Técnica das constelações pode resolver problemas familiares
Questões mal resolvidas em uma família podem conduzir seus integrantes – mesmo aqueles que não têm ou tiveram nada a ver com o problema – a um redemoinho de dor, sofrimento, tristeza e até solidão. Essa é a premissa básica dos estudos do alemão Bert Hellinger, 85 anos, que criou a técnica das constelações familiares, atualmente bastante procurada por aqui.
A família, desde a primeira geração, seria uma espécie de rede em que todos os integrantes estão conectados, mesmo que não se conheçam ou tenham vivido na mesma época
Segundo Hellinger, que tem várias passagens pelo Brasil para divulgar seus conhecimentos, existem três leis (ou necessidades) que atuam na família: hierarquia (estabelecida pela ordem de chegada), pertencimento (estabelecido pelo vínculo) e equilíbrio (estabelecido pelo dar e receber). Quando tais leis são violadas numa família, surgem compensações que atuam em outros membros (muitas vezes em pessoas que sequer haviam nascido quando o problema aconteceu). Essas compensações – ou seja, problemas – podem aparecer na forma de dificuldade para lidar com dinheiro, complicações amorosas, traições, repetições de fracassos profissionais etc. Isso aconteceria porque toda a família (desde a primeira geração) é uma espécie de rede em que todos os integrantes estão conectados, mesmo que não se conheçam ou tenham vivido na mesma época.
A ferramenta terapêutica desenvolvida por Hellinger para sanar tais problemas trata-se de uma representação de algum episódio traumático ou situação peculiar, porém importante, mesmo se ocorrer de forma inconsciente. Um exemplo? A adolescente que, por estar de recuperação na escola, é agredida verbalmente pelos pais, que a chamam de “burra”. No futuro, não consegue efetuar cálculos simples, pois “apaga” determinados números. Outro exemplo, dado pela pedagoga Evanilda Praxedes Vieira, que promove workshops de constelações familiares em todo o Brasil: “Quando uma pessoa tem dois ou três irmãos e é o segundo filho ou o caçula, mas assume a postura de agir como o mais velho, ela também sofrerá consequências, pois não existe a possibilidade de um corpo ocupar dois lugares ao mesmo tempo”.
Pelo método criado por Hellinger, é identificado o início de um conflito e ele é revivido em uma representação, ou seja, pessoas “interpretam” aquele acontecimento. Os “atores” ou representantes podem ser membros da própria família (até mesmo os próprios envolvidos) ou participantes da sessão, já que muitas acontecem em grupo. Graças à representação, o paciente pode perceber conteúdos emocionais e mentais bloqueados, o que ajuda a despertar uma nova consciência sobre o tema familiar que está sendo trabalhado. “Então ele pode, talvez, enxergar o próximo passo que o conduza de uma maneira mais leve na vida, solucionando a questão que o incomoda”, explica o cirurgião-plástico Décio Fábio de Oliveira Júnior no site do Instituto Bert Hellinger - Brasil. Para entender mais sobre o assunto, confira as questões mais frequentes que envolvem o tema:
Para que tipo de conflitos a técnica é indicada? Ela serve para um problema ou trauma isolado (exemplo: meus tios deram presente de Natal para todos os primos, menos para mim) ou para causas mais amplas (negligência, ausência de elogios etc.)?
A técnica das constelações serve para todo tipo de conflito pessoal, interpessoal, problemas de saúde, vícios, traumas e comunicação, temas profissionais e relacionamentos em geral. “Na verdade, o que importa não é o conflito em si, e sim o que está por trás dele, que de alguma forma está causando efeitos maléficos nas pessoas”, afirma a consteladora Evanilda Praxedes Vieira. “Mas, em geral, quem a técnica procura quer resolver problemas de doenças, dificuldade para obter sucesso na vida profissional e falta de diálogo entre casais ou familiares”, exemplifica.
Quem participa?
Na sessão individual, participam o paciente e o constelador, nome dado ao profissional que trabalha com a técnica. “No trabalho em grupo todos participam diretamente ou indiretamente do processo, incluindo o cliente e os participantes assistentes”, informa Elaine Lilli Fong, terapeuta e educadora psicocorporal com abordagem sistêmica e fenomenológica pela Hellinger Sciencia e Dinâmica Energética do Psiquismo (DEP). Existem ainda pessoas curiosas que, ao conhecer melhor o trabalho, podem aproveitar a chance para atuarem como representantes no sistema do paciente que tem um determinado tema a ser trabalhado.
Os familiares são convidados ou convocados a participar?
Caso estejam no trabalho em constelações em grupo e o tema tenha a ver com eles, sim, é bem possível que sejam convocados, mas isso não é obrigatório. “O constelador pode colocar representantes para a dinâmica, durante o processo”, conta Elaine Fong. “Quando a queixa de quem está constelando é relacionada ao problema do cônjuge, por exemplo, aí sim se faz necessária a presença da outra parte, para trabalhar com aquilo que o parceiro ou a parceira faz, e o que isso atinge você”, salienta Evanilda Vieira.
