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Por que aceitamos um amor "meia-boca"?

Lembre-se: o relacionamento deve proporcionar prazer e bem-estar, além de alguém com quem dividir afeto, ideias, sonhos, momentos, lugares - Getty Images/Thinkstock
Lembre-se: o relacionamento deve proporcionar prazer e bem-estar, além de alguém com quem dividir afeto, ideias, sonhos, momentos, lugares Imagem: Getty Images/Thinkstock

GISELA RAO <br>Colaboração para o UOL

13/10/2010 12h56

No livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, Clarissa Pinkola Estes descreve, no conto “Barba-azul”, a sedução lançada pelo personagem para arrumar uma nova esposa. Das três irmãs cortejadas, apenas a mais nova cai nas graças do misterioso moço. Porém, as mais maduras avisam: “Ele tem a barba azul!”; e a caçula responde: “Ah, não é tão azul assim...”. Ela se casa com o tal homem e começa todo o seu tormento. Sim, ela deixou de lado a sua intuição para se embrenhar num relacionamento “meia-boca”. Infelizmente, não é só na ficção que isso acontece. Todos nós - homens ou mulheres - já vivemos (ou continuamos vivendo) uma relação “gato por lebre”. Mas, por quê?

Segundo a psicóloga Neiva Bohnenberger, as pessoas aceitam essa condição pelo tempo em que acreditam que podem mudá-la e chegar a um amor “boca-cheia”. “Muitas vezes, demoramos muito para aceitar que não se pode mudar alguém. É difícil desistir, pois acreditamos, de verdade, honestamente, com toda convicção, que ninguém é capaz de se dedicar tanto quanto nós. Em outras vezes, aceitamos esse tipo de relacionamento porque falta essa confiança de que somos muito especiais. Nos achamos pouco merecedores. Neste caso, nos sentimos muito aquém de quem somos”, completa Bohnenberger.

O medo de ficar só também prejudica

E o pavor da solidão? Sim, isso também conta - e muito. “Mesmo com mais liberdade e muitas mudanças, nós somos frutos de uma sociedade que valoriza muito ter um companheiro, formar uma família. Ou seja: para ser feliz é preciso ter alguém. Portanto, se a felicidade é encontrada na união, nos frutos da união, estar sozinho torna-se uma situação negativa. Quantas vezes ouvimos alguém dizer que fulano deve ter algum problema porque vive só, não quis casar, não optou por esse padrão? Para as mulheres a pressão é ainda maior”, afirma a psicóloga Silvia Pedrosa.

Para ela, essa cobrança social é uma das maiores influências para uma pessoa querer um parceiro, afinal é melhor ter alguém mais ou menos do que se sentir sozinho, deslocado. “O importante é lembrar que um relacionamento, mesmo com todas as dificuldades, deve proporcionar prazer, bem-estar, alguém com quem dividir afeto físico, ideias, sonhos, momentos, lugares e muito mais” conclui a Pedrosa.

Você está num relacionamento “meia-boca”?

Para a psicóloga Samira Moura, o principal sinal para identificar essa situação é quando o relacionamento não motiva mais, entra naquele estado de acomodação em que as pessoas reclamam, mas não fazem nada para mudar. “No caso de querer buscar uma saída, essa busca deve ser dos dois. Não adianta só um dos lados travar uma luta épica e o outro ficar jogado no sofá”, avisa.

Veja alguns pontos que podem ajudar a identificar um relacionamento "meia-boca":

  • Falta de comunicação - Quando o casal não conversa mais e cada um não expressa o que sente, o que pensa ou quer.
  • Falta de planos em longo prazo - Um bom termômetro é quando o casal não faz mais planos em comum para o futuro.
  • Desânimo - Quando existe resistência e desânimo para aperfeiçoar a relação. É fundamental que se perceba que existem opções, por isso fique longe do papel de vítima.
  • Valores - Quando se esquecem os valores que os unem, por exemplo: lealdade, fidelidade, sensibilidade, generosidade, responsabilidade, confiança, consideração etc.
  • Ausência de flexibilidade - Quando a tolerância acaba juntamente com a receptividade. Falta a flexibilidade para entender e ser complacente com o outro.
  • Você se sente nitidamente infeliz – E o seu romance está a léguas de distância de ser o que você buscava na vida.

Como sair dessa “roubada” afetiva

  1. Desenvolva seu senso crítico - Não existe uma Gillian McKeith (do programa "Você é o Que Você Come") do amor, com um programa chamado "Você é Quem Você Namora". Ela não chegará à sua casa e dirá: "Me deixa ver com quem você está se relacionando. Afe, que horror! Joga isso fora agora!".
  2. Pare de brigar com seus amigos – Quando eles tentarem te avisar da sua péssima escolha no amor e falarem para você sair dessa.
  3. Use o espelho – Para dizer todos os dias: “Sai da minha vida, tranqueira, que este corpo não te pertence!”
  4. Comece a desmitificar seu amor – Às vezes, a gente não consegue sair das roubadas porque, por carência, coloca a pessoa num pedestal alto demais e acredita que ela seja o máximo. Arrume apelidos ridículos para o seu amor, tipo: “Monstro Ness do Rio Tietê” ou “Kinder Ovo com Surpresa Ruim”.
  5. Pare com o complexo de “Titanic” – Ser humano não encalha, quem encalha é navio e baleia. Pare com isso e curta os momentos de entressafra com os amigos e com você mesmo.