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Em Paris, alternativos "botam banca" e são ofuscados por Galliano

CAROLINA VASONE

Enviada especial a Paris

01/03/2011 20h42

O primeiro dia da semana de moda de Paris é geralmente dedicado às marcas alternativas. Mesmo estes nomes pouco conhecidos dos franceses e provavelmente ignorados pelos brasileiros não se intimidam ao dividir a temporada com casas históricas como Balenciaga, Chanel, Dior: botam banca, desfilam em endereços badalados, enchem (nem todos) a sala, parecem gostar de mostrar-se pouco acessíveis.

Embora não tenha faltado pose, não houve como não ser ofuscado pela principal notícia do dia, a da demissão oficial de John Galliano como diretor criativo da Dior. "Nada mudou. O desfile acontecerá como planejado na próxima sexta (4), fizemos as reuniões normalmente [por telefone, com a equipe francesa da Dior]. Quem desfila é a Dior", afirmou Heloisa Caraballo, gerente de marketing da grife no Brasil. Ela ainda não sabe, porém, quem deve substituir o estilista na "maison" nem se ele participará do desfile. "Por enquanto, recebemos apenas o comunicado oficial, como todo mundo."

Abatidas pelo primeiro dia tradicionalmente morno e pelo "caso Galliano", as grifes Moon Young Hee e Hakaan perseveraram e, com propostas diferentes, mereceram devido destaque. A primeira, estilista coreana, fez apresentação mais "low profile" num galpão pintado de branco no bairro alternativo do Marais. As pretensões, porém, são altas. "Não trabalhamos com este conceito de inspiração", proclamou a relações públicas da grife sobre uma suposta referência para a coleção do próximo inverno europeu da marca. "Ela [a designer coreana em questão] veste uma mulher que tem um estilo muito específico, a intenção não é criar para muitos, é quase uma alta-costura", exagera a assessora para reforçar que não, ela não vende em outras partes do mundo. Tem uma loja em Paris (também no Marais) e pronto. Na passarela, o preto impera a despeito da tendência colorida do "mainstream" fashion e o foco é a mistura da alfaiataria em interpretações de paletós e partes de baixo com volumes franzidos e repuxados, num cardápio de moda bem "à japonesa".

  • Antonio barros/UOL

    Primeiro dia de desfies em Paris destaca as grifes Hakaan, Moon Young Hee e Nicolas Andréas Taralis

Com perfil menos conceitual e mais internacional, o turco Hakaan trouxe, para Paris, sua boa fama feita em Londres no pouco tempo que ficou na fashion week inglesa e não enconomizou: escolheu o Ritz como cenário de sua primeira coleção apresentada na capital francesa. Numa sala (lotada de convidados) anexa à entrada principal de um dos hotéis mais famosos do mundo, o estilista fez uma mistura de sensualidade latente em vestidos justíssimos e curtíssimos com alfaiataria masculina mais longe do corpo. Entre estes dois opostos bem-sucedidos, recortes e decotes entre agressivos e abusados, deixando claro que tem que ser contemporânea, mas tem que ser sexy.

No penúltimo desfile desta terça (1), o designer de origem greco-germânica Nicolas Andreas Taralis - ex-assistente de Hedi Slimani na Dior Homem - caprichou na referência gótica vampiresca, com direito a camisa manchada de sangue, trilha sonora sinistra, homens maquiados, lenços que formavam jabôs (aqueles babados das roupas históricas masculinas), fendas laterais vertiginosas em vestidos quase sexuais para as mulheres, numa apresentação tétrica e quase amedrontadora na sala de concreto que fica na parte de cima do centro cultural Palais de Tokyo.

Nesta terça desfilaram ainda a portuguesa Fátima Lopes e as grifes Harry Halim, Aganovich, Anthony Vaccarello, Corrado de Biase e Josephus Thimister