Paris se divide entre fetichismo escancarado e fashionismo casto
Há muitas nuances mas geralmente os meio-termos são os que menos chamam a atenção (embora sejam os mais adequados para o dia a dia). Quando o assunto é moda, e na temporada mais importante do mundo, o mais interessante é procurar as propostas radicais, aquelas que, encantem, incomodem ou irritem, provocam algum tipo de emoção intensa na passarela.
Pois bem. No último dia dos desfiles da temporada de moda de Paris, coincidentemente, dois desfiles importantes reafirmaram ou criaram duas fortes tendências da fashion week parisiense. A Louis Vuitton apareceu com Kate Moss representando o fetiche escancarado, o convite sem rodeios ao sexo com perversões de fantasias de homens de uniforme, camareiras de hotel, taradas de luxo fazendo-se de garotinhas inocentes. Quatro elevadores destes de hotéis luxuosos e antigos foram instalados na passarela, cada qual com seu funcionário de quepe, uniformizado. As modelos usavam o mesmo quepe, com o famoso monograma da Louis Vuitton estampado, com meias sete oitavos, camisas totalmente transparentes e muitos casacos, o principal destaque da coleção, em modelos mais curtos de lã, com abotoamento de uniforme (que também lembrava os uniformes militares), em couro mais longos com abotoamento único com grandes botões ou peludos, volumosos, com mangas gordas e cintura estrangulada com cinto largo em um material vinilizado.
A proposta da Louis Vuitton foi reforçada - cada qual com sua particularidade - em outros desfiles como Thierry Mugler e Emanuel Ungaro. A volta de Mugler, comandada por Nicola Formichetti, teve Lady Gaga como musa (Formichetti é stylist da artista), que desfilou para a grife ícone do fetichismo dos anos 80, com corsets, cinturas marcadas, quadris arredondados, ombros quadrados. Já Ungaro, com Giles Deacon em sua segunda coleção para a maison, apostou na renda transparente no top com os seios saltados para fora, no vestido justíssimo e curtíssimo de manga longa usado com pele, na calça totalmente transparente estilo pantalona acompanhada de paletó de alfaiataria.
As grifes Céline, Chloé e Miu Miu apostam em visual comportado e modelagem masculinizada para o Inverno 2011
Do lado fashionista casto, Miuccia Prada mostrou na Miu Miu saias abaixo do joelho ou exatamente em cima dele, ombros quadrados masculinizados (esta, aliás, é "a" tendência de modelagem da temporada), decotes de blusas, camisas ou casacos totalmente fechados, recursos decorativos interessantes, como a estola de pele usada no quadril, mas nada sensuais. A Chloé (a "rainha" desta edição do estilo fashion assexuado) e Céline engrossam este time muito "cool" e comportado. O tipo de moda que sua tia e seus amigos gays vão amar. Seu namorado ou o gatinho da boate certamente não.
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