Pessoas de que idade podem se submeter à técnica? E participar?
Pessoas de todas as idades podem ser consteladas. Para os menores de idade, o ideal é estarem acompanhados por familiares mais próximos. “Quando o problema está ‘supostamente’ na criança, quem é trabalhado são os pais ou os responsáveis”, diz o coaching Saulo Nagamori Fong, do Instituto União – Desenvolvimento Integral (SP), que avisa ainda que qualquer pessoa pode participar como representante. “Já houve casos em que crianças entraram em constelações representando elas mesmas. Quando já houver certa maturidade, elas podem representar outras pessoas.”
Por que em alguns casos são utilizados bonequinhos?
Os bonecos são utilizados geralmente nas constelações individuais para a representação do sistema a ser constelado, o que não é obrigatório – funciona como apenas mais uma das muitas ferramentas utilizadas durante a constelação individual.
Quantas sessões são necessárias?
Uma única constelação por tema (assunto em questão) é o suficiente. Caso o cliente tenha mais temas, são necessárias outras sessões ou encontros.
PARA SABER MAIS
1
"A Simetria Oculta do Amor - Por que o Amor Faz os Relacionamentos Darem Certo", de Bert Hellinger (Ed. Cultrix)
2
"A Prática das Constelações Familiares", de Jakob Robert Schneider (Ed. Atman)
3
"Constelações Familiares - O Reconhecimento das Ordens de Amor", de Bert Hellinger (Ed. Cultrix)
4
www.institutohellinger.com.br
5
www.institutouniao.com.br
Como acontece a cura e/ou a solução de conflitos?
“A constelação não é um trabalho que tem por objetivo a cura. É apenas uma ferramenta que possibilita condições de compreender, nem sempre de forma racional, o que acontece na interação das conexões pessoais e transpessoais. A partir da compreensão existe a chance para a cura e a harmonia do sistema”, afirma a terapeuta Elaine Fong.
Em geral, os familiares envolvidos costumam aceitar aquilo que é mostrado?
“Isso é muito relativo e depende de cada um. O que vem à tona durante o trabalho de constelações são situações que acontecem ou já aconteceram. O fato de o paciente olhar para isso já é uma intervenção e vai afetá-lo, quer ele aceite ou não”, ressalta o Saulo Nagamori Fong, que tem formação em constelação familiar pelo Instituto de Filosofia Prática da Alemanha.
É necessário que o cliente saiba de todas as informações relativas a seus pais, avós e bisavós?
Não é necessário. “Como regra, quase sempre aquilo que atua em uma família nem sempre é totalmente sabido por todos os membros. Por exemplo, é comum que relações amorosas dos pais ou avós que antecederam o casamento dos mesmos sejam pouco conhecidas pelos filhos ou netos. Habitualmente as constelações costumam descortinar as informações cruciais que têm relevância”, explica o cirurgião-plástico Décio Fábio de Oliveira Júnior no site do Instituto Bert Hellinger - Brasil, entidade em que atua como administrador. “Aliás, esse é o maior mérito dessa abordagem. Assim, para quem deseja participar, sugerimos apenas relaxar e participar sem se ocupar em levantar informações prévias. O essencial se mostra por meio do trabalho em si”, completa.
Problemas de familiares que já se foram podem nos prejudicar emocionalmente? De que forma? Como tratar isso?
Segundo os especialistas, no processo da constelação, nota-se que os antepassados continuam atuando no sistema dos que permanecem em vida. Em algumas constelações, ocorrem dinâmicas em um sistema que podem afetar pessoas que não estavam diretamente ligadas à situação. “Isso ocorre, por exemplo, quando alguém é excluído da família por algum motivo. Vou criar um exemplo: se um antepassado comete suicídio e isso é considerado algo vergonhoso pela família, é comum os familiares tentarem excluir essa pessoa do sistema familiar, como se ela nunca tivesse existido. O que acontece é que algum outro membro de uma geração seguinte poderá ter os mesmos sentimentos e, talvez até o mesmo destino desta pessoa que se matou, pois toma os sentimentos de quem se matou como uma forma de amor velado, para trazer o membro familiar excluído de volta para o sistema”, explica o coaching Saulo.
Quais são os benefícios que a técnica das constelações familiares traz? Ela é mais funcional que uma terapia convencional, por exemplo?
A constelação não é uma terapia, mas pode ser utilizada em processos terapêuticos e ter fins terapêuticos. “O processo não é racional, e sim fenomenológico. A constelação atua diretamente na alma”, diz Elaine Fong. Algumas pessoas se identificam com situações semelhantes em suas vidas e encontram soluções sozinhas. Os benefícios relatados são variados, como ficar em paz com a vida, experimentar um sentimento de confiança, resgatar a autoestima, ganhar serenidade para lidar com doenças, aprender com os relacionamentos etc. “O trabalho de constelação familiar não é mais nem menos funcional do que uma terapia convencional, é apenas outro caminho. Um caminho prático e direto que está em contato com as dinâmicas da vida. Dessa forma, pode ser considerado um trabalho filosófico com efeito terapêutico”, acredita Saulo.
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