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Sob direção de Ronaldo Fraga, "bloco fashion mineiro" quer reconquistar o Brasil

CAROLINA VASONE

Editora de UOL Estilo*

11/05/2011 13h40

Se você não mora em Belo Horizonte, talvez não conheça marcas como GIG, Mary Design, Última Hora ou Faven. Por menos interessado em moda que seja, deve ter ouvido falar, porém, em Ronaldo Fraga.

Sob direção do famoso estilista mineiro, um "bloco fashion" de Minas avançou, na última terça (10), rumo à reconquista de sua importância na moda brasileira.

A moda mineira passou a ganhar destaque na década de 1980, quando foi formado o Grupo Mineiro de Moda (GMM). Composto por dez marcas, como Art Manha, Comédia, Straccio, Eliana Queiroz, Barbara Bela, Patachou, Renato Loureiro e Sônia Pinto, o coletivo foi responsável pelo despontar da moda mineira, chamando a atenção do resto do Brasil para o Estado.

O grupo foi encerrado em 1997 devido a crises na economia da época e, quase dez anos depois, nasceu o Minas Trend Preview, atraindo novamente os olhares para a moda de Minas.

Considerado evento de moda comercial, no passado recente com muitas grifes do Rio e de São Paulo que acabavam por fazer um repeteco do que já apresentavam em outras temporadas, o Minas Trend Preview parece ter se concentrado, nesta edição, no que tem de mais original para mostrar ao resto do país: a moda do próprio Estado.

Globais foram contratados para reforçar a importância midiática da temporada: a mocinha e os bandidos da novela das nove da vez, respectivamente, Paola de Oliveira e Gabriel Braga Nunes e Thainá Müller, de "Insensato Coração", sentaram na primeira fila do desfile de abertura do evento. Nem precisava. Inspirado no tema da sustentabilidade, intitulado "Oxigênio", o desfile ofereceu espetáculo cenográfico (cenário "inóspito" com flores e folhas de madeira "versus" acessórios naturais, com folhagens e colares de beringela) e evidenciou, com styling (a idealização da produção dos "looks") de Daniel Ueda e curadoria de Ronaldo Fraga, o talento decorativo rebuscado típico mineiro. A novidade é a intersecção, não total, mas cada vez mais bem sucedida, da identidade regional com um design contemporâneo de moda, o que acaba por transmitir uma mensagem com conteúdo ao mesmo tempo local e internacional, mais sofisticada e complexa, e, por isso, com potencial de gerar interesse não só em Minas Gerais, mas no Brasil e no mundo.

Regional X Global

Considerada muitas vezes - não só na moda, mas na cultura em geral - um traço de provincianismo, a valorização do regional no design ainda gera discussão. Para Jodie Ball, editora de moda inglesa do WGSN (um dos birôs de tendência mais importantes do mundo) e uma das convidadas e palestrantes do Minas Trend Preview, a receita para o sucesso da moda brasileira [que, para ela, ainda não está sendo aplicada] está na valorização do próprio repertório cultural com abordagem e confecção sofisticadas e extremamente bem feitas. Para isso, segundo ela, há de ter talento e boas escolas de moda.

Quando questionado sobre o preconceito contra a valorização do caráter regional na moda, Ronaldo Fraga cita um de seus escritores preferidos e também aborda a necessidade da fusão  cultural (local X geral) e temporal (tradição X modernidade). "Mário de Andrade já batia contra isso nos anos 20, quando ele falava que não dá para ignorar o país, uma cultura do país. O que foi a semana de arte moderna? Foi uma semana de arte provinciana, paulistana."

*A jornalista viajou a convite da organização do Minas Trend Preview