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Intimista e "clandestino", desfile de Galliano acontece sem o estilista

CAROLINA VASONE

Enviada especial a Paris

07/03/2011 08h01

Cortinas de veludo, tapete persa, decoração suntuosa em dourado de outro século. Espalhados pelos cômodos da mansão numa das regiões mais elegantes de Paris, os convidados de John Galliano assistiam em turnos ao desfile de sua coleção para o Inverno 2011. Na porta de entrada do casarão (o mesmo dos desfiles da Miu Miu), duas ou três emissoras de televisão esperavam para entrevistar quem saía, uma meia dúzia de fotógrafos passava, dispersa e sem pressa, de uma calçada à outra, alguns poucos jornalistas faziam uma discreta campana. Cerca de uma hora antes do desfile, o assessor de imprensa da Federação Francesa de Costura, organizadora da semana de Paris, avisava os fashionistas dentro do ônibus que faz o leva e traz da imprensa às apresentações: "Vamos direto daqui para o Kenzo, ok?".


Tirado de última hora do calendário oficial, o show de Galliano parecia acontecer de maneira clandestina no final da tarde deste domingo (6). Como as apresentações foram divididas em três, os convidados chegavam a conta-gotas, numa janela de duas horas (era para ser das 17h às 18h mas acabou por volta das 19h). Na saída, todos apertavam o passo, uns pegavam o telefone, outros olhavam para o chão, pouquíssimos queriam se pronunciar a respeito.


Suzy Menkes (a editora de moda do "International Herald Tribune") apareceu aos 45 minutos do segundo tempo. Mas prestigiou a coleção, como boa parte dos editores, de Giovanna Battaglia, da "Vogue"Itália, a Ana Dello Russo, da "Vogue" Japão, passando por Hillary Alexander, do "Daily Telegraph" e Andre Leon Tailley, braço direito de Anna Wintour, da "Vogue America".


Dentro da mansão, o clima era intimista, dizia Susan Tabak, "personal shopper" e autora do guia "Chic in Paris: Style Secrets & Best Addresses" ao final do desfile. "Sentei numa das cadeiras da sala, as modelos começaram a entrar, parando para que víssemos as roupas. A atmosfera era um pouco como a dos desfiles de antigamente". Macarons e outros docinhos foram servidos. Entre os sofás de veludo e os lustres de cristal, objetos de cena deslocados como uma bicicleta, um urso de pelúcia e um cavalo de madeira compunham uma atmosfera entre luxuosa e surrealista..


As roupas traziam, como sempre, a essência retrô-sensual-exótica-provocadora-contemporânea de Galliano, sem parecer insinuar nem nos tailleurs justos do início, nem nos vestidos longos, ora transparentes tipo lingerie em preto, ora classudos em cetim de seda verde escuro com bordados (usado por Vivianne Orth, a única brasileira do casting), a crise pela qual a marca começa a passar por conta das declarações antissemitas de seu criador. A não ser pelo número menor de looks (cerca de 20) e pelo vestido final em branco, uma espécie de noiva inacabada.


No final de cada apresentação, Sidney Toledano, o presidente da Dior (a maison comprou a grife do estilista), cumprimentava os convidados no lugar de John Galliano, que não apareceu no próprio desfile.