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Moda masculina coloca dois times em campo no verão: o ousado e o tradicional

05/07/2010 07h00

Cada mudança que a moda masculina apresenta tem que passar por um longo ritual de aceitação. Nos lançamentos para o Verão 2011, marcas nacionais e estrangeiras mostraram, de um lado, um homem mais tradicional, ainda que mais relaxado, e, de outro, um bem ousado e sexy, que flerta de perto com a moda feminina. Nesta edição de Hora H, você entende melhor como este jogo está acontecendo dentro e fora das passarelas.

Camiseta se liberta da forma antiga e fica mais solta no desfile do brasileiro Gustavo Lins, em Paris

FOTOS: VEJA AS TENDÊNCIAS MASCULINAS PARA O VERÃO 2011

O filósofo Gilles Lipovestiky afirma em seu livro “Império do Efêmero”:

“O tabu que regulamenta a moda masculina está a tal ponto integrado, goza de uma legitimidade coletiva tal, que ninguém pensa em recolocá-lo em causa; ele não dá lugar a nenhum gesto de protesto, a nenhuma tentativa de derrubada. Só J.P. Gaultier aventurou-se a apresentar saias-calças para homens, mas antes golpe publicitário-provocador do que uma busca de uma moda masculina nova, a operação não teve nenhuma repercussão no vestuário real. Não podia ser diferente: o uso da saia por um homem aparece como signo ‘perverso’, o efeito é inelutavelmente burlesco, paródico. O masculino está condenado a desempenhar indefinidamente o masculino”.

Durante décadas, não faltaram marcas dispostas a mudar esta sentença que paira sobre a moda masculina. Nos anos 60, com o movimento de liberação sexual, surgia uma moda andrógina, em que os limites entre o feminino e o masculino tentaram ser rompidos. O resultado foi o homem de cabelos compridos, que usava batas e roupas soltas - moda que perdurou até os anos 70. Nos anos 80, a moda masculina se voltou para esportes como o surf e o skate, enquanto alguns homens procuravam ganhar milhões nas bolsas de valores.

Marcas colocam homens de vestidos na passarela, como a Comme des Garçons em Paris

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Na década seguinte, o estilista Heidi Slimane, na Dior Homme, causou espanto por colocar homens com calças hiper justas chamadas de skinnies, que anos mais tarde viraram moda e deixaram de causar estranhamento quando usadas por homens.

Agora, temos os decotes mais ousados em V em camisetas, chamados de “deep v neck”. Aos poucos, os homens foram aderindo à tendência, sem que isso significasse questionar sua orientação sexual. No seriado global “Malhação”, por exemplo, o ator e cantor Fiuk está sempre com as camisetas decotadas e virou ídolo de um número incontável de meninas.

Por outro lado, há dois anos estamos vivendo uma onda retro e retrógada, que se baseia na reedição de clássicos do guarda-roupa que não mudam há mais de cem anos. A crise econômica fez com que as vendas despencassem. Isto pode explicar um pouco esta onda, já que o consumidor médio masculino é conservador, e, ao apostar no certo, as marcas poderiam ter um efeito benéfico nas vendas. Algo como convencer o homem de que estas roupas são duráveis e significam um bom investimento.

O blazer do Verão 2011 é mais curto e acinturado, como Canali mostrou em Milão

FOTOS: VEJA AS TENDÊNCIAS MASCULINAS PARA O VERÃO 2011

Passada a crise, estilistas procuram novos caminhos para a moda masculina, valorizando o corpo masculino como algo que poder ser mostrado de forma mais livre. Os efeitos disse foram vistos nos lançamentos de Verão 2011 de maneira bem peculiar. Observamos um flerte, às vezes discreto e, em outras, bem escancarado, com a moda feminina, por meio de recursos como decotes, valorização da cintura e comprimentos curtos.

Desta forma, os blazeres se tornam mais acinturados, o comprimento do shorts sube vertiginosamente, enquanto os decotes e cavas se aprofundam. As camisetas ganham formas soltas com direito a drapeados. Camisas e casacos se alongam e ganham ares de vestidos. A transparência de tecidos, antes femininos, ganha a companhia de telados e nylons fininhos, que revelam o corpo masculino. Tivemos até estampa de onça, a preferida das “peruas” ao redor do mundo.

Todavia, se você ainda não estiver afim de encarar estas ousadias, tem-se muitas calças de pregas, bermudas de alfaiataria, costumes bem cortados e peças em azul e branco. Afinal, no “supermercado de estilos”, a democracia na hora das escolhas pessoais ainda fala mais alto. Na próxima estação, o homem está com mais opções. Já é um avanço dentro da monotonia do guarda-roupa masculino.