onze modelos que faltavam para completar seu casting de 25 beldades afro-descendentes. "É ridículo pensar no Brasil e não pensar nisso [em ter um desfile, se não com 100%, pelo menos com muitas modelos negras]", disse. "Era um sonho", resume o estilista, que não conseguiu reunir, ao procurar em agências cariocas e no casting do próprio evento, o número suficiente de profissionais negras para o seu desfile. "As agências de modelo deveriam viajar mais para o Nordeste do país. Elas estão indo muito para o Rio Grande do Sul", acredita.

Para Walter Rodrigues, cuja clientela inclui celebridades milionárias como a apresentadora Eliana (para quem fez o vestido de noiva), é um equívoco não só ignorar uma grande parcela da população feminina como uma fatia importante de consumidoras brasileiras ao representá-las tão mal na passarela. "Tenho clientes negras muito ricas", afirma.

Habituado a fazer parcerias com comunidades de artesãs em várias regiões do país, foi da última experiência, desta vez com a associação de 23 costureiras do Quipapá, no sertão de Pernambuco, que o interesse pela cultura africana cresceu, até virar coleção. O estilista conta que foi ao passar por Palmares - cidade batizada com este nome em homenagem ao Quilombo dos Palmares - que decidiu pesquisar a África. "Fui atrás de uma África real", conta o designer, que preferiu investir em tons mais sóbrios como o marinho, o cinza e os marrons ao colorido forte tradicionalmente relacionado à cultura africana. PInturas corporais do Vale do Rio Omo, na Etiópia, viraram estampas da coleção de formas mais simples. "Estou cansado de muita gola, de muita manga."


Ficha técnica do desfile:

Beleza Robert Stevão para a Kryolan
Cenário: Humberto Carrazzoni (com Guil Macedo)
Trilha Felipe Venâncio, The Knife – Anthony and Johnsons
Direção: Roberta Mazzolla

Styling Walter Rodrigues e Lucius Vilar
Modelagem: Edson Honda e Mariana Al